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Por Luciana Brafman, jornalista e professora da PUC-Rio
Economia, finanças pessoais e comportamento financeiro até pra quem não gosta
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Em tempos de isolamento social estamos consumindo apenas o essencial?

Pandemia do coronavírus nos faz refletir sobre valor dos bens e serviços

Por Luciana Brafman
Atualizado em 16 abr 2020, 10h25 - Publicado em 15 abr 2020, 19h59

Circula nas redes o depoimento emocionante de um senhor italiano de 93 anos que, recuperado da Covid-19, é requisitado a pagar ao hospital 500 euros por uma diária do respirador que lhe salvou a vida. Ele chora, mas não é pelo dinheiro. É porque se dá conta do longo tempo em que vem respirando de graça o “ar de Deus”, com quem tem, portanto, uma “dívida milionária”.

Numa das primeiras aulas do curso de Economia, a gente aprende que valor e preço são coisas distintas. Uma das variáveis que define o preço de um bem ou serviço é sua escassez. Quanto maior a escassez, maior o preço. É por isso que o “ar de Deus”, normalmente disponível para todos, não tem preço, embora tenha um enorme valor. O maior de todos.

Outra mensagem, esta irônica, que também circula nos grupos de WhatsApp e afins, emoldura uma frase crítica ao capitalismo: “Its funny how economy is about to collapse because people are only buying what they need”. Traduzindo: “É engraçado como a economia está prestes a entrar em colapso porque as pessoas estão comprando apenas aquilo de que precisam”.

Agora, traduzindo um pouco mais: isso não é verdade – até porque as compras de supermercado, consideradas essenciais, têm arroz, feijão e álcool em gel convivendo, lado a lado, com cerveja, batata frita e chocolate.

A ideia aqui é entender o conceito de essencial, sem preconceitos ou pré-julgamentos. Seja nas compras de supermercado – templos de consumo permitidos – seja nas compras reprimidas de vestuário, lazer, turismo, artigos esportivos, itens de festa e decoração etc, o essencial é subjetivo.

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A educação para as crianças, na Idade Média, não era considerada essencial. A cesta básica do Brasil é diferente da cesta básica do México. Gastos com internet não tinham peso no índice de inflação até pouquíssimo tempo atrás. Já hoje…

O que quero dizer é que bens essenciais variam no tempo e no espaço. E, claro, de indivíduo para indivíduo. Além do mais, o super essencial mesmo é o ar gratuito que aquele senhor italiano respira por 93 anos. Um ar que nunca movimentou um centavo da economia, pois sequer tem preço…

Num sentido restrito e usual, essencial na vida seria apenas aquilo que nos dá saúde, que nos permite a sobrevivência. Bem, mas prazer e felicidade são ótimas fontes de saúde, certo? Só que, na economia, muitas coisas que nos dão prazer e felicidade são vistas como não essenciais: um show de música, um jantar em família no restaurante do bairro, uma ida ao cinema com os filhos, uma tarde no Maracanã, um tênis de corrida, um vestido, um colar, um buquê de flores e por aí vai…

Claro que este freio de arrumação do coronavírus pode ser útil para que cada um de nós repense e avalie o que é essencial no consumo. Mas daí a dizer que a economia está prestes a colapsar porque estamos consumindo apenas o essencial é uma falácia. O fato é que o isolamento social, necessário neste momento, nos impede justamente de consumir muitos desses itens que nos são tão essenciais – como aquele chope com os amigos num fim de tarde qualquer do Rio de Janeiro.

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