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Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman
Psiquiatria
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Estamos formando uma geração de dependentes de telas e internet?

A importância de impor limites aos nativos digitais, crianças e adolescentes que crescem acostumados a celulares, tablets e computadores

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 1 set 2020, 10h12 - Publicado em 31 ago 2020, 21h13

Quem foi criança entre os anos 60 até o começo dos anos 90, teve na televisão o seu grande entretenimento de massa. Não à toa, ganhou a alcunha de “babá eletrônica”. Foi diante dela que gerações e gerações de brasileiros cresceram fascinados com “Vila Sésamo”, “Sítio do Picapau Amarelo”, “Xou da Xuxa” e tantos outros clássicos que povoaram o imaginário infantil.

Mas neste começo de século XX, a televisão viu-se obrigada a dividir espaço com outras telas: do computador, do tablet, do celular. Nasceu assim uma geração de nativos digitais, com enorme intimidade com gadgets eletrônicos. Os programas do aparelho que reinava soberano no centro da sala passaram a ser assistidos em qualquer horário, podendo ser interrompido ou repetido à vontade, a partir de um simples toque na tela.

Pesquisa divulgada em junho de 2020 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil traz dados esclarecedores. Cerca de 89% das crianças e jovens com idades entre 9 e 17 anos são usuários de internet. Este percentual é mais alto do que a média da população geral conectada, que está em torno de 70%. Isso comprova uma impressão generalizada: crianças e adolescentes são um público com amplo acesso à rede.

A pesquisa apontou as atividades realizadas pela faixa etária de 9 a 17 anos na internet. A maior parte dessa população faz uso da internet para entretenimento, seja assistindo vídeos, plataformas de streaming ou ouvindo música, por exemplo, representando 83% dos entrevistados. Os trabalhos escolares ocupam a segunda posição, com 76% e, em seguida, as redes sociais, com 68%.

Na pandemia, as horas que crianças e jovens passaram diante das telas deram um salto significativo. Até mesmo aulas escolares on-line foram impostas às crianças, inclusive às de menos idade – com aproveitamento pedagógico bastante questionável. Então fica a pergunta: estamos formando uma geração de dependentes de telas e internet?

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O uso exagerado pode levar a quadros de ansiedade, depressão, déficit de atenção, dificuldade de estabelecer relações em sociedade, estímulo à sexualização precoce, adesão ao cyberbullying, baixo rendimento escolar, lesões por esforço repetitivo, exposição a conteúdo impróprio e dependência (tanto de redes sociais quanto de jogos online). Segundo a pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, cerca de 18% dos meninos afirmam ter consumido imagens ou cenas de conteúdo sexual e 21% das meninas assistiram conteúdos estéticos sensíveis, como formas de emagrecimento. Aos pais, cabe ficar alerta. Adolescentes tem direito à privacidade, mas sob a supervisão de adulto responsável. Não se trata de restringir o uso do jovem, mas de orientá-lo.

Antes da pandemia, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um cartilha sugerindo aos pais atenção redobrada com o uso adequado da tecnologia por crianças e adolescentes. Entre as instruções, está limitar o tempo de exposição a telas ao máximo de duas horas por dia para crianças com idades entre seis e 10 anos e duas a três horas por dia para adolescentes com idades entre 11 e 18 anos. Tais orientações estão mantidas, mas foram obrigadas a ceder espaço à flexibilização e ao bom senso impostos pela vida “real”, semana após semana em casa. Monitorar o tempo de exposição às telas não é – e não será – tarefa fácil. A internet foi uma aliada poderosa para entreter as crianças pequenas durante os dias de isolamento. Os adolescentes, sedentos por interação, ficaram ainda mais horas on-line. O exercício necessário agora é percorrer um “caminho de volta” à realidade que se impõe fora das telas.

Como a melhor prevenção é o diálogo, o mais recomendado é tentar criar uma rotina de convívio familiar. Fazer uma refeição ao dia, todos juntos, com os pais participando do dia a dia do filho, sem forçar a barra, com o cuidado de não transformar o momento especial em uma sequência de cobranças – notas na escola ou cortes de cabelo – mas em um momento prazeroso, de criação de afinidade.

E já que crianças e jovens aprendem pelo exemplo, fica a pergunta: quando foi a última vez que almoçou com seu filho, sentado à mesa, com a televisão e o iPad desligados, sem verificar a rede social ou o WhatsApp a cada três minutos?

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Se você ficou interessado em saber mais, “Estamos formando uma geração de dependentes de telas e internet?” é o tema da palestra online que acontecerá na página da Clínica Espaço Clif no Facebook, na próxima 4a feira, 02 de setembro, às 20h, coordenada por mim, com mediação do psiquiatra Bruno Nazar e participação da jornalista Beta Mellin, do psicólogo Cristiano Nabuco e da psicóloga Daniela Nogueira. Mais informações nas páginas da Espaço Clif no Instagram e no Facebook.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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