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Leia na crônica de Fernanda Torres da semana

Por Fernanda Torres
10 nov 2017, 20h43

Eu cursei parte dos antigos primário e ginásio numa escola chamada Souza Leão. O Souza Leão não era nenhum Santo Inácio. Mesmo assim, graças a esse colégio, li O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo; O Cortiço, de Aluísio Azevedo; Dom Casmurro, de Machado de Assis; e Capitães da Areia, de Jorge Amado, para citar alguns títulos, durante o período letivo.

Foi através desses autores que tomei conhecimento da guerra Farroupilha; da sociedade que se desenvolveu na antiga capital do país; da mentalidade arcaica da elite brasileira e da desigualdade social do Brasil.

O carisma do Capitão Rodrigo serviu de suporte para os livros didáticos, assim como o de Capitu, João Romão e Pedro Bala. Mais do que com as matérias clássicas, minha compreensão da história do país e as lembranças mais arraigadas que guardo dela me vieram com esse aprendizado por meio da literatura.

Noto, através dos meus filhos, um empobrecimento alarmante das escolhas literárias para alunos do fundamental I e II. De Machado, apenas os contos. Verissimo e Azevedo foram limados do currículo, e seu lugar ocupado por uma literatura mezzo moderna, mez­zo digerível, que nivela por baixo a formação dos moleques, piorando o seu desempenho nas redações.

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Sinto uma distância inexplicável entre as diversas cadeiras, que parecem não dialogar entre si. O conteúdo deveria ser alinhado. Um aluno que estivesse estudando a República deveria ser apresentado, no mínimo, a um capítulo de Os Sertões, ou de Esaú e Jacó. Rubem Fonseca poderia servir de suporte ao suicídio de Getúlio; Hans Staden, um dos primeiros best-sellers da humanidade, uniria Gutemberg aos ameríndios. O Caboco Capiroba, de Viva o Povo Brasileiro, para não citar Viveiros de Castro, tenho certeza, deixaria os alunos ávidos pela antropofagia.

Como sair da escola sem conhecer Macunaíma, sem nunca ter lido um capítulo de Tristes Trópicos, ou uma linha sequer de Sérgio Buarque de Holanda? Eu não compreendo.

Eu me lembro de uma redação do meu filho mais velho, cujo tema era o jeitinho brasileiro. Mas o jeitinho brasileiro é uma tradução empobrecida do Homem Cordial. Um estudante do ensino médio deveria, por obrigação, sair da escola conhecendo-o. O mesmo eu digo das relações de favor, detectadas por Roberto Schwarz na obra de Machado de Assis, que deveriam ser exploradas em sala de aula.

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O capítulo de Tristes Trópicos, de Levy Strauss, sobre a divisão igualitária das mulheres entre as tribos ameríndias, com o intuito de evitar a guerra, daria subsídios aos meninos e meninas que estão começando a se entender por gente, para refletir a respeito do feminismo e das relações de poder entre os gêneros.

Essas são apenas algumas sugestões para abrir a cabeça dos alunos, para além de lugares-comuns que se repetem aos montes, e que não passam de uma visão tacanha de ideias bem mais complexas e profundas.

É preciso não subestimar os jovens, e, pelo contrário, provocá-­los com o conhecimento.

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