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Psiquiatra infantil
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O aumento de casos de automutilação e suicídio entre jovens no Rio

Número de ocorrências é crescente e preocupa pais, professores e responsáveis

Por Fabio Barbirato
Atualizado em 26 Maio 2021, 15h05 - Publicado em 26 Maio 2021, 14h44

Pergunte a qualquer adolescente do Rio e, seguramente, ele conhece ou já ouviu falar de algum jovem que se automutilou ou cometeu suicídio. O que já era um comportamento característico desta geração, infelizmente se tornou um traço ainda mais marcante nos últimos meses, com as dificuldades impostas pela pandemia: isolamento social, intensificação das relações familiares, incerteza sobre o futuro, sensação de impotência, angústia e problemas financeiros. Colégios e instituições de ensino tem se surpreendido com reiterados casos de autoagressão ou tentativas de tirar a própria vida numa espécie de pandemia paralela que atinge a saúde mental dos jovens. 

A impressão percebida nos consultórios médicos se confirma nas estatísticas. Segundo o Instituto de Pesquisa de Psiquiatria da USP, estudo com 7 mil crianças e adolescentes, com idades entre 5 e 17 anos, apontou que 26% apresentam sintomas clínicos de depressão e ansiedade. Os dados comportamentais também são preocupantes: 23% dos jovens dormem depois de uma hora da manhã, 13% afirmam se sentir solitários e 48% são sedentários e 37% afirmam não ter uma rotina definida.

Esta realidade não se limita apenas às crianças de classes altas. De acordo com pesquisa da Unicef em parceria com a ONG Luta pela Paz que ouviu 323 moradores da Maré, com idades entre 19 e 25 anos, 22% afirmam que seu principal desafio durante a pandemia é controlar a ansiedade. Vale lembrar que a ansiedade, em até certo grau, é considerada normal, se for de curta duração, limitada por um estímulo específico do momento. O que a torna preocupante é a intensidade, o tempo de permanência o grau de inabilidade social e o prejuízo funcional que ela traz à criança ou ao adolescente. O diagnóstico de ansiedade torna-se ainda mais premente tendo em vista que a maioria dos transtornos de ansiedade em adultos tem inicio ainda na infância. 

De acordo com os números da a Associação Psiquiátrica Internacional para Infância e Adolescência (IACAPAP) em 2019, a depressão afeta, anualmente, cerca de 2,6 milhões de jovens de 6 a 17 anos. Aproximadamente 35% dos jovens deprimidos tentarão suicídio e até 80% deles chegam ao menos a experimentar pensamentos suicidas. Mais de 90% dos adolescentes que cometem suicídio apresentam transtornos psiquiátricos.

É importante ressaltar que depressão é diferente de tristeza. Os sintomas depressivos se manifestam de diferentes maneiras: irritabilidade, instabilidade do humor, intolerância à frustração, desinteresse ou tédio, alteração do sono e do peso corporal, diminuição da concentração, sentimento de culpa, falta de prazer, queda no rendimento escolar, desesperança e pensamentos de morte são alguns dos mais recorrentes.

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Crescente entre o público jovem, a automutilação pode ser definida como qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo, sem, no entanto, intenção consciente de suicídio. Tal comportamento pode ser repetitivo, chegando, em alguns casos, a mais de 100 vezes em um período de 12 meses. Incomum na infância, tem seu pico de ocorrência na adolescência, como uma estratégia a que o jovem recorre quando tem dificuldade de lidar com emoções que considera desagradáveis e a automutilação serve, justamente, para aliviar a tensão. Nos Estados Unidos, calcula-se que até 360 mil jovens tenham passado pela experiência de automutilação. A incidência é bem maior entre adolescentes do sexo feminino (média de cinco garotas para cada rapaz).

Seja pelos casos de suicídio ou de automutilação, há um alerta bastante claro aos pais, professores e responsáveis a respeito da saúde mental de crianças e jovens hoje no Rio. A psiquiatria infantil dispõe de ferramentas para auxiliar com êxito. A qualquer sinal de que algo está inadequado no comportamento deles, é preciso procurar ajuda médica. Argumentos como falta de tempo, falta de conhecimento ou preconceito são extremamente prejudiciais e comprometem o futuro dos jovens.

Fabio Barbirato é psiquiatra pela ABP/CFM  e responsável pelo Setor de Psiquiatria Infantil do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa do Rio. Como professor, dá aulas na Pós Graduação em Medicina e Psicologia da PUC-Rio. É autor dos livros “A mente do seu filho” e “O menino que nunca sorriu & outras histórias”. Foi um dos apresentadores do quadro “Eu amo quem sou”, sobre bullying, no “Fantástico” (TV Globo).

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