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Por Fabio Szwarcwald, colecionador de arte e gestor cultural
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Um Museu Vivo

Contemporâneo dos movimentos artísticos que sacudiram o país desde 1950, o MAM Rio viu nascer boa parte dos artistas que povoam o circuito internacional

Por Fabio Szwarcwald
Atualizado em 2 mar 2020, 20h32 - Publicado em 2 mar 2020, 19h24

Há mais de 70 anos, em 1948, foi assinada a ata inaugural do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, por iniciativa de Raimundo Castro Maia. Dez anos mais tarde, em terreno doado pela prefeitura, concluiu-se a construção do Bloco Escola, ponto de partida do projeto do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, erguido no Aterro do Flamengo.

O MAM Rio nasceu como um museu-escola, dinâmico e diverso, tendo como norte um projeto pedagógico capaz de colocar em pauta as rupturas das vanguardas modernas nacionais. O corpo docente era formado por Cândido Portinari, Ivan Serpa, Lygia Clark, Aloísio Carvão, Fayga Ostrower, Lygia Pape e Hélio Oiticica, entre tantos outros.

Contemporâneo dos movimentos artísticos que sacudiram o país desde a década de 1950, o MAM Rio viu nascer boa parte dos artistas que hoje povoam o circuito internacional. Lugar de reflexão e contestação, desde os anos de chumbo da ditadura militar, a instituição tem percurso singular marcado pela pluralidade e inovação. Um “museu vivo”, como contraponto à mera conservação e contemplação, concebido para criar um vínculo direto entre produção artística e ensino, abrindo espaço para experimentalismos em artes visuais, teatro, cinema, performance, música e dança.

A instituição acolheu exposições icônicas, como a do Grupo Frente, em 1955; a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1957; a I Exposição Neoconcreta, em 1959; e a mostra Nova Objetividade Brasileira, realizada em abril de 1967, que exibiu “Tropicália”, a obra célebre de Hélio Oiticica que originou o movimento tropicalista.

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No início dos anos 70, auge da ditadura, surgiram os “Domingos da Criação”, projeto memorável idealizado pelo crítico e curador Frederico Morais. Aberta ao público, a iniciativa reunia centenas de pessoas na área externa do MAM, em atmosfera lúdica. Com materiais singelos doados por indústrias, como papel e tecido, experimentavam coletivamente o livre exercício de criar. A partir da provocação de artistas convidados, como Carlos Vergara e Amir Haddad, o que antes era resíduo e sucata transformava-se em experimentação estética. Sem divisão de idade ou classe social, materializava-se ali um potente espaço de troca poética.

É fato que todos que desfrutaram da efervescência concentrada nos diversos espaços do MAM Rio tem o desejo de resgate. Desde sua concepção, a instituição constrói uma escrita afirmativa das artes moderna e contemporânea, tendo como base a certeza de que um museu deve ser bem mais do que um depósito de acervo.

A responsabilidade de resgatar essa trajetória belíssima é imensa e estimulante. Me parece coerente ser fiel ao projeto original do museu, iniciando minha gestão pela reativação do Bloco Escola. Que, aliás, é precursor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que dirigi por quase três anos.

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No atual contexto do país, o tripé arte-educação-cultura é imprescindível e urgente. Pensar de que maneiras a arte pode agir, provocando ações participativas, é minha meta. Criar um trânsito intenso entre as diversas expressões, eliminando fronteiras e gerando contaminação entre gêneros e programas poéticos, é garantia de nova energia ao MAM Rio.

Nesse sentido, uma primeira ação que já pode ser destacada, é a parceria firmada com o programa de residência artística mais antigo do Brasil, o Capacete. Dirigido por Helmut Batista, o programa (que conta com apoio de uma rede internacional) será incubado pelo MAM Rio, a partir de abril.

No momento, estou fechando a contratação do escritório de arquitetura que fará o projeto executivo de restauro do Bloco Escola. Após a conclusão e aprovação do mesmo, sairei a campo para captar recursos junto à iniciativa privada, que precisa entender cultura como investimento de retorno expressivo.

A proposta é restaurar e ocupar o prédio, com o objetivo de desenvolver não só uma grade regular de cursos de formação, mas também um programa inclusivo, propositor de atividades de qualidade voltadas para toda a cidade, visando à aproximação com públicos diversos, através de aulas abertas, fóruns de discussão, seminários, palestras e programas de bolsas.

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O MAM Rio é patrimônio. E é nosso. Vamos ocupá-lo!

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