O valente espera-maré
Também conhecido como espia-maré, siri branco ou caranguejo-fantasma, o pobre crustáceo ficou encurralado sob meu guarda-sol, na praia do Forno, em Búzios. Criatura imprestável para o cardápio humano, esse crustáceo branco e quase transparente (razão para o nome de caranguejo-fantasma) habita toda a costa do país. Não se iluda com seu físico mirradinho. Ele é valente […]
Também conhecido como espia-maré, siri branco ou caranguejo-fantasma, o pobre crustáceo ficou encurralado sob meu guarda-sol, na praia do Forno, em Búzios. Criatura imprestável para o cardápio humano, esse crustáceo branco e quase transparente (razão para o nome de caranguejo-fantasma) habita toda a costa do país. Não se iluda com seu físico mirradinho. Ele é valente como era minha mãe. Enfrenta com suas puãs poderosas o gigante de duas pernas que dele se aproxima. Na primeira folga, corre de volta à sua toca, cavada na areia, acima da linha da maré, ou se entrincheira nas ondas do mar.
Esse simpático visitante me fez lembrar da travessura que tramamos nas férias gozadas no litoral norte fluminense. A casa do tio Laerte, na praia de Guaxindiba, em São Francisco do Itabapoana, era pé na areia. Uma vivenda simples, de chão rústico e sem forro no telhado, onde passei bons verões da minha mocidade. Um palácio de felicidade. Certa vez, com a casa lotada de primos, quatro ou cinco por quarto, juntamos num balde uma dezena de espera-marés. À noite, quando cessaram as conversas de travesseiro no quarto das meninas, soltamos os bichos no chão da casa. A batucada indefectível de meia centena de patinhas se esgueirando pelos cantos foi logo decifrada pelas primas, que fizeram um escarcéu e fugiram pela janela. Bons tempos.
(Foto: Julio Cesar Cardoso de Barros)