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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro
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Samuel Morse, Senador Euzébio e Cruz Lima

Conjunto de ruas no coração do Flamengo conserva e retrata bem os tempos áureos do Rio O ano é 2012, mas a paisagem de algumas ruas do Rio ainda poderia corresponder aos anos 30 e 40 se não fossem os automóveis do século XXI e o vestuário descolado dos pedestres. Basta jogar um efeito vintage […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h30 - Publicado em 3 jan 2012, 03h11

Conjunto de ruas no coração do Flamengo conserva e retrata bem os tempos áureos do Rio


O ano é 2012, mas a paisagem de algumas ruas do Rio ainda poderia corresponder aos anos 30 e 40 se não fossem os automóveis do século XXI e o vestuário descolado dos pedestres. Basta jogar um efeito vintage do Photoshop em fotos atuais da Rua Samuel Morse, no Flamengo, que o leitor poderá se convencer rapidamente de que o registro se passaria perfeitamente como antigo. Não, não é. Graças à belíssima arquitetura do conjunto de ruas formado pela Samuel Morse, Senador Euzébio e Cruz Lima, é possível caminhar por um Rio de Janeiro daqueles tempos áureos, que esbanja história, sem precisar de máquina do tempo.

A esquina da Rua Samuel Morse com a Avenida Osvaldo Cruz, para mim, é uma das mais simpáticas da cidade. Não só porque a iluminação local parece estar sempre nublada, devido ao mar de árvores que proporciona sombras em todas as épocas do ano, como também pelo desenho ímpar dos edifícios do Flamengo. Na citada esquina, a imponência da portaria do edifício que fica ali me causa certa excitação pela beleza estonteante. Sustentada por duas colunas, tem um vão interno por onde supostamente passariam os automóveis a fim de que os passageiros desembarcassem. O desenho do portão de ferro é todo moldado em detalhes sinuosos, agraciado por uma escadaria de quatro degraus que vai se abrindo de cima para baixo, margeada por corrimãos de bronze. Edifício muito classudo. Desse tipo, só se vê no Flamengo ou em Copacabana, lá pelos lados da Avenida Rainha Elizabeth.

A Rua Samuel Morse é bem pequenina e termina na confluência das ruas Gabriela Mistral, outra ruazinha simpática e bem miúda, e Senador Euzébio, por onde continuei minha expedição, embasbacado pelo que via adiante. Desculpem-me os pouco apreciadores de arquitetura, mas não posso deixar de falar dos edifícios gêmeos Hicatú e Itaiúba, construídos em 1933, que são os mais bonitos e elegantes que já vi do gênero art déco. Uma vez li sobre um arquiteto que falava sobre a hipervalorização da arquitetura antiga em detrimento da atual, principalmente nessa polêmica das grandes urbes em demolir ou não imóveis antigos para levantar novos. Que não era bem assim, que o que se projeta e constrói hoje tambem é digno de valor e de beleza. Há controvérsias, é claro, e depois desse relato eu comecei a ser mais tolerante com esses blocos de concreto espelhados que andam pululando pelo Rio. Mas nada, nada vai tirar nem substituir o charme do art déco carioca, por mais ultrapassada e pouco sustentável a sua estrutura possa ser para a época de agora.



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E não é só a fachada dos edifícios que te traz a sensação de estar no Rio de meados do século XX. Esse pedaço do Flamengo, apesar do luxo exaltado, tem cheiro e cores de ruas velhas, que beiram a decadência. Os próprios gêmeos, Hicatú e Itaiúba, por exemplo, carregam um aspecto encardido, e mesmo assim são os dois cheios de pompa. Quanto ao olfato, o odor do velho lembra naftalina, paira no ar e torna-se mais acentuado quando os portões das garagens se abrem ou fecham. É como se fosse bafejado um hálito nostálgico de dentro desses prédios. Isso contamina toda a Rua Senador Euzébio, já escurecida pela ação dos anos em suas marquises e postes. Essa essência não é captada facilmente, e talvez nem exista, podendo ser fruto da minha imaginação. Como eu me aprofundo demais em cada detalhe das ruas que visito – só na Samuel Morse, a rua pequenininha, fiquei uns 30 minutos olhando, olhando e olhando –, meus sentidos acabam ficando mais aguçados, modéstia à parte.

No final da Rua Senador Euzébio, vê-se o resquício de uma antiga luminária toda cheia de estilo, destoando dos postes cinzentos e feios mais atuais, e a fachada do Hotel Argentina, bonitinho, mas pouco badalado. Aliás, os hotéis do Flamengo têm esse aspecto meio low budget. Gosto de todos eles, principalmente do Paysandú, na rua de mesmo nome, que serviu de hospedagem para a seleção do Uruguai na copa de 50. Se fosse turista no Rio, optaria por quartos nessa região do Flamengo. Não tem jeito, meu lado conservador fala mais alto nessas horas.

Entrei, por fim, na Rua Cruz Lima em direção à Praia do Flamengo. Essa rua também é tão bacana e aconchegante quanto as outras percorridas. No entanto, diferente do Hotel Argentina, temos ali o Golden Age Intelligent Flat, mais modernoso na aparência e no nome, em inglês – idioma obrigatório nessa “arquitetura contemporânea”. A sensação de velharia voltou logo em seguida ao passar pela vitrine do antiquário-brechó Andaças e Lembranças, no número 25 da Cruz Lima. Meti discretamente o rosto para dentro da simpática loja e por um momento pensei: “tudo o que esses prédios antigos do Flamengo já abrigaram de objetos e vestuários luxuosos devem estar aí”. São muitas roupas, castiçais e algumas bonecas de porcelana. À mulherada que curte, acho que vale a pena dar uma passeada por lá.

Chegando ao final da Cruz Lima, a calçada fica estreitinha, coberta por um antigo desenho de pedras portuguesas. Duas margens de pedras pretas recheadas por uma sucessão de losangos na cor vinho, realçadas pelo fundo branco das pedras brancas. De um lado, um fusca vermelho. E na minha frente, uma autêntica luminária antiga – dessa vez, inteirona! Não é possível… Que belezinha! Tudo combinando com o Edifício Dumont, o dono do pedaço, charmosão, mas meio decadente. O contraste da portaria elegante com os fios soltos de uma antiga lâmpada da própria fica ainda mais triste com a sujeira do entorno. Não faz mal, ele é bonito de qualquer jeito! E a luminária-belezinha, mais ainda. Saí de lá com várias fotos dela, de todos os ângulos.

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