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Por Fabiano M. Serfaty, clínico-geral e endocrinologista, MD, MSc e PhD.
Saúde, Prevenção, Tratamento, Qualidade de vida, Bem-estar, Tecnologia, Inovação médica e inteligência artificial com base em evidências científicas.
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Novos tratamentos para insuficiência cardíaca

Pressão alta e doença das artérias coronárias são os principais fatores de risco

Por Sergio Kaiser
5 set 2017, 18h21

Insuficiência cardíaca é definida como a incapacidade do coração em prover as necessidades do organismo, devido ao bombeamento ineficaz de sangue. A principal manifestação clínica desta condição é a falta de ar, a princípio durante esforços e progressivamente pior até surgir mesmo em repouso. Longe de ser a única doença associada a falta de ar, a insuficiência cardíaca tem neste sintoma, contudo, uma espécie de marca registrada, responsável por muito desconforto aos pacientes.

Nos últimos trinta anos testemunhamos grande progresso no tratamento de seus principais fatores de risco – pressão alta e doença das artérias coronárias – e no desenvolvimento de fármacos capazes de estabilizar a evolução da doença já instalada, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e reduzindo significativamente a mortalidade associada à insuficiência cardíaca. Mesmo em casos mais avançados, têm-se obtido sucesso terapêutico através de técnicas cirúrgicas como a ressincronização cardíaca por marcapasso em casos selecionados, dispositivos mecânicos de assistência circulatória movidos a bateria (quase um coração artificial) sem falar nos transplantes cardíacos, muito eficientes, mas limitados pela escassez de doadores.

Ao longo dos anos modificou-se o perfil do típico portador de insuficiência cardíaca:  são homens e mulheres mais idosos, com várias outras doenças associadas e expostos aos riscos de repetidas internações por inúmeras causas que não somente a insuficiência cardíaca. Estima-se que esta doença acometa cerca de 38 milhões de pessoas no mundo¹ e até 2050 espera-se um aumento de 46% na quantidade de pessoas afetadas por este mal². A internação hospitalar responde por cerca de 60% dos custos associados a esta síndrome. Em 30 dias após a alta hospitalar, um em cada 4 pacientes será novamente internado e quase a metade sofrerá outra internação em 60 dias³.

O tratamento da insuficiência cardíaca envolve medidas dietéticas como redução no consumo de sal, estímulo à atividade física supervisionada (isto mesmo!) e manutenção de peso corporal adequado. A otimização do tratamento a fim de manter os pacientes clinicamente compensados requer o uso de medicações alicerçadas em estudos clínicos solidamente conduzidos (betabloqueadores e antagonistas do sistema renina-angiotensina-aldosterona) e diuréticos para alívio da falta de ar.

Mais recentemente, um novo produto, comercializado no Brasil e no mundo sob o nome de Entresto, foi testado com êxito num grande estudo denominado PARADIGM-HF em portadores de insuficiência cardíaca já tratados com os medicamentos tradicionais. A introdução deste fármaco propiciou redução adicional de 20% no risco de morte cardiovascular ou internação por insuficiência cardíaca e de 16% na mortalidade por qualquer causa(4). Em outra publicação os mesmos autores do estudo PARADIGM documentaram redução de 36% e 22% no risco de uma nova internação, respectivamente, em 30 e 60 dias, com evidentes benefícios econômicos daí derivados(5). Tais resultados, ainda que aparentemente modestos, representaram tamanho avanço, a ponto de levar a associação americana de Cardiologia a recomendar a substituição dos tradicionais antagonistas do sistema renina-angiotensina (como enalapril e similares) por este novo fármaco mesmo em pacientes clinicamente compensados(6).

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Cuidar de pessoas com insuficiência cardíaca não é tarefa fácil nem tampouco barata. Exige vigilância da equipe assistente, educação dos pacientes, disciplina no uso contínuo das medicações e – no caso dos novos produtos – algum recurso financeiro. E o que se obtém em troca? Vida quase normal, bem longe do hospital!

Referências

  1. Bui AL, Horwich TB, Fonarow GC.  Epidemiology and risk profile of heart failure. Nat Rev Cardiol 2011;8:30–41
  2. Go AS et al. American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Heart disease and stroke statistics—2014 update: a report from the American Heart Association. Circulation 2014;129:e28-e292
  3. O’Connor CM et al. Causes of death and rehospitalization in patients hospitalized with worsening heart failure and reduced left ventricular ejection fraction: results from Efficacy of Vasopressin Antagonism in Heart Failure Outcome Study with Tolvaptan (EVEREST) program. Am Heart J 2010;159:841-49
  4. McMurray JJ et al. Angiotensin-neprilysin inhibition versus enalapril in heart failure. N Engl J Med 2014;371:993–1004
  5. Desai AS et al. Influence of Sacubitril/Valsartan (LCZ696) on 30-Day Readmission After Heart Failure Hospitalization. J Am Coll Cardiol 2016;68:241-8
  6. Yancy CW et al. 2016 ACC/AHA/HFSA Focused Update on New Pharmacological Therapy for Heart Failure: An Update of the 2013 ACCF/AHA Guideline for the Management of Heart Failure. J Am Coll Cardiol 2016;68:1476-1488
Sergio Kaiser (Reprodução/Arquivo pessoal)

Mestre em Cardiologia, Doutor em Fisiopatologia Clínica e Experimental
Professor adjunto de medicina interna da UERJ
Coordenador da Disciplina de Fisiopatolgia Clínica e Experimental da UERJ

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