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Por Ike Cruz, empresário artístico
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Estamos juntos, porém nunca estivemos tão separados

Apesar do discurso de empatia e tolerância, vemos a sociedade cada vez mais dividida e se estranhando num simples papo, nos debates ou nas redes sociais

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Atualizado em 10 jul 2020, 12h29 - Publicado em 10 jul 2020, 12h23

É inevitável, o desânimo às vezes bate forte. Não adianta ler, assistir a uma série, trocar WhatsApp com amigos, não tem jeito, tem dias bem difíceis.

Minha família, meu filho e as corridas matinais são um alento quando entro nesse carrossel de sentimentos.

No início da semana a editora da revista surgiu no Whatsapp: – me abandonou ? Nenhum artigo? 

– Pronto, pensei, me descobriram aqui nesse momento de flagelo. 

Demorou até eu absorver a ideia e me animar novamente. Entretanto, uma das causas desse desânimo foi justamente o ponto de partida pra começar.

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Estamos todos exaustos, sem grandes expectativas, vivendo um dia de cada vez e como for possível.

O mundo inteiro passa pela mesma situação de forma simultânea, uns mais outros menos, porém com medo, duvidas, paranoias e muitas limitações. 

Num primeiro momento, esse estado aflitivo e de temor pela nossa saúde faz estarmos juntos nesse sentimento de querer sair dessa ilesos ou, na pior das hipóteses, com danos remediáveis. 

Com isso, as palavras mais ouvidas hoje são: empatia, tolerância, esperança e amor. Na prática, vemos muito pouco disso. 

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Testemunho uma enormidade de “rachas” em classes que sempre pregaram a união e que “juntos somos mais fortes”. 

O ponto de táxi de onde eu moro faria inveja ao Grande Debate da CNN. Acordo cedo pra treinar, mas a discussão já está no calor do meio dia. Ninguém se entende, batem boca e cada um segue seu destino.

A classe artística que tanto propaga a importância da democracia, agora tem um seleto grupo que passou a bradar “não tenho paciência pra quem não se posiciona” ou “tem que isso, tem que aquilo”. Fora isso, as discussões e cancelamentos nas redes sociais se tornaram um must. 

Honestamente, acho que ninguém deve ser obrigado a nada que não se sinta apto, confortável e seguro pra se manifestar. Seja sobre o que o for. 

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Resultado: desunião e animosidade generalizada. De alguns anos pra cá, vi muitas amizades serem desfeitas por esses motivos. Isso me lembra aquelas picuinhas de criança: se-é-amigo-de-quem-eu-não-gosto-então-não-quero-ser-seu-amigo ou se-fala-com-fulano-não-fala-mais-comigo.

Sem contar com a turma do “compra-barulho”. Não sabe de nada (mas sempre “ouviu falar”), não se aprofunda, mas se a galera tá falando é porque está certa. Então…pau em quem não concorda com a galera!

É fácil identificar o tipo: quase sempre se acham inteligentes, engajados (não pode faltar esse termo) e respaldados. Sim, respaldados, pois raramente conseguem pensar sozinhos ou terem suas próprias opiniões, independente dos outros. Também conhecido, porém sobre outro contexto, de “efeito manada”. Talvez possa ser algum tipo de infância perdida, onde a brincadeira predileta era: – Tudo que seu mestre mandar ? Faremos todos!!! E se não fizermos ? Levaremos bolo!!!  Bolo”, nos dias de hoje, seria um cancelamento ou inimizade. 

Mesmo diante desse momento tão delicado e desolador, infelizmente, essa desarmonia está presente em praticamente todas as esferas, da política ao futebol. Ninguém se entende e todos se degladiam. 

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Será que é tão difícil conceber que uma ideia oposta a nossa não é necessariamente uma afronta? Que discordar de uma opinião não é desgostar de uma pessoa? Que uma divergência pode ser riqueza de aprendizado? 

Aliás, gostaria de abrir um parênteses quanto ao quadro da CNN que mencionei parágrafos acima. Quando o Grande Debate surgiu, pareceu interessante e promissor. Com o passar do tempo, a temperatura subiu e as redes sociais ferveram. Pra emissora o apogeu, mas para a sociedade longe disso. Diante de tanta fúria vistas nas esquinas, na mídia e principalmente no Twitter, acho que acaba incitando ainda mais esse ringue virtual. 

Dito isso, voltemos às divergências. Todos nós temos nossas ideias de estimação e não há problema nisso, mas se insistirmos que ela precisa ser necessariamente verdadeira, nossa opinião nunca mudará. Independente de fatos que provem ao contrário. Os exemplos são muitos e estamos vendo por aí.

O fato que é só podemos aprender um pouco mais, desde que estejamos abertos a possibilidade de estarmos errados sobre alguma coisa.  

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Parafraseando Liev Tolstói: “as coisas mais difíceis podem ser explicadas ao homem mais simplório se ele não tiver uma opinião definitiva sobre elas. Por outro lado, as coisas mais simples não podem ser explicadas ao homem mais inteligente se ele estiver convicto de que já sabe”. 

Hoje, percebo que a maioria das pessoas só se cercam de quem as endossa. Por dois motivos principais: pelo prazer de ser validado por quem as apoia e por receio de serem rechaçadas por quem as refuta. A coisa está tão esquisita que mesmo discordando de uma opinião de forma educada e assertiva, estamos sujeitos a sofrer algum ataque desproporcional. 

Stop hate for profit: “pare de lucrar com o ódio” (Francis Scialabba/Divulgação)

A disseminação do ódio é uma das maiores mazelas da atualidade. Haja visto o recente movimento mundial “STOP HATE FOR PROFIT “(algo como “pare de lucrar com o ódio”), estrondoso boicote de grandes empresas internacionais em relação ao Facebook e ao Instagram. 

Enquanto as plataformas não se articularem melhor pra filtrar essa prática de forma eficiente, nada de verba publicitária. 

Mas isso seria apenas um ponto importante de partida. Está mais do que na hora de as redes sociais repensarem seus formatos em prol de um bem maior que seus próprios interesses. 

Ike Cruz é empresário artístico e consultor de imagem

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