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Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural
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Não há ritmo sem pausa

O isolamento em escala global e uma nova (e reveladora) relação com o tempo

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Atualizado em 1 jun 2020, 16h28 - Publicado em 18 abr 2020, 13h43

Li outro dia que o modo como a humanidade percebe o tempo mudou diversas vezes ao longo da história. O mundo contemporâneo, hiperconectado, é marcado pelo excesso de estímulos e pela pressa. Não podemos mais tolerar o que dura, há um senso de urgência.

Mas fomos tomados de assalto pelo destino e um terço da população mundial está sob quarentena. O isolamento em escala global é uma experiência sem precedentes e muito tem se falado sobre como esta ruptura traumática nos impôs uma nova (e desafiadora) relação com o tempo: da rotina overbooking para uma agenda sem deslocamentos.

Agora há o tempo extra, o tempo da pausa, o tempo da contemplação, o tempo do detalhe. Há o tempo. Há o agora.

Caetano nos sugere entrar num acordo com o tempo e com mestre não discuto. No planejamento estratégico de uma nova rotina, tenho hora pra tudo. Já espaço… Às vezes, exige captação de recursos. Na semana passada, arrastei os móveis da sala e abri campo pra ioga. De cabeça para baixo (é preciso permanecer na postura e respirar na dor), fez-se à luz: enxerguei um útero na tela “O corte azimutal do mundo e o nascimento da Vênus escrava”*, do artista maranhense Thiago Martins de Melo, que estava bem à minha frente.

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Comprei essa obra de cores vibrantes, tramas complexas e cenas intensas, em 2014. Desde então, a pintura de grandes dimensões e muitas texturas ocupa com destaque a mesma parede na sala. Convivo com ela diariamente e nunca tinha visto o útero de onde surge a Vênus.

A percepção temporal é uma experiência subjetiva e, em “tempos líquidos”, pagamos o preço ingrato da miopia. É preciso pensar nas ligações que foram cortadas e nas que podem ser restabelecidas, a partir de uma mudança de perspectiva. O mundo colapsou, os velhos sistemas faliram e a natureza nos exige transformação. Acredito que a ideia de reapropriação do tempo estará no centro do debate pós pandemia. E já sabemos que não há ritmo sem pausa.

*O corte azimutal do mundo e o nascimento da Vênus escrava sob os prantos das donas do Atlântico, 2013

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