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Blog sobre as ruas do Rio de Janeiro
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Rua Joaquim Rego, Olaria

Dessa vez o As Ruas do Rio foi conhecer a Rua Joaquim Rego, no bairro de Olaria, e se encantou com as figuras católicas no topo de suas fachadas e com o clima de boa vizinhança O flamboyant. Mesmo com o calor severo do verão carioca, conseguimos algumas sombras… por Pedro Paulo Bastos “Não está sendo fácil”, […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 18h49 - Publicado em 13 jan 2014, 02h54

Dessa vez o As Ruas do Rio foi conhecer a Rua Joaquim Rego, no bairro de Olaria, e se encantou com as figuras católicas no topo de suas fachadas e com o clima de boa vizinhança


O flamboyant. Mesmo com o calor severo do verão carioca, conseguimos algumas sombras…

por Pedro Paulo Bastos

“Não está sendo fácil”, já dizia o refrão da canção “Qualquer jeito”, interpretada pela cantora Kátia em 1987. O verão carioca não está sendo fácil. Se o sol vem castigando até mesmo quem está à beira do mar, o que dizer, então, daqueles que moram ou precisam resolver pendências pelos bairros mais continentais. Era esse o meu dilema no último sábado ao embarcar num ônibus para Olaria, no subúrbio da Leopoldina. Eu poderia muito bem ter adiado o passeio fotográfico. Quem sabe deixasse para ir durante o outono, quando os termômetros estivessem marcando temperaturas mais amenas e não aqueles 47 graus centígrados como na manhã em que resolvi ir lá… Por outro lado, dificilmente conseguiria um espaçozinho na agenda de um querido casal de amigos, a Juliana e o Yan, que gentilmente toparam a empreitada – sob o sol escaldante – de me acompanharem nessa minha jornada com o As Ruas do Rio.

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“Não conheço nada daqui, não sei nem um pouco o que você poderia fotografar”, avisou-me, de antemão e com bom humor, a Juliana, quando a encontrei na porta de sua casa após ter me perdido pelas ruas mal sinalizadas de Olaria. Já arrisquei uma teoria, certa vez, que os postes de rua oficiais da Prefeitura se restringem aos bairros mais centrais ou com maior movimentação de pessoal, pois eles têm uma função, hoje, muito mais publicitária do que de serviço à população. Andando por Olaria vi que isso pode ser uma grande verdade, principalmente quando o Yan, cria da região, parou, de repente, enquanto passávamos pela rua vizinha à da namorada, e resolveu perguntar a um camarada: “Pô, cara, que rua é essa aqui mesmo?”. Antes da abordagem, já havíamos procurado, rapidamente, por todos os muros à nossa volta, alguma mísera plaquinha que nos assinalasse a localização. E necas.


A praça. Panorama da quadra poliesportiva na Praça Oliveira Campos – ou melhor, a “Quadra Azul” – com o edifício de estilo “romântico ao fundo”. Ao lado, mesas e cadeiras de cimento rodeadas, infelizmente, de lixo.


Detalhes. A homenagem a Nossa Senhora da Penha e, à direita, o edifício, mais moderno, na esquina com a Rua Paulo de Andrade.

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Rumamos em direção à Rua Joaquim Rego, quase na divisa com o bairro de Ramos. Na falta de sugestão da parte deles – reconheço, em defesa do casal, que sou eu, na verdade, o rato de ruas da conversa, então, tudo bem –, decidi apostar na referida rua, que, propositalmente, já havia sido previamente estudada por mim através do Google Mapas meses e dias antes. Escolha acertada. A Joaquim Rego pareceu ser um belo exemplo de como a região da Leopoldina, apesar de todas as dificuldades socioeconômicas sofridas ao longo das últimas décadas, ainda pode ser, à sua maneira, charmosa e bem preservada. Sem mencionar o clima familiar, a sensação de boa vizinhança. Há ruas em que é possível sentir uma energia hostil pairando pelo ar, por isso que dou tanto valor à percepção da ambiência dos locais que visito.  

Enquanto a Juliana e o Yan tentavam se refrescar debaixo de alguma sombra, alheios aos cliques da câmera, eu ia percorrendo a Praça Oliveira Campos (mais conhecida como Quadra Azul, segundo o pessoal da vizinhança) em busca dos melhores ângulos, admirando, a todo o momento, o prédio de esquina com a Rua Noêmia Nunes. E me explico: o início da Rua Joaquim Rego é marcado por uma praça retangular que leva esse nome, Oliveira Campos, e a Noêmia Nunes é como se fosse a continuação da Joaquim Rego, mas do outro lado. A Oliveira Campos é uma praça que segue um modelo de quadra poliesportiva, contando, além dela, com alguns equipamentos de ginástica fora da área cercada, já às margens do perímetro. De movimentação, ali, só a de algumas crianças, que conversavam debaixo de uma amendoeira, e a do bar na esquina com a Rua Noêmia Nunes, onde, na parte superior, fica o prédio que tanto me chamou a atenção. A fachada, carente de maiores cuidados, apresenta varandinhas com colunas romanas e cobogós, janelas de madeira originais ao projeto do edifício e uma homenagem azulejada a Nossa Senhora da Penha. Adorável. Um estilo que beira o romântico e que regressa o pedestre aos anos dourados com uma portaria muito majestosa, embora afetada pela ação de vândalos.


O cuidado. No trecho da Rua Joaquim Rego próximo à Quadra Azul, vasos de plantas, como esses da imagem, embelezam o local junto à bandeira do Brasil representada em um dos muros.

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Flora e sombra. O hibisco amarelo é vizinho às folhas e galhos que forneceram sombra para o meu casal de amigos.

Entre flamboyants e amendoeiras, seguimos o passeio pela Rua Joaquim Rego, margeada, no seu trecho próximo à Praça Oliveira Campos, por uma série de vasos de plantas. Não houve nenhum projeto paisagístico, mas o resultado, advindo da melhor das intenções – e do carinho com o espaço público –, transformou aquela calçada em um espaço bastante atrativo e, por que não usar a expressão, fofinho. Bem ao lado, a bandeira brasileira, representada artisticamente num dos muros, assistia ao Fusquinha branco em frente sendo reparado pelo seu dono. Típica cena dos bairros da zona norte, essa, em que os carros são revisados assim mesmo, ao ar livre, sobretudo nos momentos de dar o banho de “borracha” no capô e nos vidros cheios daquela camada meio invisível de fuligem.

“Parece ter sido um padrão de uma época essa coisa de evocar figuras religiosas junto à arquitetura. Padroeiros como Nossa Senhora de Fátima, São Cosme e São Damião e São Jerônimo são alguns dos santos protetores presentes pela via.”

 

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Xeretando a fachada das casas – e como há casas e prédios bem arrumados pela Rua Joaquim Rego! –, foi impossível não apontar a quantidade de referências católicas espalhadas por elas. O mesmo aconteceu na Praça Oliveira Campos, principalmente com o tal do prédio que eu lhes descrevi. Parece ter sido um padrão de uma época essa coisa de evocar figuras religiosas junto à arquitetura. Padroeiros como Nossa Senhora de Fátima, São Cosme e São Damião e São Jerônimo são alguns dos santos protetores presentes pela via. A sua vocação religiosa, no entanto, não fica apenas em torno do catolicismo. Uma mensagem pregada no tronco de uma das árvores avisava: “Por favor, não coloque lixo ou oferendas (a natureza agradece)”. Ou seja, as práticas de umbanda também estão presentes, de alguma forma, por lá. Vale comentar que o calor era tanto, mas tanto, que nem o pobre do plástico que envolvia a mensagem em papel escapou do suor. As gotículas que brotaram no seu interior iam se desmanchando vagarosamente sobre a tinta da mensagem, interferindo, assim, na legibilidade das letras, já um pouco borradas por causa desse efeito. É o verão do Rio.


Vocação religiosa. Figuras de santos no topo das fachadas, como essa de São Jerônimo à direita, e pedidos de não-colocação de oferendas num dos jardins, prática comumemente umbandista.


Opostos que se atraem… O muro sempre horrendo da Supervia comunga, frontalmente, com o gosto duvidoso das cores da casa de festas.

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Se me pedissem para indicar uma paisagem feia no Rio, eu diria, sem titubear, que seria a das ruas que margeiam a linha férrea urbana. Da Mangueira à Madureira, de Benfica à Vigário Geral, os muros da Supervia são horrorosos. Cinzentos. Alguns grafitados, é bem verdade, o que diminui o impacto negativo do conjunto da obra, mas a ambiência que eles proporcionam ao espaço urbano é muito cruel. E a Joaquim Rego termina exatamente de frente para a linha férrea, nas proximidades da estação de Olaria. Contrariando a regra da “rua cinzenta”, na esquina com a Rua Leopoldina Rego, cara-a-cara com o muro torpe da Supervia, uma casa de festas infantis preencheu, artisticamente, toda a extensão do seu muro com balões festivos coloridos sobre um verde-limão, de fundo, pra lá de berrante. Sem dúvidas, opostos que se atraem.

Post-scriptum: Obrigadaços especiais à Juliana e ao Yan! ♥

Post-scriptum II: Obrigado ao leitor Miguel Gustavo, que me informou que a Praça Oliveira Campos é mais bem conhecida no bairro como Quadra Azul. Inseri o apelido da praça em alguns trechos da crônica!

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