Na última
Escrevo a última crônica do inacreditável ano de 2015 com antecedência, a tempo de fechar a edição. A média de acontecimentos definitivos, nesse fim de ano, tem sido a de cinco, seis guinadas para pior por semana. Está difícil de acompanhar. Me perdoem se esse artigo sair datado, eu precisava de férias. Passei novembro presa […]
Escrevo a última crônica do inacreditável ano de 2015 com antecedência, a tempo de fechar a edição.
A média de acontecimentos definitivos, nesse fim de ano, tem sido a de cinco, seis guinadas para pior por semana. Está difícil de acompanhar. Me perdoem se esse artigo sair datado, eu precisava de férias.
Passei novembro presa ao noticiário, esperando dar dez horas para assistir à retrospectiva do dia no jornal da Globo News. Gastei noites e noites entre Camarotti, Lo Prete, Merval, Sardenberg e Lôbo, naquela retórica de mesa-redonda de futebol, onde um diz uma coisa, o outro concorda, o terceiro discorda concordando, e a gente se apega à tabela de probabilidade da subida e descida do time no campeonato, presos ao incontrolável destino.
O furacão que deixou nosso barco à deriva veio com rajadas de todos os lados. As velas se foram, a bússola caiu no mar e qualquer previsão beira a adivinhação. O jornal impresso já acorda velho. Dele, me ative às análises mais abrangentes, enquanto as más novas da hora se transformaram em vício de celular. Pressentindo a dependência, lutei para diminuir o ritmo, me atendo ao único refresco da estação: o fim de ano chuvoso que, ao contrário dos anteriores, não entrou rachando os miolos.
Do período de detox, guardo a entrevista de Joaquim Barbosa para o programa do Roberto D’Ávila — uma das poucas análises sobre o desmando e o fisiologismo histórico que escravizam o Brasil, que fugiram do discurso do meu partido fez, mas os outros também fizeram. E a mensagem de Natal da Dilma de Gustavo Mendes, a propósito do amigo da onça secreto da chefa, o inabalável Cunha. Para quem não viu, vale conferir.
O ano de 2015 assassinou o Rio Doce, levou Marília Pêra e trouxe o vírus zika de presente no saco do Papai Noel. Já entrei na fila do mercado negro do tal repelente Exposis. Se não conseguir um estoque, me tranco em casa com o pequeno até junho chegar. Nem a árvore de Natal da Lagoa segurou a barra. Sua miniversão, tamanho pibinho, estreou dia 12, debaixo de chuva fina e raios, cercada de belos fogos, mas sem festa.
Vade retro, ano ruim!
Nasci com síndrome de peru de Natal, sou das que morrem de véspera. Pior, sofro de uma estranha forma de superstição, que me faz crer que as coisas só irão bem se eu estiver certa do pior. Mas até meu pessimismo atávico foi suplantado pelos horrores de 2015.
Antes do recesso, visitei um amigo querido no hospital. Há quatro anos na esgrima com aquela doença, ele me falou da importância de controlar a ansiedade e o medo do porvir. É fundamental sentir medo no presente, me disse ele, é o que nos alerta da ameaça iminente. Mas o medo projetado no tempo paralisa, assombra e nos impede de usufruir da única bênção real, que é a de estar vivo aqui, agora, nesse instante. Sabe tudo, o meu amigo.
Que a vida nos seja leve em 2016.