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Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação
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A grama do vizinho

Os restaurantes em Nova York e a vida pós-Covid

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 out 2021, 09h11 - Publicado em 1 set 2021, 13h18

Cá estou, sentadinha na grama do vizinho. Aquela, que costumava ser mais verde. Daqui do meu banquinho consigo ver esse pedaço cheio de lama, um trecho meio ressecado e, logo ali na frente, tudo amassado. É duro sentir que Nova York não é mais a mesma.

Trabalho e família me fizeram voltar à cidade quase todos os anos e desde muito cedo, vivendo todas as suas fases e enxergando as coisas com os olhos que podia ter, então.

Diziam que era violenta, na minha infância. Isso, não vi. Só me lembro dos prédios imensos, da tecnologia, das máquinas de venda automáticas, além das pequenas coisas que não tínhamos no Brasil, tão bobas quanto os Juicy Fruit que trazia na mala e os papéis de carta (alguém ainda sabe o que é isso?) da Hallmark.

Com os anos e a globalização, o abismo tecnológico foi encurtando, mas voltar para o Brasil sempre foi difícil. Dessa vez foi o inverso: voltei a Nova York sem me preparar para a cidade desfigurada pela peste.

Para começar, Nova York sem turistas é bem esquisita. Não há aquela abundância de línguas distraídas pelas ruas, enchendo lojas, comprando, comprando, comprando… Com raras exceções, como eu, todos moram por aqui. As visitas ficam por conta de quem vem de cidades vizinhas ou do subúrbio. Com a crise, ninguém compra nada.

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“A cidade que nunca dorme” agora dorme nas ruas. Um passeio pela Times Square me derrubou e fez lembrar aquelas almas murchas despejadas pelo Centro do Rio, aqui ainda mais minúsculas diante dos arranha-céus.

Na última Primavera, o Departamento de Serviços para Desabrigados realocou 10.000 pessoas que entupiam abrigos e mandou para hotéis e centros de convenção esvaziados por conta do Covid. Ainda assim, muitos ainda estão por lá, diante daqueles imensos letreiros de um colorido sem sentido, já que os shows ainda não voltaram.

Tentei um restaurante afetivo, logo no primeiro dia. Fechou. Em seguida, catei outros 4, sem sucesso. Além dos tristes fechamentos e, assim como no Brasil, vários estão com horários e cardápios reduzidos e só abrem à noite ou em menos dias da semana.

O nível médio das gorjetas, que chegou a 25% na época em que as vacas eram gordas, agora anda a 18%. Para nós, tanto faz, já que com esse câmbio, tudo dói.

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Há alguns dias, soube pela amiga Mari Campos (que tudo sabe, tudo vê, em termos de turismo) que alguns hotéis aqui começavam a exigir que seus hóspedes fossem vacinados. Nos restaurantes, já é obrigatório apresentar a cartela de vacinação na entrada, com as duas doses. Quem não tem, pode se sentar na área externa, quando disponível.

Aliás, as “varandas” são um capítulo à parte. Cada uma a seu estilo, como um grande desfile de contêineres de personalidades diversas: alguns cobertos de plantas artificias; outros minimalistas, nórdicos; e ainda há aqueles com cenário bem montado, com candelabro, velas e toalhas de tecido forrando as mesas. Vários são tão fechados que não se tem a sensação de ar livre. É outra paisagem.

Não é conforto algum saber que o vizinho está sofrendo tanto quanto a gente, mas tenho a certeza de que aqui a coisa volta mais rápido. É impossível não torcer por essa cidade, pela recuperação desse coração pulsante, de culturas tão diversas. Todos aqui estão ansiosos para receber o Mundo de volta, do jeitinho que o conheciam. Vai ser linda essa estreia.

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