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Blog da atriz Fernanda Torres
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A joia do Méier

  Quando o Teatro Villa-Lobos pegou fogo, Adriana Rattes, secretária de Cultura do estado, se prontificou a restaurar a planta original, mas descobriu, através de pessoas ligadas ao setor, que o suntuoso edifício era um equívoco das gestões passadas. O incêndio veio a calhar. O gélido hall do finado Villa-Lobos ostentava um pé-direito de mais […]

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 fev 2017, 19h16 - Publicado em 15 dez 2012, 00h40

 

Quando o Teatro Villa-Lobos pegou fogo, Adriana Rattes, secretária de Cultura do estado, se prontificou a restaurar a planta original, mas descobriu, através de pessoas ligadas ao setor, que o suntuoso edifício era um equívoco das gestões passadas. O incêndio veio a calhar.
O gélido hall do finado Villa-Lobos ostentava um pé-direito de mais de 15 metros e era todo revestido de granito marrom-escuro, e dele saíam duas escadarias hollywoodianas, apavorantes para qualquer senhora de idade. Nem a multidão de Ben-Hur preencheria o vão da entrada, dominado por uma arquitetura anos 80 dispendiosa e triste. A classe sempre se perguntou o porquê de não terem construído um pequeno teatro no foyer.
A caixa em si não era ruim, tinha recursos, urdimento, coxia, fosso, os camarins eram bons, mas o palco ficava enterrado em um buraco fundo, de onde brotava a plateia em reta ascendente. As poltronas de veludo vermelho escalavam a ladeira íngreme em direção a uma escuridão sem fim. A posição desvantajosa obrigava o elenco a representar com o pescoço esticado para cima, para não perder o contato com as últimas fileiras. Era isso, ou emocionar os ouvintes com o cocuruto dos personagens. Como se não bastasse, o número de cadeiras era relativamente pequeno, o que tornava a monumental entrada um desperdício de espaço ainda mais imperdoável.
Poucas produções venceram as dificuldades do Villa-Lobos. Você tinha uma grande alegria quando ganhava o edital de ocupação e outra, ainda maior, quando terminava o contrato. E havia uma visão cafona do que é teatro, rica, palaciana e estofada até dizer chega. Espero que o incêndio dê uma segunda chance a Copacabana de possuir um centro teatral à altura do terreno, do endereço e do próprio ofício.
O Imperator era um caso semelhante. Eu me apresentei lá com Cinco Vezes Comédia, há cerca de quinze anos. Na época, ele era vendido como a joia do Méier, a maior casa de espetáculos do Rio de Janeiro. O Imperator era um elefante branco, alto e sem acústica, com capacidade para receber 3 000 pagantes. O erro de proporção, dessa vez, não estava no hall. Priorizaram a plateia e se esqueceram da ribalta, larga e sem fundura, tímida demais para alcançar tanta gente.
Terminei uma curta temporada de A Casa dos Budas Ditosos no novo Imperator, no último domingo. A reforma é um milagre de gestão pública. Emilio Kalil, que acaba de deixar a Secretaria Municipal de Cultura para assumir a Cidade das Artes, esteve à frente de sua recuperação. Kalil é um homem com grande conhecimento prático de teatro, algo raro, e sabe as medidas ideais, a importância do som, da luz e da relação entre a quantidade de espectadores e o proscênio.
Sérgio Britto salvou o teatro do CCBB de ter as pernas, as colunas pretas que marcam as entradas laterais, concretadas do chão ao teto. Foi ele quem explicou aos arquitetos e engenheiros que não se pode emparedar a caixa. É preciso ouvir quem entende.
Não há luxo, veludos nem tapetes vermelhos no Imperator. O chão de madeira é nobre, mas está ali para dar calor à sala; não há detalhes decorativos, tudo é funcional, prático e elegante. O som é extraordinário e todos os lugares, excelentes. As cadeiras são retráteis, para deixar a área livre nos shows dançantes, e o imenso terreno foi dividido entre salas de cinema e um 3º andar para exposições, atraindo a população e cruzando as diversas artes. Chiquérrimo.
Tenho certeza de que o Imperator contribuirá para a tão almejada inclusão cultural de um bairro central da cidade, em torno do qual circulam dezenas de vizinhanças carentes de oferta. O Méier voltou para o mapa. E graças a Deus voltou para o mapa, pois me proporcionou uma das melhores temporadas dos Budas nesses dez anos de estrada.
Kalil foi importado de São Paulo, centro urbano em que o poder econômico e a falta de praia tornaram o teatro uma realidade palpável. Com tantos enganos, partidos, muitas vezes, das melhores intenções, o Imperator é um modelo a ser seguido e preservado.
O Méier merece.

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