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Por Lelo Forti, mixologista
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Formandos virtuais: a nova geração de bartender

Cursos, workshops, palestras e uma infinidade de outras ofertas virtuais mudaram os hábitos de aprendizado no mundo. No bar também

Por Lelo Forti
Atualizado em 7 dez 2020, 14h36 - Publicado em 7 dez 2020, 14h18

Quando perguntado a um educador, seja qual for sua área de atuação, sobre como se tornar um profissional de sucesso, com certeza, uma das primeiras respostas será: ESTUDE. Em todas as áreas profissionais, o estudo vem sempre em primeiro lugar. Até aqui nada de novo, a não ser o fato que, o Covid trouxe novos hábitos e mudou o estilo da educação. Para aqueles que estavam resistentes ao consumo pela internet, seja de compras ou de ensino, a pandemia obrigou um novo olhar e uma nova reflexão. Qual a diferença entre um ensino on line, no conforto de sua casa, para a aula presencial, diária, onde requer um esforço redobrado?

Essa discussão é tema de divergências nas mais diversas áreas. No meio médico, talvez, seja a mais calorosa discussão. Praticar uma medicina virtual? Formar um médico, um cirurgião, um anestesista com aulas on line? Complexo e motivo de muitas discussões. Mas, deixemos os assuntos médicos para a quem de direito interessar e entremos no campo da coquetelaria. Desde a chegada da internet, os conteúdos virtuais estão ao alcance de todos, 24 horas por dia, quase que tudo gratuitamente. Isso é uma conquista e tanto para uma geração de novos “profissionais” de bar, que não conheceram a extrema dificuldade de estudo antes da era internauta. Livros de coquetelaria eram raros de achar, e mais raros ainda escritos em português. A esses dinossauros (a qual faço parte), coube o aprendizado autodidata, tentativa de acertos e erros e muita, mas muita força de vontade. Somado a isso, uma profissão inexistente ainda perante a sociedade e um extremo preconceito para com o profissional de bar.

Os tempos mudaram e a coisa ficou mais fácil. As dificuldades de antes deram espaço a agilidade da internet. Basta clicar no Google que o mundo se abre diante dos olhos. Uma infinidade de informações ao alcance das mãos. Sobre esta facilidade que eu me questiono todos os dias. Até onde estamos formando profissionais de bar, qualificados, extremamente entendidos sobre os assuntos que se relacionam e se convergem no balcão de um bar?

Longe de mim eu não concordar com a busca pelo conhecimento virtual. A reflexão é outra. Numa profissão, onde o contato humano é fundamental, até que ponto cursos on line são  eficazes para o conhecimento profissional? Algumas pautas, no meu entendimento, não precisam do presencial. Uma busca na internet pode esclarecer muita coisa. Uma biografia ou uma história são fáceis de pesquisar. Até aqui tudo bem. Santa internet. Meu contraponto e minhas dúvidas começam quando tudo for pela internet. Basta alguns cliques e um ou dois cursos na rede que o indivíduo já se apresenta como bartender. Anda comum isso. Acho que este comportamento pegou carona na gastronomia, onde muitos “chef’s”, nunca encostaram a barriga no fogão, assim, como muito “barman” nunca trabalhou atrás do balcão.

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Glamour

Uma geração inexperiente e impaciente está se formando e grande parte se deve a essa glamourização da profissão, e isso tem impacto direto no serviço. O candidato compra um curso virtual, assiste vídeos de como se preparar um coquetel e já está formado como bartender, ou, em muitos casos, já se diz apto a exercer uma chefia. Anda circulando currículos aos montes pelos bares, onde o candidato se descreve como chefe de bar. Simples assim. Só que não. Um adendo aqui. Nada contra as milhares de ofertas de ensino pela internet. Compra quem quer. Um balcão de bar exige muito mais que saber fazer coquetéis, de verdade, essa é a parte mais fácil. Requer disciplina, conhecimento, sabedoria, esforço físico e repetição. Isso a internet não ensina. Certas coisas, no meu entender nunca mudam. Para atender é preciso empatia e hospitalidade e isso não vende na internet, você desenvolve ao longo da carreira, assistindo aos colegas de profissão, criando intercâmbios culturais entre bartenders, pesquisando sobre o comportamento humano, conhecendo outras culturas, lendo livros, vivenciando experiências, sendo humilde e deixando que o tempo molde à carreira. Anda comum o atropelamento de etapas e a conseqüência disso tem resultado em frustração e fracasso.

Sinto falta de uma nova geração de profissionais atuantes, entendidos de seu lugar e da sua importância para o legado da profissão. São poucos os exemplos.  Preocupante os rumos que a coquetelaria nacional tem tomado. “A dificuldade une as pessoas e as facilidades afastam”. Essa é uma frase que cabe muito bem nesse contexto. Hoje encontramos muitos “mixologistas” exercendo a profissão, sem ter o preparo verdadeiramente adequado que se exige de um barman, encantando seus clientes e reproduzindo o que de melhor a profissão exige – hospitalidade.

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Muitos talentos estão sendo desperdiçados pela imaturidade e impaciência. Ou você acredita mesmo que todos os lugares que você já trabalhou só existiram pessoas malvadas no seu caminho? Enquanto isso cabe a nós quarentões, cuidar para que, aqueles que verdadeiramente querem fazer a diferença no futuro, não se percam pelo caminho. Não somos donos da verdade, mas adquirimos experiência necessária para entender a diferença entre sabedoria e conhecimento. Isso, infelizmente, só o tempo ensina.

Cheers.

 

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