Pet shops encaram pandemia
Rex, Billy, Apolo e Ártemis fazem parte de um segmento que movimenta cerca de R$ 34 bi por ano
Em prol da minha sanidade, parei de contar os dias de confinamento. Torço muito para que a pandemia termine o quanto antes e que as coisas voltem a um ritmo normal. Será um “novo normal”, com grandes mudanças, inclusive na área econômica, em que determinadas atividades perderão espaço e muitos negócios não resistirão à crise. Alguns setores, porém, parecem mais imunes ao novo coronavírus.
Rex é um amigo imaginário. Eu costumava levá-lo pra dar uma volta no quarteirão, a pretexto de sair de casa no inicinho do isolamento social. Afinal, Rex precisava fazer suas necessidades e dar uma caminhada ao ar livre, porque ninguém é de ferro. Quando meus queridos vizinhos trouxeram Billy de São Paulo para passar a quarentena no Rio de Janeiro, abandonei o fictício Rex. Billy, um golden retriever de carne, osso e pelo maravilhoso, é um ótimo habeas corpus.
Brincadeiras à parte, desde o começo da vigência das medidas restritivas à circulação no Rio, percebo uma boa vontade coletiva com os animais domésticos. Humanos em casa, cães na rua. A permissão de funcionamento das pet shops é prova da relevância desses companheiros em nossas vidas.
Números do segmento impressionam. Segundo informações do Instituto Pet Brasil referentes a 2018, o mercado pet brasileiro é o segundo maior do mundo, atrás apenas dos EUA. O Brasil tem 139 milhões de animais de estimação, entre os quais 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos – lembrando que somos cerca de 211 milhões de brasileiros, de acordo com o IBGE.
O faturamento do setor, também relativo a 2018, foi de R$ 34,4 bilhões, com tendência de alta. Naquele ano, havia 31.640 estabelecimentos desse varejo, a maioria (25.195) lojas de pequeno porte, de vizinhança. Ao todo, o comércio pet gerou cerca de 2 milhões de empregos no país.
Sou a humana de estimação de Ártemis e Apolo, dois gatos lindos que me deixam morar com eles. Minha despesa com areia higiênica e ração gira em torno de R$ 150 mensais. Já meus vizinhos gastam mais de R$ 400 por mês com o grandão do Billy, isso sem incluir os banhos.
Quem cria animais em casa nunca considerou, em situações normais, que o dinheiro direcionado a eles fosse um item supérfluo do orçamento. Em meio à pandemia, nada muda nesse sentido. Ou melhor, parece que a importância dos bichinhos tende a crescer, conforme entidades ligadas ao setor explicam às autoridades sanitárias em carta aberta divulgada no blog do Instituto Pet Brasil, em função da Covid-19. A transcrição de um trecho, abaixo, dá o recado:
“(…) muitas pessoas precisam de apoio psicológico, tornando os animais de estimação ainda mais essenciais na preservação da saúde mental. Alguns membros da sociedade, como idosos e pessoas solteiras, consideram apenas o pet como sua família. O vínculo com o animal é terapêutico, conforme atestam estudos científicos e, neste momento, é fundamental para o ser humano”.
O comunicado, entre outros aspectos, reforça as medidas de higienização que vêm sendo adotadas nas pet shops e defende que as lojas sejam mantidas abertas. Por fim, é categórico ao classificar os pets: são “membros essenciais da sociedade”. Alguém duvida?