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Por Daniel Sampaio: advogado, ativista do patrimônio, embaixador do turismo carioca e fundador do Instagram @RioAntigo
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Nem tudo era “glamour” na Belle Époque carioca

A foto de um despejo em cortiço na Rua do Hospício, atual Buenos Aires, nos conta um pouco das contradições da época do "bota-abaixo"

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Atualizado em 3 jun 2021, 11h31 - Publicado em 3 jun 2021, 09h08

Nestes tempos em que debatemos sobre a necessidade de tornar o Centro um lugar de moradia novamente, aqui está um flagrante do processo contrário, quando o Poder Público desocupou o a região central da cidade de seus indesejáveis habitantes de baixa renda, indignos de viver na capital que idealizaram para a jovem República brasileira.

Augusto Malta, primeiro fotógrafo oficial da Prefeitura do “Districto Federal”, retratou a antiga rua do Hospício, atual rua Buenos Aires, na altura próxima do Campo de Santana, em 1904, pouco antes da demolição de seu casario colonial. Era o “bota-abaixo” do então Prefeito Pereira Passos.

Essas belas construções coloniais, que já estavam com os dias contados, funcionavam como cortiços, onde a população pobre vivia amontoada em péssimas condições de higiene.

A capital do país, que na época era também a sua maior cidade, convivia com a peste bubônica (causada por ratos), a cólera, a malária, a febre amarela, a tuberculose e outras doenças terríveis, devido à quase total falta de saneamento. Nessa época, o Rio era conhecido como “cemitério dos estrangeiros”, pois muitos viajantes internacionais adoeciam e morriam ao visitar nossa cidade.

Escorraçados à força desses cortiços, sem políticas públicas de habitação que os destinassem a moradias decentes, esses cariocas não tiveram alternativa senão a subir os morros próximos — Providência, São Carlos, Santo Antônio, entre outros —, até então pouco habitados. O Morro da Providência já tinha alguma população e era chamado de “Morro da Favella”, por causa da planta encontrada na região de Canudos em 1897, pelos combatentes que de lá voltaram exigindo prometidas residências que nunca lhes foram dadas.

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Fala-se muito da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco), mas, à custa da derrubada de velhos imóveis, foram alargadas e prolongadas diversas outras vias urbanas, como a rua do Sacramento (futura Avenida Passos), a rua da Prainha (atual rua do Acre), a rua Uruguaiana e a própria rua do Hospício.

Avenidas radiais e diagonais, cortando o centro em várias direções — as avenidas Mem de Sá, Salvador de Sá, Marechal Floriano – exigiram o arrasamento de morros, como o do Senado, e a demolição de moradias e casas de comércio que se encontravam no trajeto das “vias do progresso”.

Imaginem que charmosas seriam hoje essas estruturas coloniais na nossa cidade? O Rio parecia muito com Lisboa, dizem. Mas acho que devia mesmo ter a cara de uma enorme Paraty.

Logo depois desta foto tudo mudaria no “Districto Federal”, que ganharia ares parisienses em sua região central. Para logo depois quase tudo ser demolido. Esta nossa cidade, tão linda, sempre foi urbanisticamente esquizofrênica. E gravemente desigual.

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*Daniel Sampaio é advogado, memorialista e ativista do patrimônio. Fundou o Instagram @RioAntigo e é presidente do Instituto Rio Antigo.

 

 

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