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Por Daniel Sampaio: advogado, ativista do patrimônio, embaixador do turismo carioca e fundador do Instagram @RioAntigo
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“Lampião da Esquina”, um jornal LGBTQIA+ em plena ditadura

A história de um veículo da Imprensa que defendia causas polêmicas e abordava temas ousados numa época de autoritarismo e muito preconceito

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Atualizado em 8 nov 2021, 21h58 - Publicado em 8 nov 2021, 18h55

Entre 1978 e 1981, um jornal independente, impresso no Rio de Janeiro, trazia reportagens ousadas e manchetes quase revolucionárias. Uma cobertura jornalística séria sobre o universo LGBTQIA+ (sigla que sequer existia na época), mas sem perder o humor.

Era um jornal feito por homossexuais e para homossexuais; tudo isso tudo em plena ditadura militar, uma época em que o preconceito, a repressão e a violência pareciam não mais conseguir conter a libertação sexual e moral da sociedade.

O advogado e ativista Renan Quinalha nos contou que o “Lampião da Esquina” se destacava em meio à chamada “imprensa nanica” por sua qualidade literária, editorial e política. “O conselho editorial do Lampião da Esquina tinha nomes respeitados como Aguinaldo Silva e João Silvério Trevisan, jornalistas com importantes trajetórias”, ressaltou.

Primeiro do gênero no Brasil, o Lampião foi, desde sua edição zero, contrário ao autoritarismo. Apoiou causas difíceis — inclusive de outros movimentos sociais — trazendo à tona a realidade diária de violência e preconceito que sofriam essas populações. O “Lampião” chegou a fazer uma seção chamada “conheça o seu ativismo”, na qual ele conectava seus leitores a grupos locais de militância já importantes na época, no Rio de Janeiro.

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Mas o “Lampião” não era só militância. Além do tom debochado em sua linguagem, abordava temas sexuais que eram “tabu”. Falava também do “fervo”; havia um tipo de guia turístico gay para algumas cidades e o Rio foi frequentemente retratado. O Rio de Janeiro foi uma cidade que, apesar de todo o preconceito, sempre acolheu muito essas populações. Reportagens do “Lampião” falavam sobre trechos gays da praia de Copacabana e entrevistavam michês. Textos falavam da lendária Galeria Alaska, de regiões da Cinelândia para mostrar a sociabilidade de zonas de “pegação” LGBTQIA+.

Segundo Renan Quinalha, o “Lampião” mapeava, com maestria, os territórios gays (que, na época, decidiram soletrar assim — “gueis”) e os códigos de sociabilidade típicos de cidades grandes e os apresentava a seus leitores. Com circulação nacional de quase 20 mil exemplares por mês, o LAMPIÃO retratava um “guei” que entendia cada vez mais sua identidade, mas, ao mesmo tempo, ria de si mesmo.

Para se aprofundar nesse assunto, vale muito a pena assistir ao maravilhoso documentário “Lampião da Esquina”, da cineasta Livia Perez e também ler o livro “Contra a moral e os bons costumes: a ditadura e a repressão à comunidade LGBT”, do nosso entrevistado Renan Quinalha, que conta com um capítulo todinho só sobre o “Lampião da Esquina”.

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*Daniel Sampaio é advogado, memorialista e ativista do patrimônio cultural. Fundou o Instagram @RioAntigo e é presidente do Instituto Rio Antigo.

**Texto feito em parceria com o advogado e ativista Bruno Araújo, fundador do perfil @pajuba_digital no Instagram.

*** Apoio do historiador João Condé, redator da Equipe Rio Antigo.

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