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Por Cristiana Beltrão, restauratrice e pesquisadora de gastronomia e alimentação
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Guias e prêmios. Melhor não tê-los?

os eleitos pelo Best Chef Awards e a polêmica de sempre

Por Cristiana Beltrão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 set 2021, 20h25 - Publicado em 16 set 2021, 17h10

Mas que Best Chef Awards é esse?

Ouvi mais de 20 vezes a pergunta ontem, quando chefs, foodies e jornalistas começaram a distribuir fotos e parabéns nas redes sociais, aos premiados nesse ranking que mais da metade do Brasil nunca ouviu falar.

Como tenho anos nessa estrada e sou e fui jurada, secreta ou aberta, de tantos prêmios similares, ora vivos ou mortos, eu já vi esse filme.

Sai um ranking e começa o blá blá blá! Alguns concordam parcialmente, outros discordam furiosamente e a grande maioria não tem a menor ideia do que estamos falando. Mas mesmo os distraídos, um belo dia e sem que se apercebam, serão profundamente influenciados pelos prêmios que surgiram no caminho, graças aos algoritmos que valorizam o burburinho e influenciarão suas buscas.

Os desconfiados, vira e mexe questionam a imparcialidade dos critérios. No caso específico da premiação de ontem, que tem foco em chefs e não em restaurantes, a eleição começa com uma lista de 200 nomeados. Tem sempre alguém que pergunta: quem escolheu os 200 da lista inicial? Qual foi o critério? Quem foi a “panelinha”? Depois, informam que a lista também inclui “100 rostos novos”. E ouço mais perguntas: quem escolheu os novos? Por que tantos países estão fora da lista?

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Inaugurei o Bazzar em dezembro de 98. Eram tempos de guia no papel, como o da saudosa Danusia Barbara e críticos anônimos no jornal, como o genial Apicius. Era o gosto DE UM que ditava a moda. Mas já em 2000 veio lá um garoto (éramos todos) chamado Alex querendo conversar sobre o primeiro guia de restaurantes digital do Brasil, que acabara de lançar: chamava-se Via-Rio.

Em 15 minutos de conversa, entendi que Alex Pinheiro era um visionário, que aliás brinca sobre o assunto: “Deus é um cara justo. Me deu a capacidade de ver o futuro, mas tirou a paciência de esperá-lo”. Decidiu partir para outras frentes e não esperar o sucesso do guia (que, tenho certeza, viria), porque decidiu emprestar sua visão para a área de educação, onde foi e é CEO fundador de várias empresas, inclusive de uma listada na NASDAQ.

Segundo Alex, o que mudou profundamente nos últimos 20 anos foi a forma de comunicação, não a necessidade de compartilhar experiências. Para ele, os guias analógicos não perderam sua função, mas têm sua origem num modelo centralizador, numa sociedade na qual o compartilhamento plural é vital. E está certo. Não à tôa, o Trip Advisor ganhou o mundo graças ao alcance absurdo que o digital permite, aliado à valorização da democrática opinião popular.

Quanto à abrangência dos guias digitais, sempre haverá espaço para critérios excludentes, já que no mundo foodie, assim como na moda, “democracia” é algo relativo. Apesar do digital transcender fronteiras, a escolha dos jurados é sempre um filtro, justo ou não. O que acontece no momento seguinte às premiações, portanto, são as opiniões inflamadas, os protestos de “absurdo!”, ”que injusto!” etcetera e tal. Jurados e eleitos, sempre serão suspeitos, mas a verdade é que o problema não está em “mais um guia” – até acho isso bom – está em nós.

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Na análise de um restaurante, assim como em tudo na vida, não conseguimos nos despir das paixões, das influências, do momento, do “lastro” das grandes marcas, do ambiente, da companhia e tantos outros fatores que podem subsidiar críticas injustas, daí os protestos, especialmente de quem conhece a fundo o setor.

Há quem queira explodir os prêmios. Discordo. O que me preocupa é a obediência cega às notas, listas e rankings, mas isso fala da maturidade de cada um e do ambiente cultural em que vivemos. O que me incomoda é o olhar de rebanho sobre os críticos, porque ainda que digamos que não, buscamos o consenso, conforto e “aceitação” na opinião de terceiros, a despeito do nosso gosto pessoal.

Como jurada, sempre ponderei: minha opinião vale alguma coisa? Sei lá, mas é uma opinião de quem ama o que faz, e o faz há muito tempo. Essa é a filosofia que adoto por trás de qualquer degustação, seja de comida, bebida ou música. Bom é tudo aquilo que me arrebata, e aí posso falar de uma infinidade de restaurantes “menores” ou “cheios de defeitos”, que me encantaram por estar com a companhia certa, ou por virem na hora certa. São estes, principalmente, os que recomendo e escolho para a vida.

Nesse momento, lembro com carinho da imensa emoção que tive ao receber o prêmio de “Restauratrice do Ano”, em 2012, pela Veja Rio. A revista, aliás, faz 30 anos em setembro, e sua seção dedicada ao meu assunto preferido, a “Comer & Beber”, faz 25 anos em 2021. O mais importante naquele prêmio foi justamente “quem o concedeu”, já que admiro o veículo e os jurados.

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Como sempre digo: a quem serve o consenso dos críticos? A ninguém. Viva a abundância de guias, faça as suas visitas e seus rankings, e parabéns pela opinião divergente. Afinal não existe melhor do mundo, existe, sim, o melhor DO SEU MUNDO.

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