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Por Fabiane Pereira, jornalista
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O silêncio também é violência

Como explicar um país em que mulheres negras não podem errar, mas homens brancos agridem mulheres e lucram com isso?

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Atualizado em 13 jul 2021, 19h01 - Publicado em 13 jul 2021, 17h32

A esta altura todo mundo que tem acesso à internet já viu as imagens do Ivis espancando sua ex-mulher, Pamella Holanda. As imagens, gravadas por câmeras de segurança do apartamento em que o casal morava, em Fortaleza, mostram o acusado puxando o cabelo, dando vários socos e fortes chutes em Pamella. Os atos extremamente violentos ocorreram na frente da filha, uma bebê de nove meses, e de outras duas pessoas, a mãe da vítima e um “amigo” do ex-casal. O vídeo foi divulgado nas redes sociais da vítima.

Se você não assistiu a estas imagens, aconselho a não ver. No parágrafo acima resumi o ocorrido para poder tratar aqui de dois pontos. O primeiro diz respeito à inação das testemunhas deste crime, especialmente do homem que presenciou a violência e não fez absolutamente nada para impedir as agressões. Aqui abro um parêntese para explicar que Pamella já veio a público dizer que a mulher que aparece no vídeo é sua mãe e explicou que ela não conseguiu intervir por ter paralisado vendo a filha ser agredida. Sobre o homem que presenciou as agressões, não se sabe ainda se é um funcionário ou amigo do agressor, mas isso pouco importa, o absurdo do fato é ele não ter feito absolutamente nada para impedir tal brutalidade. É a violência do patriarcado estrutural em sua forma mais genuína, destrutiva e corporativa.

Nessas horas me pergunto: onde está Damares e seu ministério das mulheres? Por que ela só aparece para traumatizar ainda mais a vida de uma menina de 10 anos grávida graças aos frequentes estupros que sofreu? Aliás, será que Damares sabe que nossos vizinhos estão celebrando a vida das mulheres após legalizarem o aborto? Será que a Ministra de Estado da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tem conhecimento que há seis meses nenhuma mulher morre por abortar na Argentina? Alguém avisa.

Mas voltando ao crime de Ivis (me recuso a chamá-lo de DJ por respeito a estes profissionais), é mais do que urgente acabar com a mentalidade de que em briga de marido e mulher não se mete. Em briga de marido e mulher se salva a mulher. E por que a mulher? Porque somos 67% das vítimas de agressão física no Brasil e, em alguns lugares, como no Distrito Federal, essa porcentagem chega a 75%. Estes dados constam no Mapa da Violência de Gênero. Nosso silêncio também é violência. Quando a gente relativiza a agressão, não interfere e não denuncia, estamos violentando ainda mais a vítima e nos tornando cúmplice de um sistema que favorece o agressor.

E aqui eu chego ao segundo ponto que quero abordar nesta coluna: a relativização do cancelamento. Você deve estar lembrado que a cantora, compositora, apresentadora e rapper Karol Conka após participar do BBB21 foi violentamente rejeitada pelo público. Na ocasião, Karol perdeu em poucas horas mais de 500 mil seguidores como mostrou a matéria publicada no Popline. Este mesmo site publicou ontem que Ivis ganhou mais de 100 mil seguidores nas primeiras horas após a divulgação das imagens de agressão. De domingo até hoje, esta criatura viu seu número de seguidores praticamente dobrar, chegando a quase 1 milhão numa única rede social. Ou seja, o sistema o favoreceu apesar das imagens provarem o espancamento. Como explicar um país em que mulheres negras não podem errar mas homens brancos agridem mulheres e lucram com isso?

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(divulgação/Internet)

Precisamos normalizar o unfollow. Não podemos continuar dando engajamento para acusados de agressões contra mulheres. As redes sociais funcionam por engajamento e a inteligência artificial não entende intenção. Isso quer dizer que ao curtir, seguir, comentar ou salvar determinado post, você está dando a ele mais visibilidade e não ocultando-o do feed. Bloqueie, denuncie mas não engaje conteúdo de quem não merece. Lugar de agressor de mulher é na cadeia e não nos trending topics.

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