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Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga
Educação
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Por que proibir livros?

Livros devem ser adequados à faixa de idade dos alunos, o que é muito diferente de censurar

Por Patricia Lins e Silva
Atualizado em 26 fev 2020, 12h42 - Publicado em 26 fev 2020, 12h39

Quando os livros adotados na escola não são adequados a uma faixa de idade, indicam-se outros. Livros devem ser adequados às faixas de idade dos alunos e professores e escolas estão sempre atentos às escolhas que fazem e são abertos a críticas e sugestões de pais, alunos e amigos. Adequar à faixa de idade é muito diferente de censurar, proibir, tirar das bibliotecas das escolas, fingir que não existe, numa ação tola e arcaica.

Quando as famílias reclamam dos livros adotados, em geral, é porque têm palavrões ou descrevem cenas de sexo, drogas, racismo, violência, religião. Mais recentemente, aparecem queixas e pedidos de omissão dos temas de bruxaria e magia e, também, histórias com feiticeiras que tanto encantam as crianças. Até os personagens de nosso folclore, saci, cuca, lobisomem e outros, junto com eventos culturais, como carnaval e festas juninas, são considerados ofensivos por alguns, numa ampliação de preconceitos culturais e religiosos. É uma pena impedir que as crianças tenham acesso a uma parte de sua cultura. O país sai perdendo, certamente.

Será que a mitologia e as lendas do Rei Artur, com suas referências à magia, serão banidas? E a literatura medieval que pressupõe a existência de santos? Macbeth fala de assassinatos e bruxas. Shakespeare será expurgado? É impensável essa insensatez e surpreende a pouca confiança na capacidade de pensar das crianças e jovens. Qual é a intenção disso? Qual será o limite desses arbítrios?

O livro Fahrenheit 451 (que se tornou um filme), de Ray Bradbury, descreve um futuro em que todos os livros são queimados porque decidiu-se que o conhecimento traz angústia e dor, e que a ignorância cria um estado de apatia alheado dos problemas da realidade.

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Censurar livros era um tema ultrapassado, que voltou a assombrar desde a publicação, na imprensa, de uma lista de livros proibidos e a serem retirados das escolas num dos Estados brasileiros. Para espanto de muitos, a lista incluía clássicos da literatura brasileira, como Macunaíma, de Mário de Andrade, e Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, entre outros. A tentativa logo lembrou um passado nem tão longínquo, em que as casas das pessoas eram invadidas e se apreendiam livros e levavam até, por exemplo, o romance O Vermelho e o Negro, um clássico com tema psicológico, do escritor francês Stendhal. À época, a palavra vermelho era considerada um sinal de ameaça e muita bobagem foi feita em nome dessa significação. Passaram-se anos, mas permanece a lembrança do ridículo absurdo de recolher livros.

Os livros da tal lista, afinal, não foram censurados. Mas bastou o zum-zum para que se instalasse uma espécie de autocensura, algumas escolas restringindo a escolha dos livros a temas não polêmicos, que não façam alusão aos assuntos rejeitados – ou temidos. É mais seguro adotar livros sem controvérsia, mesmo que menos interessantes para as crianças. Uma pena porque é justamente um momento da vida em que se desperta o desejo de ler e quanto mais atraente e cativante o livro, melhor.

Não há necessidade nenhuma de vigiar livros adotados porque o ambiente escolar costuma ser sensato e indica livros apropriados para cada faixa etária.

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Afinal, o que se teme quando se censura um livro? O próprio livro, a leitura dele, quem o lê? Quando surge a ameaça de censurar livros pode-se ter certeza de que existe o desejo de manter alguém na ignorância.

Um país só cresce quando existe investimento em educação, não apenas de verbas – necessárias, claro – mas da vontade do país de ver as próximas gerações interpretando bem a realidade e encontrando soluções para os desafios que surgem na sociedade.

Educação – e ler é parte fundamental dela – não é para ser temida. Educação – e ler é parte fundamental dela – é para ser semeada, difundida e espalhada.

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