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Por Luciana Brafman, jornalista e professora da PUC-Rio
Economia, finanças pessoais e comportamento financeiro até pra quem não gosta
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Por que a inflação é uma preocupação onipresente em cenários pós-pandemia?

No Brasil, preços de combustíveis e alimentos têm sido os vilões; alta das taxas de juros surge como remédio, mas não pode virar veneno

Por Luciana Brafman
23 mar 2021, 11h53

Novos valores de vida, revoltas anticapitalistas, muitos abraços: o que não faltam são previsões e listas de tendências para o mundo pós-pandemia Covid-19. No que tange à economia, é assim também. Pipocam, todos os dias, projeções, análises, especulações, intuições e tentativas de adivinhação acerca dos cenários macro e microeconômicos. Tem joio e tem trigo, mas traçar cenários sempre foi – e ainda é – parte essencial do exercício da Economia. Pessimistas ou otimistas, nossas expectativas quanto ao futuro direcionam nossas decisões no presente. E as próprias apostas acabam também influenciando e interferindo no futuro. Como profecias autorrealizáveis.

Se há um assunto econômico onipresente hoje, esse assunto é a inflação. Nas esferas pessoal, nacional ou global, a alta dos preços é um dos aspectos que mais tem preocupado economistas e governantes. Aqui no Brasil, os combustíveis são os vilões da vez. Eles respondem pela metade da alta acumulada de 1,1% do indicador oficial da inflação, o IPCA, em janeiro e fevereiro deste ano. Quando aumentam os preços de gasolina, etanol ou diesel, há um efeito cascata, já que a alta gera impacto, por exemplo, no transporte de produtos básicos, como alimentos.

Os alimentos, por sua vez, foram os grandes vilões do ano passado. A inflação oficial fechou 2020 em 4,52%, mas os alimentos registraram 14%. Isso significa que itens essenciais, como o arroz, o óleo de soja, entre outros, pesaram – e muito – no bolso do brasileiro.

São diversas as causas de um processo inflacionário, causas que se enroscam e se retroalimentam em uma espiral difícil de deter, quando ganha tração. Como inflação tem memória, nem é bom lembrar da década de 1980, quando os preços chegavam a subir 80% ao mês (mês!), em um período estruturalmente hiperinflacionário.

Há, claro, altas pontuais, movimentos inflacionários conjunturais, mais fáceis de combater. Com a pandemia, o necessário auxílio emergencial, que fez circular dinheiro para a compra de bens essenciais (comida) pelos mais vulneráveis, e o aumento do preço dos alimentos no cenário internacional foram dois dos fatores que explicam a demanda e a pressão inflacionária nesse segmento. E há ainda o câmbio (dólar), variável importante e difícil de controlar nessa equação. Para o médio e longo prazo, quando a demanda reprimida voltar com força em vários setores, as reformas, a infraestrutura e a confiança na economia são fundamentais no sentido do controle da inflação.

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Atento a este cenário, o Banco Central, através de seu Comitê de Política Monetária (Copom), decidiu aumentar, agora em março, em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, que passou para 2,75% ao ano. Os juros são um remédio contra a inflação. Mas não podem virar um veneno na economia. Se, por um lado, sua alta restringe crédito e consumo, segurando a inflação, por outro, aumenta as dívidas e torna menos atrativos os investimentos produtivos, que geram empregos e riqueza no país. Antes de começarem a trilhar sua longa trajetória de queda, que durou seis anos, os juros no Brasil estavam em surreais 14,25% ao ano (julho de 2015).

A inflação não é um problema exclusivo do Brasil neste momento. Os pacotes de estímulo à economia em vários países do mundo levantam perguntas sobre como e em que momento os governos devem se preocupar com a inflação e ajustar suas políticas monetárias. Não é tarefa simples. Entre as economias ditas emergentes, Turquia e Rússia também elevaram seus juros recentemente. Com outra perspectiva, o Fed, banco central americano, informou que não vai elevar os juros nos Estados Unidos até 2023.

A economia funciona como uma engrenagem, um motor que precisa sempre estar calibrado e sincronizado, de acordo com as condições em que opera. Nossas decisões e expectativas fazem parte desse processo, que inclui política monetária, bem estar social, investimentos, consumo, nível de emprego, endividamento e demais variáveis. Escolhas precisam ser feitas. A inflação não aceita complacência ou negligência, pois atua tal qual um imposto invisível, cruel, sem retorno, que apenas corrói renda, reduz poder aquisitivo e prejudica a todos, mas principalmente os mais pobres, ampliando a desigualdade e as distorções socioeconômicas.

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