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Secretário

Conheci Secretário há quatro anos. Na época, Araras e Itaipava já mostravam sinais de saturação, com engarrafamentos e preços nada convidativos, enquanto a pequena cidade, localizada em uma estrada sinuosa a 8 quilômetros da BR 040, mantinha ares de roça. Ao contrário de Petrópolis e Teresópolis, descobertas antes da consciência ecológica, Secretário se desenvolvia com […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 18h47 - Publicado em 14 fev 2014, 20h22

Conheci Secretário há quatro anos. Na época, Araras e Itaipava já mostravam sinais de saturação, com engarrafamentos e preços nada convidativos, enquanto a pequena cidade, localizada em uma estrada sinuosa a 8 quilômetros da BR 040, mantinha ares de roça.

Ao contrário de Petrópolis e Teresópolis, descobertas antes da consciência ecológica, Secretário se desenvolvia com a presença forte do Ibama, coibindo desmatamentos e autuando as propriedades que não se enquadravam na lei. Os próprios moradores pareciam entender os riscos de a região ter se tornado o novo destino na serra e se empenhavam na preservação dos rios e florestas. De lá para cá, o comércio local refinou-se, a terra valorizou-se, mas Secretário continuou agreste.

Uma semana atrás, voltando para o calor do Rio, li na coluna de Ancelmo Gois uma nota sobre o projeto de um condomínio de 140 apartamentos ao lado de um campo de golfe em Secretário. Dias antes, por acaso, eu havia visto um programa sobre o impacto dos gramados de golfe no meio ambiente. Para manter as longas extensões de grama fofa e compacta, é necessário acrescentar ao solo caminhões de aditivos químicos. Apesar de verdes, os campos nada teriam de naturais.

Foi nisso que pensei ao ler a notícia. Nisso e nos prédios de três andares espalhados pelas pradarias. Será mesmo essa a vocação de Secretário? Abrigar um megaempreendimento tão artificial quanto a Disney? É difícil prever.

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No nosso antigo sítio de Teresópolis — uma propriedade modesta comprada por meus pais nos anos 50 —, o entorno do vilarejo de Venda Nova se dividia entre as aldeias de agricultores de agrião, couve e feijão e as casas futuristas dos turistas de fim de semana, com piscinas em forma de ameba.

O tempo optou pelo agronegócio familiar, e os escombros das construções modernosas se transformaram em vestígios de uma civilização perdida no meio das hortas.

Em Secretário, as grandes fazendas de gado e a distância da BR preservaram os pastos, matas e rios. Eu fui parar lá a conselho de amigos, faço parte da invasão que ameaça mudar o caráter de Secretário.

Entendo as razões do capital. Não há por que dar as costas aos dividendos da terra. Os latifúndios tendem a se dividir entre os membros das próprias famílias e o destino que cada um dará ao seu quinhão.

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Ouvi opiniões favoráveis ao golfe e críticas ferozes de gente que nasceu ali. Um grupo acredita que o esporte de elite atrairá dinheiro, o outro acredita que Secretário entrará na era dos resorts, dos condomínios de apartamentos, e perderá seu encanto.

Seja qual for o lado, é sempre bom lembrar do que ocorreu em Búzios, onde a Praia da Ferradura foi transformada no paraíso dos jet skis e dos banana boats. E não esquecer da brutal favelização de Angra, Petrópolis e Teresópolis.

Araras soube se preservar. Itaipava menos, é impossível entrar e sair da cidade nos horários de pico. Secretário tem a oportunidade de crescer com planejamento e bom-senso.

Seria bom poder contar com os dois.

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