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Por Fabiane Pereira, jornalista
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Ana Morena assume a presidência da Abrafin

Potiguar é integrante da Camarones Orquestra Guitarrística e idealizadora do Festival DoSol

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Atualizado em 6 jul 2021, 12h09 - Publicado em 5 jul 2021, 20h10

A Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin) elegeu uma nova diretoria para o biênio 2021-2023 no mês passado e ela será capitaneada por duas mulheres: Ana Morena, na presidência, e Sara Loiola, na vice presidência, duas mulheres pretas e nordestinas. A importância da ocupação destes cargos vai muito além da entidade, ainda mais se considerarmos este momento crítico em que o governo federal criminaliza os artistas e demoniza as mulheres que “ousam” ocupar espaços públicos.

A nova presidenta da Abrafin é baixista e integrante da Camarones Osquetra Guitarrística e também idealizadora do Festival DoSol, um dos mais importantes festivais de música independente do circuito. Ao lado do seu sócio Anderson Foca, Ana criou, há duas décadas, um hub cultural que tornou-se modelo de gestão e produção musical em Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu e Foca nos conhecemos em 1998. Ambos queríamos ter banda, tocar e viver da música, mas não havia mercado nenhum pra isso em Natal. Mal tinha estúdio de ensaio na cidade e quase não existia espaços e público para artistas indies aqui. Percebemos que era preciso começar do começo: formando público. Montamos a Officina, banda de pop rock, para formar público. E aí foi gradativo, criamos um selo pra lançar os discos da banda e de outros artistas. Montamos um estúdio de ensaio e depois de gravação. Precisávamos de um projeto que fosse vitrine do trabalho produzido aqui e daí surgiu o Festival DoSol. Começou como um festival do selo e já a partir do segundo ano virou uma grande plataforma de intercâmbio e diversidade de artistas do Brasil e de fora também. Outra coisa que a gente sempre entendeu como algo fundamental foi a documentação das nossas ações. E por isso hoje o nosso canal de youtube tem quase três mil vídeos autorias de artistas tocando ao vivo, diários de bordo de discos e turnês, coberturas de eventos, enfim, uma documentação histórica incrível dessa cena da música brasileira de 2001 pra cá”, detalha Ana.

 

 

Ana deixou o curso de artes inacabado. Tudo o que sabe sobre produção cultural aprendeu naquele velho e eficaz esquema: tentativa e erro. Nascida numa família com vários artistas, músicos, escritores e dramaturgos, a música sempre fez parte de sua vida. “Mas profissionalmente, considero que foi como vocalista da Officina que comecei. Tocávamos quatro vezes por semana nos pubs e festas da cidade, abríamos shows de praticamente todas as bandas de fora que vinham a Natal e lançamos três discos autorais. Foi com a Officina que a gente se estruturou e adquiriu experiência para desenvolver o que queríamos fazer, o DoSol. Na segunda edição do Festival, em 2005, fizemos o último show da Officina como o encerramento de um ciclo. A banda já tinha cumprido a sua missão”, relembra.

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Ana Morena_presidenta da Abrafin
Ana Morena_presidenta da Abrafin_crédito Giovanna Hackradt Rêgo (divulgação/Internet)

 

Ao assumir a presidência da Abrafin no último mês, Ana fica à frente de uma importante associação da música brasileira com papel fundamental no desenvolvimento de políticas públicas. “A Abrafin é uma entidade de classe que representa mais de 100 festivais independentes e trabalha para fortalecer e promover a cadeia da economia da cultura. Uma das nossas frentes de trabalho é lutar por mais políticas públicas para o setor. Participamos ativamente da aprovação da Lei Aldir Blanc, mantivemos a narrativa na Paulo Gustavo e estamos agora fazendo coro à proposta para que a LAB vire um fundo fixo. Também formamos um grupo de trabalho para desenvolvermos protocolos junto com instituições científicas parceiras, e pensarmos a retomada dos festivais de forma segura e consciente. Temos também um compromisso com a ampliação da diversidade nos nossos festivais. A ideia é fazermos um mapeamento com os nossos filiados para a partir daí entendermos quais as dificuldades e como desenvolver ações para ajudar a ampliar esse olhar”, detalha.

Perguntada sobre o que a motiva a promover cultura num país que criminaliza tanto os fazedores de arte, Ana é categórica: “O que me motiva é a vida. Se eu não fizer, eu morro. É como respirar, é ter plena certeza do meu papel nesse mundo. Difundir arte e cultura, movimentar e fomentar a criatividade artística e o sentimento de pertencimento nas pessoas. Estar em cima do palco me faz feliz como poucas coisas. Assim como estar na produção de um projeto que coloca artistas e público em contato e muitas vezes por causa desse contato a vida dessas pessoas melhora ou até muda, muda o pensamento, amplia a construção do pensamento crítico, diminui o sentimento de estar sozinho no mundo. A arte é a principal catalizadora das mudanças sociais e fortalecimento de um pensamento crítico numa sociedade. E quando temos uma sociedade crítica, que pensa pela própria cabeça, temos uma sociedade que evolui. A mistura é a graça do Brasil e quanto mais a gente estiver comprometido com essa mistura e representatividade, melhor”, acredita.

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Neste espaço e em outros que ocupo como jornalista e no dia a dia como cidadã, eu estou sempre tentando explicar que a cultura no Brasil poderia ser instrumento de mediação social se tivéssemos vontade política. Políticas públicas são fundamentais para termos uma sociedade criativa, consciente, plural e produtiva. “As políticas públicas democratizam a arte. Fortalecem artistas que não são midiáticos, possibilitam que o público acesse uma arte para além da cultura de massa. Pagamos impostos e elegemos governantes para que esses retornos sociais nos sejam oferecidos, se não for assim não tem sentido essa equação. Então, é obrigação de um governo proporcionar serviços e políticas públicas, e isso vai desde a construção de hospitais, de estradas até o fortalecimento do setor cultural. A arte é tão essencial à vida quanto respirar. Você até pode viver sem estradas pavimentadas e sem pontes, mas você não vive sem arte. O que quero dizer é que se tivéssemos a mesma preocupação e incentivos para o setor cultural como temos para outros setores da indústria de consumo, seríamos outro tipo de sociedade, muito mais consciente do seu papel”, pontua Ana.

Otimista, a nova presidenta da Abrafin acredita que precisaremos aprender a coexistir com o vírus, os protocolos, os novos formatos de projetos, as novas formas de relações, com o novo e principalmente deixar o individualismo e focar no coletivo. “Nossa criatividade vai além do fazer artístico. E mesmo que o novo amedronte e nos arranque da zona de conforto, eu boto muita fé na gente. Veja, na gente. Eu não ando só. Precisamos cada vez mais andar em bloco”, finaliza.

 

 

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