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Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação
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Um picolé carioca

Comida sempre foi troço que me arrancou da fossa. Mudanças drásticas na alimentação acontecerão nos próximos anos e estou aqui para contar

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Atualizado em 7 fev 2020, 19h14 - Publicado em 7 fev 2020, 17h18

Ainda dava pé, mas só com a pontinha dos dedos. Tinha uns 9 anos. A água me ninava, gelada, meus braços giravam, abertos; estava quase boiando e me virei para a costa. Tentava avistar os amigos e mostrar que já ia bem longe, valente, quando ouço uns gritos: “É ela! É ela!”. Ela quem?… Um mundaréu de olhos se pregava em algo atrás de mim. Torci o pescoço e a muralha imensa de água me ameaçou e calou lá do alto, ainda armada, antes de desabar sobre minha cabeça.
“ELA” era a onda perfeita e gigantesca, cobiça de surfista.

A massa violenta me encravou no fundo, enquanto todo um oceano me era enfiado boca adentro, sal em brasa. Rolei submersa agarrada na espuma como um pião desgovernado, sem entender o que era superfície, norte ou sul. Quando achei que ia acabar, já sem fôlego, me pisaram as costas, atropelei umas pernas e tentei me agarrar em outras. Por fim, arrastada, arranhada e quase perdendo os sentidos, estacionei exausta junto aos pés da criança loirinha e gorducha que chorou com a minha chegada.

Me sentei ainda frouxa e tonta, olhos arregalados de quem encarou a morte, e aspirei o ar com um urro sem que nenhum amigo visse nada. Achei que ia chorar, alguém me chama pra brincar. Antes que pudesse contar qualquer coisa, vejo o sorveteiro que abastecia minha coleção de palitos com ‘sei lá o quê’ escrito. Chamei “Ô, picolé! Ô, picolé!!” e engoli o sorvete, ansiosa.

No palito, os dizeres: “vale outro picolé Yopa”. Gritei de alegria!

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Comida sempre foi troço que me arrancou da fossa. Vai ver foi por isso que escolhi viver uma vida ao redor da mesa. Alimentação, transformações na gastronomia, o gosto do passado, do futuro e tendências no mundo dos restaurantes são meus temas de pesquisa há mais de 20 anos.

Nossas escolhas não serão mais simples, nossos desafios serão imensos. Aquela frase de avó: “não deixe comida no prato! Tem tanta gente passando fome no mundo!” nunca esteve tão atual.

Mudanças drásticas na alimentação fora e dentro do lar acontecerão nos próximos anos e estou aqui para contar.

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Precisaremos alimentar 10 bilhões de pessoas em 2050, com qualidade nutricional, diversidade de produção e sustentabilidade. Parece difícil? É. Mas acredito que com perseverança, informação e educação, reerguemos uma cidade, transformamos o mundo.

A volta da Veja Rio é como a lembrança desse dia na praia: vem tombo, caldo, crise e afogamento como uma onda assim do nada, mas o negócio é levantar, sacudir a areia e focar no sorvete.

Cristiana Beltrão é restauratrice e proprietária da marca Bazzar de Alimentos. É pesquisadora dedicada e palestrante nas áreas de gastronomia e alimentação há 20 anos.

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