O que eu nunca disse para a minha mãe? Famosas fazem suas declarações

A pedido de VEJA RIO, oito entrevistadas abrem os seus corações para revelar o que nunca tiveram a chance de contar

Por Carolina Ribeiro
Atualizado em 9 Maio 2025, 08h23 - Publicado em 9 Maio 2025, 06h00
Heloisa e Luísa Perissé: mãe e filha trocam declarações de admiração e orgulho
Heloisa e Luísa Perissé: mãe e filha trocam declarações de admiração e orgulho (Daniela Dacorso/Veja Rio)
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Entre os muitos elos firmados ao longo da vida, não há presença mais acolhedora ó ou ausência mais sentida ó do que a de uma mãe. Elas ajudam a dar o norte, soltam palavras que moldam o olhar e ocupam espaço central no cotidiano da prole, mesmo quando a distância se impõe. Neste Dia das Mães, VEJA RIO convidou oito personalidades de áreas diversas, nascidas ou que vivem aqui, para abrirem o coração e revelar confidências que, por timidez, orgulho ou falta de uma janela no tempo, nunca haviam sido ditas. São histórias permeadas por cumplicidade, descobertas e às vezes saudade. Só depois de experimentar na pele os aclives e declives da maternidade, Clara Colker compreendeu a força de sua progenitora, a coreógrafa Deborah Colker. Giulia Costa confessa o medo de enfrentar um futuro em que a atriz Flávia Alessandra não esteja no horizonte. Sem – pre espirituosa, a comediante Luísa Périssé compartilha travessuras da juventude, apenas agora trazidas à luz. O amor na relação entre mãe e filha aparece aqui em múltiplas formas: seja na continuidade de um ofício familiar, como no caso da chef Bianca Barbosa, seja na parceria criativa entre gerações, vivida por Chica e Isabela Capeto, ou ainda na missão de eternizar um legado, como faz Luana Carvalho com a obra de Beth Carvalho. Já a maior medalhista brasileira de todos os tempos, Rebeca Andrade, revisita o passado para falar do forte impacto que foi deixar a casa materna aos 10 anos para ir atrás do sonho olímpico. São memórias delicadas e entremeadas por declarações tardias que essas figuras notáveis partilham com o leitor. Que sirva de inspiração para que mais gente rompa o silêncio e consiga dizer às mães aquilo que ficou nas entrelinhas.

Legado: filha de Beth Carvalho, Luana relançou o primeiro disco da mãe
Legado: filha de Beth Carvalho, Luana relançou o primeiro disco da mãe ‘Andanças’, gravado em 1969 (Daniela Dacorso/Veja Rio)

O show continua

Responsável por manter viva a história da mãe, Luana Carvalho desabafa: “Nunca disse que morria de saudade quando ela saía em turnê”

Fiel ao compromisso de eternizar a voz e o amor de Beth Carvalho (1946-2019) pelo samba, Luana Carvalho, 44 anos, se tornou administradora da obra da cantora. “Minha mãe morreu e eu virei empresária, algo que jamais imaginei, mas acabei aceitando com muita honra”, conta. “É  um compromisso de cidadã cuidar dessa história de luta contra o racismo e a favor do povo”, diz. Em abril, o Sambabook, em homenagem a Beth, chegou às plataformas digitais. O álbum traz gravações de medalhões como Zeca Pagodinho, Maria Rita e Jorge Aragão. Com a saúde debilitada, a sambista passou os últimos dez anos de vida entre idas e vindas do hospital e, com isso, Luana guardou alguns sentimentos em segredo, para não abalá-la em hora tão delicada. “O mais importante é que nunca falei que sentia saudade durante as longas turnês no exterior. Desde pequena tive consciência de que ela não podia ser responsabilizada por se afastar de mim. Afinal, precisava sair de casa para ser a Beth Carvalho”, diz a também cantora, que faz questão de ser uma mãe 100% presente no cotidiano da filha, Mia, de 5 anos.

Dose dupla: Giulia Costa e Flávia Alessandra dividem sofá em podcast
Dose dupla: Giulia Costa e Flávia Alessandra dividem o sofá em videocast descontraído (Vitor Reis/Divulgação)

Pura intimidade

Apaixonada pelo que Flávia Alessandra representa para ela, Giulia Costa não consegue imaginar a vida sem a parceria e a atenção da mãe

Quando apertam o botão da câmera para gravar o Pé no Sofá Pod, as atrizes Flávia Alessandra, 50, e Giulia Costa, 25, têm de se manter alertas para não deixar escapar assuntos que fogem do roteiro. A relação de intimidade é tão firme que, muitas vezes, elas até se esquecem de que estão em cena. “O set é uma extensão da casa da minha mãe, e isso pode ser um problema. A gente fica bem à vontade, de pernas para o alto, e as pessoas podem acabar vendo alguma fala estranha”, diz Giulia, que estreou na televisão aos 12 anos, a mesma idade com que perdeu o pai, o ator e diretor Marcos Paulo (1951- 2012). “Algo que eu nunca disse para minha mãe, que nem gosto de imaginar, é que não sei viver neste mundo sem ela. Quando tenho qualquer dúvida, da mais simples à mais profunda, eu pergunto para ela”, entrega Giulia, que tem na mãe um modelo. “Ela tem o dom de prestar atenção a tudo de forma minuciosa, conserva um lado humano acentuado e, ainda por cima, cultiva as raízes que a trouxeram até aqui”, derrete-se a jovem atriz, também criadora de conteúdo, que lida diariamente com o desafio de não expor de forma desmedida a intimidade em família.

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Em sintonia: Filha de Deborah Colker, Clara compreendeu a maternidade depois de ter filho
Em sintonia: Filha de Deborah Colker, Clara compreendeu a maternidade depois de ter filho (./Divulgação)

De corpo e alma

Clara e Deborah Colker compartilham o trabalho e lições passadas de mãe para filha

Em novembro passado, um terremoto assolou a vida da coreógrafa Deborah Colker, 64 anos. O músico Toni Platão, 62, seu companheiro de vida, sofreu um grave AVC, precisou passar por cirurgia e ficou quatro meses internado na UTI. Deborah revelou-se incansável no hospital, revezando-se entre sua presença ali e os vários compromissos profissionais. No fim de abril, ela estreou o espetáculo Ainadamar, uma homenagem ao poeta espanhol Federico García Lorca, em Los Angeles. A intensidade da mãe é fonte de inspiração para a filha, Clara Colker, 41 anos. “É impressionante como minha mãe consegue se manter de corpo inteiro em tudo que se propõe a fazer como mulher, esposa e artista”, derrete-se a diretora do Centro de Movimento Deborah Colker, com unidades na Gávea e na Glória. “O mais incrível é que ela consegue trabalhar os sentimentos e desafios para, mais tarde, transformá-los em arte”, adiciona. Isso aconteceu com o espetáculo Cura, de 2020, inspirado no neto Theo, filho de Clara, que convive com a epidermólise bolhosa, condição rara que causa bolhas e feridas na pele. “O que vivo com o Theo me ajuda a entender a mãe que ela foi para mim na infância e na adolescência. E ela nem sabe disso”, emociona-se a filha, que se une a Deborah na dor e na superação.

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Perrengue chique: Giulia Bertolli relembra banho de chuva que tomou com a mãe, Lilia Cabral
Perrengue chique: Giulia Bertolli relembra banho de chuva que tomou com a mãe, Lilia Cabral (./Divulgação)

Águas de março

Em uma viagem aos Estados Unidos, Lilia Cabral mostrou à filha, Giulia Bertolli, uma face sua até então desconhecida por ela

Uma cena digna do filme Um Dia de Chuva em Nova York, de Woody Allen, é uma das lembranças recentes mais ternas da atriz Giulia Bertolli, 28 anos, ao lado da mãe, a também atriz Lilia Cabral, 67. Em março de 2024, as duas encontraram uma brecha nas conturbadas agendas e deram uma escapulida para Manhattan. Inventaram ali um programa improvável: assistir a um jogo de basquete. Lilia praticou o esporte na infância, mas acabou se afastando daquelas quadras. “Foi engraçado, porque pude conhecer a faceta torcedora da minha mãe. Vê-la vibrando como uma criança é algo de que jamais vou esquecer”, relata Giulia. Na saída do estádio, uma chuva torrencial desabou, e elas enfrentaram um perrengue chique. “Foi impossível pegar um táxi, então andamos quinze quadras até o hotel num frio horroroso, dividindo um guarda-chuva. Acho que nada poderia estragar aquele dia. Nunca contei isso a ela, mas guardo esse momento em um lugar especial no coração”, revela a jovem artista, que divide a cena com a veterana na peça A Lista, que originou o filme homônimo exibido na Globo em fevereiro. “Fico nervosa e, ao mesmo tempo tranquila, de trabalhar com a minha grande mestra”, conclui Giulia.

Vale ouro: a maior medalhista olímpica do Brasil Rebeca Andrade chama a mãe Rosa Santos de lar
Vale ouro: a maior medalhista olímpica do Brasil Rebeca Andrade chama a mãe Rosa Santos de lar (Africa Creative/Divulgação)
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Rosa dos ventos

Para se tornar a maior atleta da história do Brasil, Rebeca Andrade precisou abrir mão do convívio com a mãe, mas a distância só fortaleceu a relação

Só de ouvir o tom da voz de Rebeca Andrade, Rosa Santos consegue desvendar em que estado de espírito a filha está. “Saí de casa aos 10 anos para treinar e, apesar da distância física, minha mãe sempre esteve por dentro dos meus apertos. E é claro que também participa das conquistas. A saudade fortalece a nossa relação”, reflete, aos 26 anos, a maior medalhista olímpica da história do Brasil. Alçada ao panteão dos principais esportistas do mundo, a ginasta nascida em Guarulhos acaba de faturar o prêmio Laureus, espécie de Oscar do esporte, mas jamais se esquece de tudo o que passou até alcançar o triunfo. “Minha mãe vai ouvir pela primeira vez que ela é o meu lar, e isso independe do lugar em que eu esteja”, diz. Quando tem uma folga na intensa rotina de treinamentos, ela corre para São Paulo para encontrar dona Rosa e os sete irmãos. Entre pedaços de pizza em série, a risada corre solta quando a família relembra a pequena Rebeca dependurada nos móveis da casa. “Somos muito parecidos. Minha mãe nos repassou valores sólidos, ao mesmo tempo que nos ouvia e se importava com o que sentíamos e pensávamos”, conta a ginasta, que saltou desse solo firme para o topo do pódio.

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Na pele: Chica e Isabela Capeto têm tatuagem com símbolos de igual e diferente
Na pele: Chica e Isabela Capeto têm tatuagem com símbolos de igual e diferente (Leandro Tumenas/Divulgação)
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Diferentes, mas iguais

A artista visual Chica Capeto conta como conseguiu transformar o peso do sobrenome em estímulo criativo

Fica acima do cotovelo, na parte interna do braço, a única tatuagem ostentada por Isabela Capeto, 55 anos. Os símbolos matemáticos de igual e diferente também foram rabiscados no corpo de Chica Capeto, 26, a filha da estilista. “Construímos uma relação bem aberta, mas eu nunca disse para minha mãe que ela é justamente a pessoa que eu quero me tornar”, confidencia a artista visual. Segundo Chica, Isabela é sonhadora e nutre uma imaginação sem limites, enquanto ela tem os pés bem fincados no chão. O lado bom é que uma consegue emprestar sua visão própria da vida à outra. Quando começou a cursar moda, Chica viu a trajetória da mãe virar objeto de estudo na sala de aula. “Só naquele momento entendi a importância dela. Consegui transformar o peso e a cobrança em estímulo”, avalia Chica, que guarda na memória o incêndio do ateliê de Isabela, em 2018, como o momento mais desafiador para mãe e filha. “Eu queria ajudar, mas não tinha muito o que fazer a não ser recomeçar. Pela primeira vez lidei com a sensação de impotência, mas aprendi muito com a atitude dela, que arregaçou as mangas e, sem se desesperar, reverteu o sufoco trabalhando em casa mesmo”, relembra ela, enaltecendo a parceria alinhavada através da arte e da cumplicidade.

Comida afetiva: receitas passadas de geração em geração por Bianca e Kátia Barbosa
Comida afetiva: receitas passadas de geração em geração por Bianca e Kátia Barbosa (./Divulgação)

Raiz forte

A chef Bianca Barbosa aprendeu, ainda pequenininha, que comida é sinônimo de afeto — e de política

Na árvore genealógica da família Barbosa, uma sequência de galhos aponta para a mesma direção — a gastronomia. A chef Bianca Barbosa, 39, até pensou em tomar outro rumo, cursando jornalismo, mas foi atraída pelas panelas. Aos 17, embrenhou-se na cozinha do Aconchego Carioca, fundado pela mãe, Katia Barbosa, 63, só para dar uma forcinha. De lá, nunca mais saiu. Na última edição do Guia Michelin, o restaurante responsável por lançar holofotes à Praça da Bandeira entrou na lista de recomendações. “Eu não escolhi a gastronomia, acho que fui eleita por ela. Por incrível que pareça, nunca conversei sobre isso com minha mãe”, conta Bianca, que desde cedo aprendeu que comida e política estão fortemente ligadas. “Minha avó Sofia tem 93 anos e é nordestina, retirante e analfabeta. Cozinhando, ela sustentou nove filhos. Já a minha mãe, ao criar o bolinho de feijoada, soube traduzir uma paixão nacional”, resume a jovem, ciente da responsabilidade de levar adiante o legado da família. Em casa, já estimula a filha, Madalena, de 8 anos, a se aventurar no fogão. Aos 4, a menina sabia preparar massa de nhoque. “Minha mãe acha o máximo. Aliás, na versão avó eu descobri uma Katita mais doce”, derrama-se Bianca.

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+ Laje do Sofia, de Kátia Barbosa, tem degustação de petiscos e karaokê

Terapia em família

Ligada nos 220, a comediante Luísa Périssé aprontou muito nos tempos de escola e só agora criou coragem para dividir suas histórias com a mãe, Heloísa Périssé

A humorista Luísa Périssé, 25 anos, improvisou a letra Trap do Trepa Trepa durante um carteado em família e, sem pretensões, entoou os versos ao vivo num videocast do qual participou ao lado da mãe, Heloísa Périssé, 58. A brincadeira virou hit da noite para o dia — foram mais de 6 milhões de visualizações no TikTok. “A música é só um elemento de humor no meu trabalho, não quero ser cantora”, avisa a comediante. A disposição para provocar o riso está no sangue, já que é filha de “Lolô” e de Lug de Paula, 68, o inesquecível Seu Boneco, da Escolinha do Professor Raimundo, e neta de Chico Anysio (1931- 2012). “Sou uma nepobaby, então é normal ser comparada”, admite a artista, que desde que ficou famo – sa passou a fazer terapia com a irmã e a mãe, por quem não esconde o orgulho e a admiração. Foi assim que as peripécias da adolescência vieram à tona nas sessões. “Sempre fui encapetada. Escondia o boletim e combinava um esquema com as amigas para não vazar. Ativei um extintor de incêndio no laboratório de química e fui suspensa. Também fugi da escola seguindo o caminho de um rio que dava na PUC- Rio. Minha mãe não sabe da metade”, diverte-se.

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