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Rua Adalberto Aranha, Aldeia Campista

Entre a Tijuca e Vila Isabel está a Rua Adalberto Aranha, no coração da Aldeia Campista, antiga região boêmia e proletária da zona norte carioca Rua Adalberto Aranha. A esquina com a Rua Antônio Salema e o Maciço da Tijuca ao fundo. por Pedro Paulo Bastos Imortalizada pelo seu mais ilustre morador, o jornalista, escritor […]

Por Pedro Paulo Bastos
Atualizado em 25 fev 2017, 18h47 - Publicado em 17 fev 2014, 18h31

Entre a Tijuca e Vila Isabel está a Rua Adalberto Aranha, no coração da Aldeia Campista, antiga região boêmia e proletária da zona norte carioca


Rua Adalberto Aranha. A esquina com a Rua Antônio Salema e o Maciço da Tijuca ao fundo.

por Pedro Paulo Bastos

Imortalizada pelo seu mais ilustre morador, o jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, a Aldeia Campista é mais uma daquelas regiões que entraram para o rol de bairros que não constam mais nos mapas oficiais da cidade do Rio tal como o Bairro Peixoto, o de Fátima ou a Boca do Mato, por exemplo. Não sei dissertar, e tampouco fiz pesquisa, sobre o porquê de estes bairros terem tido a sua representatividade reduzida. Talvez seja pelo território diminuto ou pelo número irrelevante de habitantes, quem sabe. Este é o caso da Aldeia Campista, que, além disso, ninguém sabe ao certo quais são seus limites enquanto “sub-bairro”, muito embora seu conjunto de ruas tenha sido incorporado ao território de Vila Isabel, na zona norte do Rio. Ou seja, toda aquela região compreendida entre as ruas Barão de Mesquita, Maxwell e Gonzaga Bastos etc., é o que se poderia chamar de Aldeia Campista. A Rua Adalberto Aranha, que lhes apresento a partir de agora, está nesse “miolo”.

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Eu, na verdade, havia iniciado o meu passeio pela Rua Antônio Salema, rua perpendicular à Adalberto Aranha. Rua muito simpática, diga-se de passagem, com casinhas primorosas, e que mostra de forma bastante interessante ao pedestre a dinâmica residencial nesta faixa de transição entre a Tijuca e Vila Isabel. A Aldeia Campista ainda continua sendo, de certa forma, um local majoritariamente de casas e edifícios baixinhos dos anos 50, mas cujo boom imobiliário dos anos 80 e 90 fez levantar uma série de espigões que pairam sozinhos nos ares, em sua maior concentração, nas ruas Pereira Nunes e Gonzaga Bastos. Um bando de casas rodeado por uma ilhazinha de prédios.  Em outras palavras, é a herança do bairro pacato tão bem retratado nos contos rodriguianos só que contaminado pela especulação imobiliária do bairro vizinho, a Tijuca, como vocês sabem, uma região que se tornou muito verticalizada, sobretudo após a construção do metrô.


Sombras. Diferente do entorno, como as ruas Pereira Nunes e Gonzaga Bastos, a Rua Adalberto Aranha é bastante arborizada: jardins com ixoras, cacho-dourados e palmeiras.


Remanescências. Os detalhes das fachadas antigas.

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A Rua Adalberto Aranha é um desses exemplos de como a especulação imobiliária falou mais alto, desconfigurando, assim, muito do que devia ter existido por ali até trinta anos atrás. Mais progressista que a adjacente e mais tradicional Rua Antônio Salema, a Adalberto Aranha é não só sombreada pela sua arborização impecável, mas, igualmente, pelo corredor de edifícios que foram levantados por ali nos anos 80. Tornou-se uma rua típica da classe média tijucana contemporânea: a mistura do velho com o novo, dos azulejos hidráulicos meio lusitanos com o vidro das varandas confortáveis no alto dos prédios, dos muros baixinhos de pedra com as grades de ferro dos portões cujas pontas são espetadas e inibidoras à intrusão. A Paróquia Sangue de Cristo, no número 48, complementa à rua a vocação católica que Tijuca e Vila Isabel emanam no contexto carioca.

“Tornou-se uma rua típica da classe média tijucana contemporânea: a mistura do velho com o novo, dos azulejos hidráulicos meio lusitanos com o vidro das varandas confortáveis no alto dos prédios, dos muros baixinhos de pedra com as grades de ferro dos portões cujas pontas são espetadas e inibidoras à intrusão”

 

Mais adiante, chama a atenção o outrora simpático Edifício Bertioga, no número 16. A porta do edifício, uma singela porta de madeira, apenas, tão peculiar aos projetos hoje vistos como retrôs, é toda coberta por arabescos e pastilhas. Um mimo, como se dizia nos antanhos. Por outro lado, foi entristecedor notar o estado decadente do prédio cuja fachada foi detonada por vândalos e pelo gradeamento irregular das janelas. O próprio espaço do Bertioga com a rua, antes livre, foi cercado por um gradil moderno e que, decerto, mataria de desgosto o autor do projeto. É muito comum que esses edifícios antigos, no Rio como um todo, não recebam o cuidado e a atenção merecida. Sendo assim, o panorama lamentável do Bertioga não é nenhuma novidade, apenas a reafirmação de que nossa história e nossa arquitetura tende a ir para o beleléu em tempos tão pouco apegados à memória como o que vivemos.

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Bertioga. Os arabescos do decadente, mas charmoso, Edifício Bertioga, que sofreu os efeitos da violência urbana através da ação de vândalos e a implantação de gradil.


Na esquina com a Barão. Armazém centenário ainda de portas abertas e, ao lado, na outra calçada, carroça de frutas.


DOI-CODI. Na Rua Barão de Mesquita, em frente à Rua Adalberto Aranha, está o 1º Batalhão da Polícia do Exército.

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Por outro lado, acho que o infortúnio é coisa do edifício Bertioga, porque a Rua Adalberto Aranha, de uma maneira geral, é bem cuidada e aprazível. Jardins suspensos recaem sobre a fachada dos prédios e ixoras colorem os canteiros pelas calçadas. Mesmo estando às margens da Rua Barão de Mesquita, importante artéria da região por onde passam muitos ônibus e automóveis, a Rua Adalberto Aranha é bastante silenciosa e com clima familiar. Os transeuntes são moradores e prestadores de serviço do entorno: estudantes uniformizados, senhoras com sacolas de compras, os ciclistas com entregas das farmácias que os empregam. Enquanto caminhava pela rua, era possível até mesmo escutar conversas ecoadas lá do alto dos apartamentos – os dos primeiros e segundos pisos, é claro.

A esquina com a Barão de Mesquita é onde se situa a arquitetura de maior idade, espectadora das grandes mudanças ocorridas ao longo dos anos na Aldeia Campista. Um sobrado centenário no lado ímpar todo coberto por placas cerâmicas nas cores branca e verde, onde funciona uma clínica podológica, e um armazém, também centenário, com pé-direito alto e múltiplas portarias estreitas e arqueadas no seu topo. Em frente, e intacto, o 1º Batalhão da Polícia do Exército, local das instalações do DOI-CODI, órgão repressor criado pelo Regime Militar na época da ditadura. Foi este suntuoso prédio o palco de torturas que marcaram a história do país. Muito além dos contos de Nelson Rodrigues, por suas calçadas estreitas e algumas ruas meio pastoris, essa Aldeia Campista oferece é coisa para ver e história para contar.

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