EP’s de quarentena: Ana Frango Elétrico, Marina Melo e Luiza Brina
O isolamento social influenciou três cantoras da novíssima geração
“Que seria de mim, meu Deus, sem a fé em Antônio?”, canta Maria Bethânia ao entoar os versos da música “Santo Antônio”, uma homenagem ao santo casamenteiro. Já eu, me pergunto “que seria de mim, meu Deus, sem a música?”. Certamente os efeitos dessa pandemia seriam muito piores se a música não fosse minha pastora (a única que confio quando o assunto é salvação). Todo tipo de música. Não só aquelas que tocam no rádio. Aliás, na minha estação de rádio imaginária toca-se toda a diversidade da música brasileira. Não apenas um gênero musical.
Graças a Deus (para continuar louvando o sagrado), muitos artistas estão produzindo nessa quarentena eterna. Sanidade pra eles e pra nós.
A carioca Ana Frango Elétrico lançou essa semana o primeiro de dois singles gravados durante o isolamento social: “Mama Planta Baby”. A nova música da artista, que acaba de ser indicada ao Grammy Latino, na categoria melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa pelo disco Little Electric Chicken Heart, aponta novos caminhos para a pesquisa musical da premiada e multifacetada cantora.
“Pensei numa melodia que pudesse ser cantada para plantas e bebês, trazendo timbres que têm me interessado, como a flauta, órgão e violão, misturando elementos da bossa-nova, chamber-pop e soft-eletro-indie. Quis explorar efeitos, estéreos e repetições trazendo elementos em comum ao Little Electric Chicken Heart, como dobras, coros, metais, e divergindo em outros aspectos, como forma e timbres”, explica Ana.
Diretamente de São Paulo, o novo trabalho de Marina Melo me chama a atenção. Um dos promissores nomes da cena contemporânea paulistana, a cantora lançou recentemente o EP “O mundo acabou mas continua girando” (nome ótimo!) que traz três faixas produzidas por Naná Rizinni. Com letras curtas e sagacidade ímpar, Marina traduziu o “agora” em canções.
A ótima “Cara vizinha,” (assim mesmo, com a pausa da vírgula sustentada no título) tem uma gravação caseira. Enquanto escutamos Marina anunciar ao microfone, do quintal de casa, a homenagem que fará à vizinha, já somos lançados numa ambiência coletiva, sensação cara a quem, depois de seis meses, segue cumprindo o confinamento imposto pelo coronavírus. Primeira música do novo EP a ser revelada, a canção foi composta despretensiosamente, em retribuição ao gesto de sua vizinha de tocar músicas diariamente, na quarentena, após os panelaços. O single ganhou um clipe gracioso dirigido e gravado pela internet.
Outro trabalho que merece escuta atenta e foi produzido por uma mulher nesta quarentena é o EP “deriva”, da mineira Luiza Brina. São cinco composições inéditas, escritas durante o confinamento, em parcerias diversas e encontros à distância, tudo registrado nos quartos quarentênicos dos artistas. Produzido por Brina – que também gravou violões, guitarras, baixo, teclado, percussões e samples -, o projeto traz músicas parcerias de Brina com Teago Oliveira, Arthur Nogueira, Julia Branco e Chico Bernardes, e participação de todos eles – cada um em suas respectivas faixas -, além de um encontro inédito entre as vozes e os violões dela com a maravilhosa baiana Josyara.