Por toda a cidade se vê abricó de macaco, aquela flor linda, dependurada, que tem cheiro pior que gambá, quando cortada. Não à tôa está pelo Rio de Janeiro inteiro. Desde os tempos da Côrte, nosso Estado vive assim: lindo e dependurado.
Já vivemos agarrados aos favores da Corôa, já adoramos ser capital-candelabro-burocrático (tem um departamento aqui, pendura outro ali pra ficar simétrico), já dependemos de empresário salva-pátria “que investia mais que Governo” ou, ainda, dos royalties do petróleo.
A iniciativa privada não tem onde se pendurar.
O decreto de hoje que determina que restaurantes só funcionem até às 17hs é de uma miopia ímpar.
Já estamos trabalhando com 40% da capacidade, com distanciamento e protocolos e não faz nenhum sentido lógico CONCENTRAR os horários de movimento em vez de diluí-los em mais turnos.
E mais: avisar com um dia de antecedência, quando os estoques de mercadorias já estão comprados para os turnos de jantar do fim de semana é de uma crueldade irresponsável.
Que belo presente de aniversário da cidade o Prefeito nos deu.
As festas e as aglomerações que acontecem a todo momento, aos olhos de todos e no meio da rua, não têm nenhuma fiscalização. Já a atividade que mais emprega é a que vai sofrer.
Não é a pandemia que nos derruba. Somos solidários e conseguimos passar por isso. São atos incongruentes com viés político, que não resultarão em menor ocupação de leitos ou menos mortes.
Sou totalmente favorável a medidas restritivas que ataquem o problema real, mas lojas e restaurantes com limite de ocupação, não são o vilão. Sobretudo, e não menos importante, precisamos falar da responsabilidade individual, de gente se acotovelando pelas ruas, tomando cerveja em torno de um isopor. Meus amigos, o Estado não pode ser responsável pela SUA falta de consciência.
O Rio de Janeiro é mais do que uma carinha bonita. O Rio merece um PROJETO, e não mais um decreto ilógico.
Para além da situação imediata, nossos governantes devem se habituar a enxergar além do próprio mandato e ter um projeto para a cidade, no longo prazo.
Em um ano, completaremos 30 anos da ECO 92. Não somos uma cidade industrial, felizmente. Deveríamos, ao contrário, buscarmos ser a capital da sustentabilidade da América do Sul, em 10 anos.
Estamos quebrados? Claro. Mas o dinheiro da iniciativa privada para projetos sustentáveis, não só no Brasil como no Mundo, só cresce, dado que esse trem vai bater. Poderíamos buscar parcerias com a União Europeia, cidades irmãs mundo afora, e aprender com suas iniciativas.
Em 2050 haverá 10 bilhões de pessoas consumindo nossos recursos finitos. O Rio de Janeiro deveria ser um exemplo de cidade do futuro, direcionando nossos parcos e finitos recursos para projetos de sustentabilidade. Tomemos os recursos do petróleo e transformemos em energia limpa. Seria lindo.
Deveríamos tomar a linda ideia do Washington Fajardo de revitalizar o centro e equipar aqueles prédios, os esqueletos vazios do que já fomos, com placas solares, unidades para captação de água da chuva, compostagem. Deveríamos transformar as bancas mortas em hortas urbanas, vivas. Deveríamos desonerar de impostos e desburocratizar toda a abertura e funcionamento de empresas sustentáveis, todos que quisessem adaptar nossos teatros, museus, cinemas e negócios, em empresas com um propósito único. O Governo só não precisa atrapalhar.
O que nos falta é uma boa dose de responsabilidade individual e uma causa comum a perseguir, com um bom direcionamento dos recursos públicos.
Somos uma cidade de espaços e mentes abertas, como diz o slogan da Nova Zelândia, o lugar mais parecido com o Rio de Janeiro que eu já vi.
Precisamos buscar os exemplos certos e não baixar os decretos errados.