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Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman
Psiquiatria
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Lugar de mulher é…

Algumas das principais porta-vozes de informação à sociedade sobre a Covid-19 são médicas, infectologistas e epidemiologistas mulheres

Por Elizabeth Carneiro
Atualizado em 25 fev 2021, 11h13 - Publicado em 25 fev 2021, 10h52

Desde que a vacinação contra a Covid-19 teve início entre os idosos, jornais e TVs tem nos apresentado histórias edificantes e inspiradoras. São milhares de pessoas, brasileiras ou estrangeiras, que já passaram dos 90 anos, sobreviveram às guerras e conflitos da segunda metade do século XX e mostraram disposição, lucidez e clareza para tomarem a vacina. Como esquecer de Sir Tom Moore, capitão de 100 anos de idade que levantou mais de 200 milhões de reais para o sistema de saúde inglês e veio a falecer pouco tempo depois?

Mas dentre os muitos personagens fascinantes que a imprensa tem nos mostrado, me chama atenção em especial as mulheres. Elas não são heroínas de guerra. Não participaram de revoluções. Não participaram de descobertas científicas marcantes. E não fizeram nada disso por absoluto impedimento social.

As senhoras entre 90 e 100 anos que hoje vão tomar vacina contra a Covi-19, em sua maioria, dedicaram suas vidas ao lar e à família, não apenas por gosto, mas por falta de opção. Por trás da máscara de cada de avó ou bisavó na fila da vacinação estão matriarcas forçadas a anularem seus talentos natos por imposição de uma sociedade machista. Atendendo a essa lógica, quantas potências femininas foram perdidas? Quantas mulheres cozinhavam ou cantavam ou costuravam brilhantemente nos anos 40, 50 ou 60 e tiveram por testemunha de seu talento apenas o marido e os filhos? Quantas chefs, cantoras ou estilistas o mundo perdeu por uma castração social? Sem falar nas médicas, advogadas, engenheiras…

Tudo isso me vem à cabeça neste momento em que algumas das principais porta-vozes de informação à sociedade sobre a Covid-19 são médicas, infectologistas e epidemiologistas mulheres: Margareth Dalcolmo, Natalia Pasternak, Carla Domingues e tantas outras colegas.  

Corroborando o espírito do nosso tempo que não tolera mais a diminuição da capacidade feminina, Seiko Hashimoto acaba de assumir a presidência do Comitê Organizador das Olimpíadas de Tóquio, depois de comentários machistas de Yoshiro Mori, seu antecessor. Segundo ele, “as mulheres falam demais em reuniões” e “são irritantes”, mas fez a ressalva de que as que trabalham no Comitê “sabem ficar em seu lugar”. Foi o suficiente para uma onda mundial de protestos. Mulheres de todos os partidos japoneses usaram roupas e rosas brancas, em referência ao movimento sufragista ocorrido nos Estados Unidos há exatamente um século e que finalmente garantiu às mulheres o direto ao voto.

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Semana passada, Ngozi Okonjo-Iweala foi eleita a primeira mulher a liderar a Organização Mundial do Comercio (OMC). A despeito de todo o preconceito que possa cercar uma africana de 66 anos em um dos principais centros de discussão mundial da economia, Ngozi está lá por sua gigantesca capacidade intelectual: estudou Economia em Harvard, fez pós-doutorado pelo MIT e esteve à frente do Banco Mundial por 25 anos, supervisionando um portfolio de 81 bilhões de dólares.

Lugar de mulher não é mais na cozinha. A não ser que ela assim o queira. Lugar de mulher é onde ela quiser. Que a pandemia de Covid-19 seja lembrada no futuro como a época em que as mulheres não apenas ocupavam, definitivamente, todos os espaços a que tem direito, mas o fizeram com grandeza, sensibilidade e competência.

Elizabeth Carneiro é psicóloga supervisora do Setor de Dependência Química e Outros Transtornos do Impulso da Santa Casa do Rio, especialista em Psicoterapia Breve e Terapia Familiar Sistêmica, diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química e treinadora oficial pela Universidade do Novo México em Entrevista Motivacional.

 

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