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Blog do novelista Manoel Carlos
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Isso é outra coisa

— Eu torço para o Flamengo! — Eu, para o Fluminense! — Eu, para a seleção. — Ah, a seleção não vale. É outra coisa. É dessa maneira simplista que muitas vezes afastamos os assuntos que nos incomodam. Graças a Deus, se Deus quiser, vai com Deus, Deus lhe pague, Deus ajude, só Deus sabe… […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 17h16 - Publicado em 17 dez 2016, 00h00

LÉO MARTINS

— Eu torço para o Flamengo!

— Eu, para o Fluminense!

— Eu, para a seleção.

— Ah, a seleção não vale. É outra coisa.

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É dessa maneira simplista que muitas vezes afastamos os assuntos que nos incomodam.

Graças a Deus, se Deus quiser, vai com Deus, Deus lhe pague, Deus ajude, só Deus sabe… Enfim: Deus tem grande presença no nosso vocabulário cotidiano. É o protagonista da nossa história, de todas as histórias, ainda que ser humano algum tenha deixado testemunho ao alcance de toda a humanidade.

— Que bobagem é essa? Os santos testemunharam!

— Ah, santo não vale!

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Mesmo que você se diga ateu ou, mais prudentemente, agnóstico, você terá que se render.

A propósito, meu pai dizia que agnóstico é o ateu ou o crente sem coragem. Aquele que fica em cima do muro. Meu tio Álvaro, que era divertido e meio cínico, dizia achar natural confessar-se crente em Deus na hora da morte:

— É normal garantir-se com a possibilidade do paraíso diante das portas abertas do inferno. Se você está morrendo, o que custa acreditar? O máximo que pode acontecer é você se decepcionar e, ao invés de subir, descer. E achar que se tivesse aguentado um pouco mais, não precisaria dar esse vexame.

— Gente, vocês viram o Felipe? Aguentou até o fim. Manteve sua inabalável falta de fé!

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— Seria muito bom saber o que ele está pensando agora diante da revelação.

— Mas existe um reajuste no Juízo Final, ocasião em que seremos todos reavaliados. Uma espécie de segunda época.

— Como você sabe?

E assim, de suposição em suposição, e de muitas perguntas sem resposta, vamos vivendo à procura de Deus. Mas por onde começar? Que porta devemos abrir?

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Eu estava pensando nessa proximidade entre nós e a divindade suprema, a quem tratamos com intimidade respeitosa. Temos que reconhecer que nos dias de hoje não está fácil para ninguém, nem para Ele. E, diante das atrocidades mundo afora, onde até as crianças são massacradas impiedosamente, desafiamos o Todo-Poderoso imitando Cazuza: “Deus, mostra a tua cara!”.

Esse desafio diário nos leva também a indagar, nas palavras do escritor Julien Green: “Como amar até morrer de amor por alguém de quem nunca vimos o rosto nem ouvimos a voz?”.

Algumas vezes temos um pé atrás com Deus. Um preconceito, como se fosse ingenuidade acreditar numa entidade divina, um maestro regendo a humanidade. Quantas vezes fizemos o sinal da cruz escondendo o gesto e baixando a voz. Será que, mesmo assim, ele nos vê e nos ouve? O poeta Castro Alves, no início do século XIX, perguntava, vendo o sofrimento dos escravos:

“Deus, ó Deus, onde estás
Que não respondes?
Em que mundo, em que estrela
Tu te escondes,
Embuçado nos céus?”

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— Temos que acreditar que um dia teremos a resposta.

— E se não tivermos?

— Deus me livre! Nem posso pensar!

— Eu peço tudo a Santa Rita de Cássia!

— Eu, a São Francisco de Assis!

— Eu, a Deus!

— Ah, não vale! Deus é outra coisa!

Mas que coisa é Deus, se não todas as coisas?

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