O futuro é agora
Conseguimos planejar o futuro com as informações que temos, mas é pura ingenuidade achar que a vida não nos brindará com situações não programadas
Em uma conversa, descobri que há pessoas ganhando a vida jogando videogame. É um trabalho formal para muitos, com direito a inúmeras horas de produtividade e altos salários. Achei engraçado. Lembrei das mães da minha infância falando para seus filhos pararem de jogar seus joguinhos e irem brincar ‘lá fora’, que aquilo que estavam fazendo não dava futuro á ninguém. Mal sabiam elas…
∙Pode ser que a profissão que seu filho irá escolher quando crescer, ainda não exista. Quem sabe se o que é bom e seguro no presente, seja ultrapassado dentro de poucos anos? Não usamos mais ábacos na escola; o transporte por carroças, como primeira opção, não faz mais sentido; talvez a própria escrita vire obsoleta em tempos onde todos comunicam-se por computadores e celulares inteligentes…
∙Quando os primeiros veículos automotores foram construídos, a população ficou temerosa e achou aquilo dispensável. Quando já estavam popularizados, Ford fez uma pesquisa para saber os desejos que deveria atender de seu público consumidor. Ao tentar atendê-los, descobriu ser um grande fracasso…
∙Por quê? Porque não temos como prever nossas necessidades, anseios e desejos em um mundo que nos demanda coisas que ainda não conhecemos. É como a brincadeira dos dominós; ao empilhá-los próximos, à queda do primeiro será seguida por todos os outros. Isso é o que se espera, mas e se um sai um milímetro de sua posição e altera todo o planejado?
∙Conseguimos planejar o futuro com as informações que temos em nossas mãos no presente, mas é pura ingenuidade achar que a vida não nos brindará com uma série de situações não programadas. O inesperado! E como se programar para um mundo do qual nada conhecemos?
∙A pandemia nos mostrou novas formas de os empregos, as escolas, o comércio… existirem. O presencial vai dando, pouco a pouco, mais espaço para o virtual. Talvez o custo seja mais em conta, poupe-se tempo com o deslocamento, seja mais prático e tenha outras vantagens expressivas nessa forma de vida. No entanto, como fica nossa socialização?
∙Podemos achar que será prejudicada, se usarmos nossa visão de mundo atual. Possivelmente, simplesmente mudará, adequando-se ao meio, se usarmos nossa visão vislumbrando um futuro desconhecido. Estamos descobrindo novas formas de estabelecermos os vínculos afetivos. Quiçá seu futuro esteja nos encontros presenciais de final de semana. Eventualmente as empresas perceberão que as grandes ideias surgem nos esbarrões do corredor e na hora do cafezinho, e em breve voltemos á uma realidade bem próxima á que existia. Porventura haverá uma mescla, uma tentativa de junção dos dois mundos, procurando usufruir os melhores aspectos de ambos.
∙No presente construímos o futuro, mas há uma infinidade de futuros possíveis. E existem aqueles futuros que já se tornaram presentes, como o caso dos encontros amorosos, que se iniciam por aplicativos e, por vezes, tem todo o seu desfecho pela internet. Já há um público, cada vez maior, que se satisfaz de modo cem por cento online. Formação de família, aqui, não é um obstáculo, pois não é um objetivo. E se acaso mudarem de ideia, as técnicas de fertilização estão aí para provar que até esta etapa pode ser ultrapassada sem contato físico.
∙E por falar em técnicas da genética, Zatz trata em seu livro de como escolhas de características genéticas, desde a exclusão de genes responsáveis por doenças até a escolha de características secundárias, como a cor dos olhos, interferem na existência humana. Já é uma realidade a possibilidade de se escolher as ‘melhores características’ para um filho. Além do perigo de se percorrer uma sociedade que busca um ser superior aos outros, como garantir que uma característica vista como uma qualidade na realidade atual assim será no futuro? Como defender que algumas características são melhores que outras, quando vemos somente através de nossos olhos e o mundo é muito mais amplo do que nossa visão pode alcançar?
∙O risco que corremos quando tentamos controlar o incontrolável… Chega a beirar o ridículo visto sob uma perspectiva mais distanciada. Mais imparcial. Afinal, talvez não fizesse sentido para o homo sapiens arriscar-se andando apenas pelo apoio dos pés, mas foi graças à sua ousadia, que pôde enxergar mais longe e ganhou uma grande vantagem evolutiva, que possibilitou com que estivéssemos aqui e agora. Quem sabe não estamos diante de outro momento histórico de incertezas, que será nosso trampolim para vislumbrarmos tempos melhores?
Referência- Zatz, Mayana. Genética: escolhas que nossos avós não faziam. Editora Globo, 2018.
Sabrina Nigri
CRP 0537453
Psicóloga graduada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Hipnoterapeuta formada pelo Instituto Brasileiro de Hipnose (IBH)
Pós graduada em Neurociências e Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Escritora
Idealizadora, fundadora e diretora do projeto Em Boa Companhia
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