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Manual de Sobrevivência no século XXI

Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Psiquiatria

Acostumando-se à própria vida

Quem sabe possamos fazer escolhas mais conscientes e saudáveis se aceitarmos que a vida vai mudar de novo

Por Sabrina Presman
Atualizado em 21 jul 2020, 11h59 - Publicado em 21 jul 2020, 08h45
Converse com seu filho para ajudá-lo a refletir sobre o que ele fazia antes da pandemia e sente falta, e o que foi bom de ser interrompido. (iStock/Reprodução)
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Há algumas semanas, quando foram divulgadas as fases de flexibilização das medidas de isolamento, cheguei em casa animada para dividir a informação com a minha filha, já que ela teve sua vida escolar, social, esportiva (e seus primeiros namorinhos) bruscamente interrompidos com a pandemia. Crente que eu estava arrasando com a notícia, fui surpreendida com uma expressão de espanto e a reposta imediata: “Mãe, eu não tô preparada para voltar à vida”, ela me disse.

Pois bem, se no início dessa confusão toda foi difícil se adaptar às mudanças e lidar com o despego e a falta de rotina, agora, para alguns será difícil, ao menos incialmente, retomá-la. É hora de se acostumar à própria vida.

Meu filho por exemplo se adaptou de tal modo à nova realidade que, há algumas semanas, sugeri que um amigo dele o fizesse companhia em casa, já que nossas famílias estavam igualmente com os mesmos cuidados. Meu filho, resignado, agradeceu e recusou a oferta. Mesmo com os shoppings abertos, os amigos no playground e pouco a pouco algumas cosias voltando à normalidade, aqui em casa parece que o “normal” agora é ficar em casa.

Estranho é pensar como era a vida antes. Exemplo simples: a mais velha treinava karatê de segunda a sábado e durante esses meses ficou parada, retomando os treinos nesta semana. Dormiu cedo! (Acho que foi a primeira vez, durante toda a quarentena…)  Ao final da aula ela me disse que estava exausta, que a aula tinha sido muito cansativa. Eu respondi: você acordava às 5h30 da manhã, ia para a escola às 6h30, emendava com vôlei, dever de casa, curso de inglês, personal trainer ou karatê, descia pra “resenha” com a galera e só não assumia mais compromissos porque eu não deixava. E agora, na “nova vida”, uma única aula leva à exaustão?

Minha filha, que eu tinha certeza que era um ET na vida pré-pandemia, tamanha a carga de compromissos que só um alien aguentaria, hoje só acorda faltando poucos minutos para a aula começar, sem tirar o pijama e sem sair da cama. Quando as aulas acabam, ela se teletransporta para o almoço na sala, ainda em pijamas, e reveza entre séries, livros e telefonemas, sem se preocupar se o look está bom (aliás, às vezes ela se arruma só para não perder o costume).

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E agora, se de fato a vida for voltando ao normal, como trabalhar as angústias e incertezas desse período tão longo de limbo dos nossos filhos? Com todas as dúvidas sobre quando voltam às aulas e se estamos preparados como sociedade para seguir com o afrouxamento das medidas de isolamento, pergunte se os seus filhos estão preparados e como estão lidando com essa questão.

Às vezes a gente esquece de perguntar ou não se dá conta, porque parte do pressuposto que eles querem a vida deles de volta. Mas o que fazer com a vida deles atual? Será que também não tem várias novas rotinas que eles se apegaram? Os pais dentro de casa, a liberação do uso de equipamentos tecnológicos por mais tempo que era permitido de costume, a diminuição da ansiedade sobre aparência, o medo de ter que correr atrás  do conteúdo que eles não prestaram tanta atenção online são algumas questões que podem passar nas suas mentes inquietas.

Ainda é incerto o caminho da liberação das atividade e o que vai acontecer com o número de casos. Talvez alguns achem essa reflexão precoce, mas é exatamente agora que precisamos parar, ao invés de focar nas estatísticas da TV para saber como será nossa vida daqui pra frente.

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Observe, converse e esteja junto do seu filho para entender a percepção dele sobre tudo isso e, quem sabe, ajudá-lo a fazer uma reflexão sobre o que ele fazia antes da pandemia e sente falta, e o que foi bom de ser interrompido, além de descobrir o que o período de isolamento deixará de positivo.

Se fomos atropelados, de um dia para o outro, com essa avalanche de restrições, quem sabe agora a gente possa fazer escolhas mais conscientes e saudáveis, se nos permitirmos aceitar que as coisas vão mudar de novo e não precisam ser exatamente como eram antes e nem da forma que estão sendo agora.

Eu quero fazer escolhas conscientes do que essa experiência toda ensinou sobre incorporar novidades no cotidiano. E você? O que você levará deste período de quarentena para a próxima etapa da vida?

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Sabrina Presman é psicóloga, mãe de dois filhos, especialista em Psicoterapia Breve. Divide seu tempo entre o cuidado com paciente, a gestão de saúde e desenvolvimento de liderança e educação dos filhos através da Psicologia Positiva. É diretora da Espaço Clif e vice-presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas).

 

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