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Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga
Educação
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Preparar a educação pós-pandemia

A realidade futura precisará de pessoas com outras habilidades e competências porque os problemas e desafios serão diferentes

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 ago 2020, 17h45 - Publicado em 6 ago 2020, 19h21

Até aqui sabemos que o mundo já mudou, mas ainda não é possível saber como vai ficar. Mesmo assim dá para perceber que o futuro que vem aí não é o que esperávamos.

No nosso imaginário, compartilharíamos a realidade futura com muitos robôs, programados para o bem e para o mal, a ajudar nos serviços cotidianos ou a espionar e atacar inimigos, com carros voadores, viagens interplanetárias e viagens no tempo, e também ETs, chips no cérebro, órgãos biônicos e outros apetrechos megatecnológicos.

 Mas um vírus invisível ultrapassou o cenário da literatura e do cinema. Ele chegou antes das geringonças que aguardávamos (e ainda aguardamos) e virou nossa vida de cabeça para baixo. Nem é considerado um ser vivo e, no entanto, conseguiu transformar nossa realidade, nos botar dentro de casa, a viver um dia de cada vez, enquanto não chegam remédios e/ou vacinas que nos concedam o alento de um futuro menos incerto.

 A transformação da escola em poucos dias, com todos os segmentos transportados para o mundo virtual, desestabilizou a rotina a que estávamos acostumados. Não apenas as crianças deixaram de frequentar o prédio físico da escola, mas os professores precisaram repensar a relação ensino-aprendizagem. As diferenças entre uma aula virtual e uma aula presencial implicaram refletir profundamente sobre, afinal, o que é uma aula. A aula virtual induz a usar experiências práticas, inovadoras e atraentes, que desenvolvam habilidades físicas, cognitivas, sociais, criativas e emocionais, com o objetivo de atrair o aluno para a aprendizagem. Mesmo no caso de retorno às aulas presenciais, a integração da criatividade, do jogo, dos desafios e brincadeiras, dentro e fora da sala de aula, deverá continuar para que se proporcionem experiências que desenvolvam um pensamento flexível e abrangente, que levem crianças e jovens a se mobilizarem, a resolverem problemas, a tentarem coisas novas, errarem e tentarem novamente. A aprendizagem deve ser ativa e provocadora e não passiva e alheada.

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Segundo o diretor da Fundação LEGO, John Goodwin, haverá uma mudança radical nos sistemas de ensino porque a sociedade terá necessidade de pessoas preparadas para enfrentar a complexidade dos problemas e desafios que surgirão. Os alunos precisarão desenvolver habilidades e competências para lidar com essa nova realidade.

Existe uma grande dificuldade em conceber um modelo de escola que não seja o da transmissão de conteúdos, da aula expositiva. E é difícil imaginar o que, de fato, os alunos precisarão aprender para a vida no mundo futuro. Goodwin considera que o que vai permitir o distanciamento do modelo clássico transmissivo, baseado no ensino, será investigar a aprendizagem, estudar como as pessoas aprendem. O foco se desloca do ensino para a aprendizagem, do professor para o aluno. O professor continua com a função primordial de orientar, apoiar e incentivar o aluno à reflexão, sempre problematizando os temas. O aluno se torna o protagonista da própria aprendizagem, investiga, questiona, discute e conta com os colegas para resolver problemas e recorre ao professor para desenvolver seu trabalho, suas metas e objetivos.

Criatividade, pensamento crítico e habilidades sócio emocionais constarão nos planos de aula dos educadores, junto com os saberes convencionais. As avaliações terão como objetivo qualificar a progressão de capacidades, com a participação do aprendiz.

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A escola, mesmo que mude muito, mesmo que tome outras formas e funções, continuará sendo o lugar onde as novas gerações se encontram e socializam num preparo para a vida adulta. Enquanto esperamos poder vislumbrar um quadro mais definido do que será o mundo pós-pandemia, podemos começar a imaginar uma escola diferente, a partir de uma matriz geral, não com base nos conteúdos especificamente, mas com eles servindo de base para o desenvolvimento da agilidade do pensamento, da reflexão lúcida e do interesse motivador das novas gerações. Problemas éticos devem estar incluídos na educação, além dos conhecimentos necessários para a vida na sociedade a que se pertence. Segundo Hannah Arendt, o pensamento é uma atividade do mundo, que pode contribuir para a nossa capacidade de distinguir o certo do errado. Saber pensar é fundamento para uma vida relevante e a construção moral é inseparável da construção de conhecimento.

O objetivo da educação é a construção da autonomia. O sujeito autônomo age com liberdade, conforme a própria inclinação; escolhe a ação baseado nos conhecimentos e na moral que construiu, mas nunca perde de vista o seu pertencimento a um grupo, o que o torna responsável pelas consequências de suas ações. Uma educação para a autonomia implica promover, desde cedo, discussões e questionamentos entre os pares, com problemas reais, interpretando a realidade de modo amplo e transdisciplinar

.A pandemia obrigou a escola a procurar outras formas de educar e de compreender a aprendizagem. Apressou o empenho em concretizar a mudança na forma de atuar que se sabia necessária, desde o século passado. A aprendizagem pós-pandemia está sendo ensaiada agora e logo vai estrear a educação para o século 21.

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