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Rua do Catumbi

Welcome to Catumbi! Um singelo passeio pela rua principal do bairro que todo mundo acha que se limita a um viaduto. Vista para o Santuário Paróquia Nossa Senhora da Salette, no Catumbi, com a divertida placa criada pelo grupo de intervenção urbana Coletivo Filé de Peixe, em junho passado. por Pedro Paulo Bastos Uma moça me […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 19h19 - Publicado em 4 set 2012, 01h41

Welcome to Catumbi! Um singelo passeio pela rua principal do bairro que todo mundo acha que se limita a um viaduto.


Vista para o Santuário Paróquia Nossa Senhora da Salette, no Catumbi, com a divertida placa criada pelo grupo de intervenção urbana Coletivo Filé de Peixe, em junho passado.

por Pedro Paulo Bastos

Uma moça me observava risonha. Ela arrumava as bananas e laranjas da sua pequena vendinha, em frente ao Cemitério São Francisco de Paula, enquanto eu enquadrava com a câmera uma paisagem ao longe. “É o Cristo”, falamos os dois juntos, eu com exclamação, ela, interrogação. Conversamos rapidamente sobre os melhores ângulos para se avistar o Corcovado naquela região. Discutimos, também, o alcance do zoom da máquina. Despedimo-nos com um ”até logo” e voltei para o (meu) fantástico mundo das ruas do Rio. Observei o meu entorno em uma espécie de 360 graus – agora, sob outra perspectiva, a de um pedestre, e não mais a de um passageiro de algum ônibus ou automóvel. O Catumbi é um daqueles locais que chamamos de “zona de passagem”. De tão minúsculo diz-se que mal existe, que é sem vida. Percebi que não… não mesmo.

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As histórias sobre o lugar são as piores possíveis. Arrastão, tiroteio no Morro da Coroa, gente morta sobre a calçada, cracudos debaixo do elevado que conecta o Túnel Santa Bárbara. O receio em circular por ali, para quem é de fora, é um pouco mais acentuado diante da “má fama” que tanto nos leva a pensar negativamente. Entretanto, a minha impressão como pedestre na Rua do Catumbi fora a melhor possível. De tão soleado que estava a manhã, iluminação recorrente desses dias agradáveis de inverno atípico aqui no Rio, tudo parecia estar mais alegre com o colorido dos letreiros e azulejos, que ficavam ainda mais em evidência. A surpresa foi em ver a quantidade de pessoas circulando pela Rua do Catumbi. Parecia uma feira a céu aberto, com gente pra lá e pra cá, cumprimentos, celebrações, papos de portão, outros “até logos”. Quase o Divino da novela das oito.


Pequena vendinha de frutas em frente ao cemitério São Francisco de Paula, que é rodeado também por floriculturas, uma praça cercada, e o Corcovado.


O Morro da Coroa, ao fundo da imagem à esquerda, com o final do Elevado 31 de Março, e uma placa de trânsito.

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Algo interessante de se observar foi o contraste entre o aspecto do cemitério São Francisco de Paula, que, naturalmente, abriga sofrimento e tristeza, e a energia totalmente diferente do seu espaço externo. No Caju, por exemplo, ou nos arredores do cemitério São João Batista, a impressão que se tem é a de que todas as ruas do entorno se afundam no mesmo baixo-astral. Nem mesmo os lançamentos imobiliários voltados para a classe média parecem acabar com aquela energia, no caso de Botafogo. Tudo tão cinza, monótono, melancólico. No Catumbi, pelo menos naquele momento, o que estava morto do lado da necrópole parecia se transformar em vida, sob uma potência gigantesca, nas relações sociais do bairro.

Eu ♥ Catumbi

Volta e meia, nos contos e romances clássicos, de autores como Machado de Assis ou Aluísio Azevedo, o “esquecido” Catumbi é citado como moradia de algum barão ou comerciante influente daquele Rio de outrora. No entanto, sua evolução urbana não fora acompanhada nem preservada. Seu caráter histórico não foi convertido em um viés mais turístico. Mesmo assim, algumas recentes intervenções urbanas parecem ter resgatado um pouco da auto-estima perdida – ou, pelo menos, não tão evidenciada. Quem entra na Rua do Catumbi através da alça de acesso que vem da Rua Doutor Ladgen logo se depara com uma placa bastante inusitada. “Welcome to Catumbi“. Assim, em inglês mesmo. As compreensões diante daquilo são infinitas. Certa vez um amigo me comentou que parecia uma saudação de “boas-vindas” aos gringos que, por acaso, aparecessem ali em jipes, como se estivessem num safári. Na minha exploração, encontrei outras pequenas intervenções, não tão nítidas, que exaltavam amor e carinho ao bairro, como o “Eu ♥ Catumbi”. Não é possível que haja sarcasmo nisso. É apenas a devolução de um pouco de fantasia e humor a um bairro muito maltratado pelas obras viárias paupérrimas em planejamento.


Ponto de ônibus antigo na Rua do Catumbi, no modelo dos que existiam em todo o Rio até a década de 90. Ao lado, o comércio predominante da Rua do Catumbi, como madeireiras e vidraçarias, que funcionam dentro de antigas residências.

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Outro exemplo de imóvel antigo na esquina com a Rua Valença, onde funciona um bar que, em frente, conta com um belo de um ipê rosa.

O tal do maltrato é refletido no estado de conservação das casas, edifícios e praças na rua. Nas transversais da Rua do Catumbi, como as ruas Valença, José Bernardino e do Chichorro, é possível estar em contato com imóveis seculares bastante simpáticos mas parcialmente destruídos pela ação do tempo e do descaso. A abertura do Túnel Santa Bárbara, em meados do século XX,  embora vantajosa para a política rodoviarista, exterminou a essência residencial do Catumbi. Além da população marginalizada que ocupa as encostas, toda a originalidade dali parece estar contrariada. Como mostra o saudoso professor Maurício de Abreu em seu livro Evolução Urbana do Rio de Janeiro (IPP), “formas morfológicas antigas podem ser chamadas a realizar funções totalmente distintas daquelas para as quais foram criadas”. Essa frase poderia se encaixar em qualquer contexto urbano degradado, mas na Rua do Catumbi é mais encaixável diante do seu caráter, até então, exclusivamente residencial. Pelo menos se vê uma reinvenção de um espaço que precisou se adaptar às agruras da cidade grande. Da época áurea – não me refiro à elite, mas sim às belezas -, o que restam mesmo são algumas poucas lindas árvores, como o ipê rosa em frente à Rua Valença.


Os dois elementos mais chamativos da rua: o Santuário Paróquia Nossa Senhora da Salette e os Arcos da Apoteose.

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Duas outras coisas chamam muita a  atenção na Rua do Catumbi. Primeiro, os Arcos da Apoteose, parte do sambódromo, que fica logo em frente. Segundo, o Santuário Paróquia Nossa Senhora da Salette, fundado em 1914. De estilo gótico, ele tem uma torre bastante extensa, podendo ser vista de muitos cantos de Santa Teresa, Rio Comprido e do próprio elevado do Túnel Santa Bárbara. Não é tão comum que eu goste de igrejas. Mas essa, particularmente, me deixou bastante agraciado. Talvez pelo seu aspecto magrinho, estreitinho. Acredito que possa ter sido também pelo fato de que eu o vi tantas vezes ao longo da minha vida, bem de longe, e só agora é que tive a oportunidade de confrontá-lo. A influência saletina é tanta pela Rua do Catumbi que seu nome pipoca em diversos nomes de estabelecimentos comerciais. Farmácia, vidraçaria, mercadinho…

Letreiro antigo: FUNERÁRIA

Falando em nomes de estabelecimentos, é interessante observar os seus letreiros. Se por um lado há uma crítica ferrenha às faixas coloridas impressas em gráficas, por projetarem uma maior poluição visual, o que dizer então dos antigos letreiros de plástico caindo aos pedaços? Na Rua do Catumbi, essa mistura de tipografias e informações fica bem evidenciada. Sintetiza bastante a falta de renovação do comércio local e a de compromisso – ou valor – com a estética visual. Não muito longe dali, na Rua Frei Caneca, há letreiros bastante antigos que sempre me comovem de certa forma. Fico ainda mais em êxtase ao notar, por exemplo, os algarismos que compõem o número do telefone da loja ao lado do seu nome. É possível medir a idade deles através da quantidade de dígitos do prefixo. Foi a partir de junho de 2001 que o Rio foi contemplado com o acréscimo de um “2″ ou um “3″ no início da sequência. No Catumbi, o melhor exemplo é o de uma portinhola onde funciona uma agência funerária. O prefixo 293 esta lá, cuidadosamente adaptado.

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