Rodrigo Simas: “A bissexualidade ainda é pouco falada”
Em ritmo intenso de ensaios para estrelar a nova versão do musical Hair, que estreia na sexta (4), o ator aborda a liberdade sob diferentes prismas

De dentro do carro, no trajeto entre sua casa no Itanhangá e uma aula de canto no Recreio, Rodrigo Simas aproveitou os breves minutos de folga para conversar com VEJA RIO. O tempo está escasso para o ator de 33 anos, que se prepara para a estreia de seu primeiro musical. A partir de sexta (4), ele irá protagonizar, ao lado de Eduardo Borelli, a nova montagem de Hair, que estreou em 1968 na Broadway, ganhou sua primeira versão brasileira um ano depois e agora volta assinada pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho.
+ “Me senti um estrangeiro”, diz Ailton Krenak
Com aplique nos cabelos, para entrar no clima da trupe hippie que imortalizou canções como Aquarius e Let The Sunshine In, Rodrigo vem ensaiando diariamente por oito horas e usando as manhãs para treinar a voz e o corpo — afinal, ele precisará de fôlego para cumprir a temporada que se estende até 21 de setembro, com duas sessões aos sábados. “É o tipo de correria que adoro”, celebrou o artista que, apesar da pouca idade, tem dezesseis novelas e séries no currículo, cinco trabalhos no cinema e chega a sua décima produção teatral.
Em seu primeiro monólogo, Prazer, Hamlet!, você tirava a roupa no palco. Agora, vai cantar pela primeira vez. O que foi mais desafiador? Cantar, muitas vezes, te deixa mais nu do que se despir. Mas estou acompanhado de um elenco enorme, somos trinta em cena, e tiro força desse grupo. Não sei exatamente em que momento me apaixonei por Aquarius e Let the Sunshine In, mas tenho a lembrança potente de quando assisti ao primeiro musical de Möeller e Botelho, há quinze anos. Era bem jovem e fiquei impressionado com esse senso de coletividade.
+ Para receber VEJA RIO em casa, clique aqui
Acredita que os temas tratados em Hair são atemporais? Sim, é uma peça que fala de amor, liberdade de expressão e oposição à guerra. Fazia sentido em 1968 e continua fazendo hoje, com outras analogias.
Quando se descobriu bissexual e por que decidiu falar sobre isso publicamente? Não existiu um momento certo. Com os anos, as coisas vão se encaixando e você vai se apropriando de si. Abri durante uma entrevista em que fui questionado diretamente, e foi ótimo ter falado. Tomei controle da narrativa sem me preocupar com o que estavam pensando. Até porque ninguém tem nada a ver com isso.
Teve medo de que afetasse a sua trajetória como galã? Desde cedo, a minha sexualidade esteve em xeque, e tive receio da narrativa que estava sendo construída. É preciso estar com a cabeça tranquila para lidar com isso, pois a mídia pode ser cruel. A bissexualidade ainda é pouco falada, acham que é ficar em cima do muro. Mas é uma letra da sigla, uma caixinha na qual você se coloca e, ao mesmo tempo, ganha liberdade para se apaixonar pelos dois gêneros. Não se trata de escolha: a pessoa é o que ela é.
Você está vivendo seu relacionamento mais longo. O que aprendeu nestes quase sete anos junto com a Agatha Moreira? Somos muito parceiros e entendemos a importância do diálogo. Por incrível que pareça, temos uma relação clichê no dia a dia. Fugimos do padrão se considerarmos casamento e filhos como regra, porque não pensamos nisso agora. Somos dois capricornianos e temos preguiça de fazer a lista de convidados (risos). Pode ser que mude daqui a alguns anos…
Ter a sua vida pessoal tão exposta nas manchetes te incomoda? No início, isso era muito grande na minha vida, mas hoje em dia não me dou tanta importância. As notícias saem e no dia seguinte já estão velhas. Claro que é estranho ter alguém me fotografando toda vez que vou jogar vôlei na praia, mas vai ser só mais uma imagem que vai passar no feed das redes sociais antes de chegar outra mais interessante.
As redes sociais trouxeram mais liberdade? Elas deram mais controle sobre o que decidimos expor. Mas é preciso equilíbrio para não cair em armadilhas e ficar angustiado querendo mostrar tudo. Uso meus perfis de forma pessoal e profissional, mas não tenho a necessidade de presença constante. Não julgo quem faz, mas é uma escolha com consequências; em algum momento, aquilo te domina e vêm as crises de ansiedade…
Ao crescer em uma família de artistas, foi inevitável seguir a profissão? Quando tinha 5 anos, meu pai fez uma peça no Teatro João Caetano e só de estar ali já sentia frio na barriga. Na adolescência, voltei lá, senti aquele cheiro e percebi que o bichinho da arte já tinha me mordido. Meu avô era artista, minha mãe é produtora, meus irmãos e eu começamos a fazer teatro juntos, e é positivo poder trocar figurinhas com todos eles.
+ Tony Ramos: “Há um triângulo mágico que me encanta”
Acredita que influencers e cantores ajudam a conquistar uma audiência mais jovem na TV? Entrar em uma novela não é o mais difícil, e sim manter-se na profissão. Ser ator requer discernimento, disciplina, estudo… não é o oba-oba que as pessoas acham. Hoje existem os influenciadores, mas sempre tiveram alguns escolhidos que nunca haviam feito nada. Isso não tira o mérito, mas poucos vão conseguir se sustentar se não houver força de vontade.
Fazer parte de uma geração que não está presa a um contrato com uma emissora abre mais caminhos? Consegui criar uma estabilidade e gosto dessa liberdade. Mas também sei o quanto a televisão aberta é algo cultural no nosso país, além de ser democrática. Diziam que as novelas iam acabar, mas vimos que o streaming não é uma ameaça; ele abriu o leque de opções. Nem todo mundo pode pagar um plano, a grande massa ainda está na TV. Sou encantado pelo caráter multifacetado da profissão, e também tem muita gente boa sem oportunidade. Quanto mais produções, melhor para todos.