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Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD.
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Os perigos dos abusos na suplementação de iodo

Na tentativa de prevenir doenças tireoidianas, muita gente comete excessos e acaba arrumando outros problemas ainda mais graves

Por Fabiano Serfaty
Atualizado em 22 jun 2017, 17h32 - Publicado em 20 jun 2017, 16h43
(Divulgação/Divulgação)

A carência de iodo é a principal causa evitável de retardo mental, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).  De acordo com a entidade, cerca de 13 % da população do planeta sofre de doenças relacionadas à falta de iodo e outros 30 % estão em situação de risco. O nutriente é um oligoelemento  (necessário em pequeníssimas quantidades) essencial ao bom funcionamento do nosso corpo, pois é a base para a síntese dos chamados hormônios tireoidianos (T3 e T4). Esses hormônios participam de diversos processos metabólicos importantes, dentre os quais talvez o mais importante seja o desenvolvimento do sistema nervoso central dos fetos e das crianças. Portanto, a falta de iodo na gestante e nos primeiros anos de vida da criança pode levar a uma produção insuficiente dos hormônios tireoidianos T3 e T4, o que ocasionaria o quadro conhecido como cretinismo, que se caracteriza por um retardo mental associado a um déficit de crescimento.

As necessidades diárias de iodo variam de acordo com a idade e o estado fisiológico dos indivíduos, ficando entre 100 µg a 250 µg de iodo por dia. Gestantes e lactantes apresentam as maiores demandas por conta da necessidade de T3 e T4 para o desenvolvimento correto do cérebro das crianças. No Brasil, a lei obriga os produtores de sal de cozinha a adicionar iodo a este produto. Isso significa que em média 1 g de sal de cozinha fornece 20 µg de iodo. Segundo dados da OMS, o brasileiro consome cerca de 12g de sal de cozinha por dia, o que representa mais que o dobro da necessidade diária. Essa quantidade forneceria cerca de 240 µg de iodo/dia, ou seja, muito mais do que a maioria de nós precisa, com exceção das gestantes e lactantes.

(Reprodução/Reprodução)

Para conseguir o iodo, as principais fontes, além do sal de cozinha, são os alimentos de origem marinha e os produtos de origem láctea. Falando em Brasil, a carência deste nutriente é algo raro, por se tratar de um país com extensa área litorânea e com legislação que obriga a sua adição ao sal de cozinha. No entanto, para diagnosticar esses poucos casos de carência, a forma mais eficaz é dosá-lo em exames urinários: níveis de iodo inferiores a 100µg/l configuram deficiência.

(Reprodução/Reprodução)

Isoladamente, os níveis de iodo não apresentam muita importância em termos prognósticos, pois o que irá ocasionar toda a sintomatologia é a falta dos hormônios tireoidianos. Isso quer dizer que podemos encontrar níveis baixos de iodo urinário ainda que com os níveis de hormônios tireoidianos adequados (devido a um mecanismo de adaptação e compensação por parte da tireoide), como também níveis normais ou elevados de iodo urinário, porém com níveis reduzidos de T3 e T4 (devido a patologias na própria glândula tireoide).

Contudo, vale reiterar que no contexto do Brasil, onde há um pleno acesso ao iodo por fontes alimentares, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia não recomenda o consumo indiscriminado e sem orientação médica de suplementos à base de iodo (como o LUGOL), pois esse consumo pode gerar reações adversas graves. Entre elas, as conhecidas como efeito Jod-Basedow (que consiste em um quadro de hipertireoidismo pela administração de contrate iodado ou suplementos à base de iodo como o lugol) ou efeito Wolff-Chaikoff (que é uma reação da glândula tireoide devido ao consumo excessivo de LUGOL ou outros suplementos à base de iodo onde, de forma paradoxal, ocorre o bloqueio na produção hormonal de T3 e T4 levando a um quadro de hipotireoidismo).

Portanto, atenção, se ainda tiver dúvidas a respeito do assunto, procure um endocrinologista. Ele é o profissional mais adequado para avaliar a necessidade de reposição tanto do iodo quanto dos hormônios tireoidianos.

Fontes :

1- Iodine defi ciency and associated factors in infants and preschool children in an urban community in the semiarid region of Minas Gerais State, Brazil, 2008. Mariana de Souza Macedo at al. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 28(2):346-356, fev, 2012.

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2- Iodine and Thyroid: What a Clinic Should Know. Maria Santan Lopes at al. Acta Med Port 2012 May-­Jun;25(3):174-­178.

3- The changing phenotype of iodine deficiency disorders: a review of thirty-five years of research in north-eastern Sicily. Maria Carla Moleti at al. Ann Ist Super Sanita 2016 | Vol. 52, No. 4: 550-557.

(Arquivo pessoal/Divulgação)

Yuri Galeno Pinheiro Chaves de Freitasn é endocrinologista titulado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Presidente da Comissão para Estudos da Endocrinologia e do Esporte da SBEM no biênio 2017-2018

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