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Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman
Psiquiatria
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Cancelando o cancelamento

Por trás da intenção de se fazer justiça está o perigo do “justiçamento”

Por Sabrina Presman
Atualizado em 21 ago 2020, 14h57 - Publicado em 21 ago 2020, 14h21

Os casos são inúmeros: Felipe Netto, Anitta, Drauzio Varella, Sergio Moro, Woody Allen e até figuras históricas como Princesa Isabel. Reputações de artistas, celebridades ou intelectuais que são reavaliadas da noite para o dia, pelas mais diferentes razões, e imediatamente arrastadas para o que se define como “cultura do cancelamento”. O caso mais recente é da professora Lilia Moritz Schwarcz, que em crítica ao novo trabalho da cantora Beyoncé na “Folha de São Paulo” desagradou negros e fãs da cantora e gerou ume enxurrada de críticas. Resultado: imediatamente cancelada.

A forma mais constante de prática do cancelamento consiste em deixar de seguir ou acompanhar uma pessoa em suas redes sociais, ambiente que se consolidou como profícuo para novos negócios e publicidade neste começo de século. Portanto, estar cancelado no ambiente virtual é – literalmente – um mau negócio. As redes sociais são como coreto de praças públicas onde todos tem a oportunidade de falar. Ainda estamos pouco acostumados a este exercício. Até bem pouco tempo, artistas e personalidades só se mostravam pelos olhos de um intermediário, geralmente um jornalista em uma entrevista. Agora, não mais.

Uma carta aberta, assinada por 150 artistas e intelectuais como Noam Chomsky, Margaret Atwood e Salman Rushdie, foi divulgada nos Estados Unidos condenando a “intolerância com a diferença” e a “humilhação pública e o ostracismo”. “A maneira de derrotar más ideias é pela exposição, pelo argumento e pela persuasão e não pela tentativa de silenciá-las ou apaga-las”, defenderam. Poucas horas depois, no entanto, os signatários eram alvo de ataques. A reação é o melhor exemplo da cultura de cancelamento a qual a carta justamente se opõe.

É importante pensarmos que tipo de sinal estamos dando às crianças e jovens com atitudes como o cancelamento, já tão difundido entre eles, nativos digitais. Gestos como empatia, ouvir o outro lado e exercer o entendimento são relegados a segundo plano por trás do pré-julgamento típico do afã de se fazer justiça. As consequências, invariavelmente, são “justiçamento” como punição, sem direito a defesa.

Num tempo em que cada pessoa carrega consigo uma câmera no celular, pronta para registros assumidos ou velados, estamos todos à mercê dos acontecimentos que fogem ao nosso controle. Não se trata do bom e velho, “quem não deve, não teme”. Ao contrário. É temerário que, sem autorização, alguém filme ou registre algo que, fora de contexto, possa servir para deturpar reputações. Na vida que fomos forçados a encarar nos últimos meses, quantas reuniões e aulas por Zoom participamos? Quantos profissionais se expuseram, sem saber se o que estavam falando estava sendo registrado ou até compartilhado?

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Um comercial da rede de fast food Burguer King, que circula nas redes, propõe a antecipação do Natal, num gesto que endossa a corrente que gostaria de cancelar 2020, o ano que ficamos em casa, não viajamos, não vimos os amigos e cancelamos festas de aniversários e casamentos.

Pessoalmente, acho que lucramos mais se fizermos o exercício oposto. Ao invés de cancelar 2020, façamos uma reflexão sobre o quê realmente importa na vida e o que ganhamos e perdemos neste ano. Pode ser doloroso, mas fará de 2021 um ano mais leve. O que, convenhamos, não é pouca coisa.

Sabrina Presman é psicóloga, mãe de dois filhos, especialista em Psicoterapia Breve. Divide seu tempo entre o cuidado com paciente, a gestão de saúde e desenvolvimento de liderança e educação dos filhos através da Psicologia Positiva. É diretora da Espaço Clif e vice-presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas).

 

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