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Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman
Psiquiatria
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Terceira idade: “A vida parou um ano”

Pandemia sequestrou o tempo, bem mais precioso dos idosos

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 4 nov 2020, 12h12 - Publicado em 4 nov 2020, 08h56

Em diferentes graus e formas, a pandemia nos atingiu a todos. Foi um inesperado revés mundial que forçou o adiamento de planos, viagens, comemorações e projetos. Mas de todas as faixas etárias, a mais sacrificada foi a terceira idade. Imediatamente associados ao Covid-19, os idosos começaram a morrer em números espantoso na Itália, logo no começo da pandemia. Não tardou muito para que isso se repetisse em outros países do mundo. E aqui no Brasil não foi diferente. Em agosto, quando o país atingiu a trágica marca de 100 mil mortes por Covid-19, 75% era de idosos.

No entanto, para além dos mortos, a doença atingiu também os idosos que se preservaram para permanecer vivos. Em recente entrevista, a atriz Susana Vieira, uma das mais ativas da nossa televisão, afirmou que chegou a ficar deprimida por não ter o que fazer. “Nunca vim à piscina na pandemia porque eu estava deprimida. Não era uma depressão de tomar remédio, era uma depressão intelectual, porque a vida parou um ano. O tempo virou nada, os meus dias são nada. É como se eu não estivesse vivendo. Mas o que me deixou deprimida foi o fato de a terceira idade estar condenada à morte pelos próprios empregos”, afirmou a atriz de 78 anos, em uma live recente.

A fala de Susana Vieira aponta para diversos aspectos de como a Covid-19 atinge a terceira idade não apenas fisicamente, mas também mentalmente. No Brasil, um grande número de idosos está em situação de vulnerabilidade e a pandemia agravou esse cenário. Os que tem emprego e continuam saindo para trabalhar, se expõem ao novo vírus ainda pouco conhecido. Quanto aos idosos que perderam seus empregos ou que já estavam desempregados, dificilmente serão realocados enquanto a doença for um risco real à saúde.

Em se tratando de saúde mental, fatores como o isolamento de familiares e amigos e a maior dificuldade no uso de tecnologias foram agravantes de quadros de solidão, medo, ansiedade e depressão, como relata a atriz Susana Vieira. Toda uma geração cheia de vitalidade e capacidade de realização se viu obrigada a se trancar em casa.

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O importante neste momento é tentar manter uma rotina saudável em um ano em que todos tiveram suas rotinas alteradas: alimentação equilibrada, prática de exercícios regulares mesmo que em casa e visitas regulares aos médicos – não ir a consultas por medo de contrair a Covid-19 é mais perigoso do que negligenciar os tratamentos.

Em sociedades civilizadas, os idosos são valorizados como guardiões da história de um povo. São eles os responsáveis por transmitir o legado dos nossos antecessores. Uma doença que rouba o tempo produtivo de quem já não o tem em excesso é uma crueldade. Enquanto não chega a tão esperada vacina, os idosos precisam se manter fortes e, acima de tudo, sãos. A seu favor, contam com a experiência e sabedoria de décadas de vida, verdadeiro patrimônio imaterial. Não é pouco. A eles, agradecemos e pedimos um pouco mais de paciência. Vai passar.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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