Imagem Blog

Manual de Sobrevivência no século XXI Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman
Psiquiatria
Continua após publicidade

Coronavírus: a razão que você precisava para (finalmente) parar de fumar

Fumar aumenta, e muito, as chances de grave adoecimento e morte em meio à pandemia

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 8 abr 2020, 12h59 - Publicado em 7 abr 2020, 14h36

Quando recebo vídeos catastróficos e sensacionalistas em grupos de WhatsApp, faço a minha parte como médica: ofereço informações científicas aos que me cercam. Estamos na época em que a ciência deve ser mais valorizada. Não apenas o conhecimento científico que previne graves adoecimentos e mortes relacionados à Covid-19, mas também aquele que pode nos proporcionar vacinas e tratamentos mais eficazes.

Pois bem, hoje venho dar uma boa notícia: se você é fumante, pode fazer mais do que ficar em casa, se não deseja morrer de coronavírus. Basta deixar de fumar.

Já sabemos há muitas décadas que o uso de cigarros está relacionado a baixa de imunidade e a diversas doenças respiratórias, como bronquite e enfisema, que são fatores de risco para o Covid-19. O que não sabíamos, e que considero de extrema relevância, é que fumar aumenta, e muito, as chances de grave adoecimento e morte em meio à pandemia.

É o que indicou um estudo publicado no Chinese Medical Journal, em pacientes com Covid-19 e hospitalizados por pneumonia, mostrando que a probabilidade de uma progressão desfavorável da doença – levando à necessidade de ventilação mecânica, UTI e até mesmo à morte – era 14 vezes maior em pessoas com histórico de tabagismo, comparativamente às não fumantes.

Continua após a publicidade

Outro estudo, ainda maior, publicado no European Respiratory Journal, acompanhou 1590 pacientes hospitalizados em vários centros médicos da China. Os especialistas analisaram a relação entre comorbidades – como diabetes, hipertensão e cardiopatia – com a evolução dos casos para os desfechos mais graves (inclusive óbito). Eles descobriram que há um aumento de 67% de chance de progressão desfavorável do caso somente pelo fato de o paciente ter fumado ao longo da vida, independente da idade, comorbidades ou das condições geralmente associadas ao tabagismo (como enfisema ou câncer, por exemplo). Para os desavisados, tenho um acréscimo: o uso de tabaco aquecido ou de cigarros eletrônicos não diminui a vulnerabilidade do indivíduo. Esses dispositivos também têm ação inflamatória.

É triste quando dados de estudos chineses começam a se comprovar em casos reais pertos de nós, aqui no Brasil. Na semana passada, uma sargento da PM, de apenas 46 anos, faleceu de Covid-19. Ela era ex-fumante.

Como se não houvesse evidências suficientes, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ressalta que o gesto de levar o cigarro à boca pode acabar transferindo o vírus para dentro do organismo, se a mão ou os dedos estiverem contaminados. Outro comportamento condenado pela OMS é o compartilhamento de utensílios para fumo, como narguilé e cigarros eletrônicos (vapers).

Continua após a publicidade

Pode-se mesmo extrapolar que, possivelmente, mais homens morram devido ao Covid-19, pois existe um maior contingente de homens fumantes. Mas essas são apenas suposições.

O fato é que muitos pacientes vêm me procurando com a ideia de parar de fumar. O momento é propício. Por mais que o isolamento e o temor da morte possam aumentar a ansiedade, eles mesmos podem ser utilizados como força propulsora para a mudança. São tantos os hábitos que reavaliamos em meio a essa pandemia, por que não mudar mais este? Se estamos em um momento em que o espírito de solidariedade está mais presente, então é hora de pedir ajuda aos amigos, à família, àqueles com quem se convive, utilizar de todos os recursos disponíveis em plataformas online em busca de apoio para vencer mais este desafio.

Talvez a pandemia tenha chegado para reduzir nossa dimensão de espaço e ampliar nossa dimensão de tempo. Quem sabe assim possamos nos curar de tantas amarras internas que não nos dávamos a oportunidade de resolver. O cigarro é mais uma delas. Afinal de contas, parar de fumar é a coisa mais importante que um fumante pode fazer por sua vida!

Continua após a publicidade

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.