“Não ligo mais para cancelamentos”, diz Leandro Hassum

Recordista de bilheteria nos cinemas, o comediante leva para o palco histórias familiares divertidas e vai estrelar a nova cinebiografia de Silvio Santos

Por Renata Magalhães
2 Maio 2025, 08h00
Leandro Hassum
Leandro Hassum: "Hoje não me fantasiaria de gordo, nem para interpretar o Hassum de antes" (Janderson Pires/Divulgação)
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Foi só sair o anúncio da peça É Nóix Família que os ingressos esgotaram em poucos dias e o Teatro Multiplan, na Barra, precisou abrir uma sessão extra na sexta (9). Este é o fenômeno Leandro Hassum, 51 anos, carioca da Ilha do Governador e responsável por alguns dos maiores recordes de bilheteria do cinema nacional. Com cerca de trinta filmes na carreira, ele levou mais de 20 milhões de espectadores aos cinemas, em sucessos como a franquia Até que a Sorte nos Separe.

Contratado pela Netflix – onde detém os títulos brasileiros mais assistidos –, vai lançar um filme pela plataforma no segundo semestre, estrelar a nova cinebiografia sobre Silvio Santos e rodar mais três até o final do ano. Antes da entrevista para VEJA RIO, o ator divertia-se fazendo crochê – hobby que adquiriu após o nascimento da neta Aurora, sua grande paixão.

No papo franco, ele falou sobre obesidade e a cirurgia bariátrica que o fez perder 80 quilos, mas preferiu se abster de comentários a respeito da decepção com o pai, acusado de envolvimento com um esquema de tráfico internacional de drogas. “Mesmo nos momentos em que nossos pais não foram corretos, eles nos ajudaram a construir um caráter melhor”, disse o comediante, que vive com a família em Miami.

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É Nóix, Família brinca com histórias divertidas que todo mundo pode se identifcar. Tem algum assunto que você não leva para o palco? Só tenho duas regras: não falo sobre política, por conta da polarização do nosso país, e nem sobre assuntos baixo astral. A peça nasce do cara comum que sou e da minha vontade de fazer o público fcar se cutucando, dizendo “igualzinho lá em casa”.

Família nem sempre é só diversão. Como não deixar que os traumas se repitam nas próximas gerações? Todo mundo tem bons e maus exemplos dentro de casa. Tento ver onde poderia ter sido melhor e fico feliz em perceber que minha flha muitas vezes já está fazendo o contrário. Mesmo nos momentos em que nossos pais não foram corretos, eles nos ajudaram a construir um caráter melhor.

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Você faz terapia? Comecei durante a pandemia. Engordei 17 quilos que só fui perder no ano passado. Passei a beber uma garrafa de vinho no almoço e outra no jantar, ao ponto da minha mulher me levar na nossa adega e mostrar a parede quase vazia. Comecei a enlouquecer as pessoas em casa, era grosseiro, e minha flha falou que eu precisava fazer terapia.

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Muito se fala sobre padrões de beleza para as mulheres. Para além de querer mudar o estilo de vida, também sentiu uma pressão social em cima do seu peso? Não, pelo contrário. As pessoas queriam me detonar depois que emagreci – e, por um tempo, conseguiram. São os “viúvos da barriga”. No início comprava briga, mas entendi que entro na casa das pessoas todo dia há mais de 30 anos pela TV. Elas têm uma intimidade comigo que não tenho com elas.

O que sofreu em decorrência do sobrepeso? Cheguei a pesar 160 quilos, o que é considerado obesidade mórbida. Quando as pessoas falam que gostavam mais de mim “gordinho”, respondo que gostavam de mim quando eu estava prestes a morrer. É uma doença que não tem cura, mas pode ser tratada. A cirurgia bariátrica não é um procedimento estético e, na maioria das vezes, não te deixa bonito. Operei aos 40 anos e, três anos depois, cheguei a 87 quilos e me vi magro pela primeira vez. Não gostei, hoje tenho 95 quilos.

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Antes da cirurgia, fez muitas tentativas de emagrecer? Já usei todos os remédios para isso – até os que não podiam. Com 17 anos, tomava anfetamina. Diminuí 30 quilos em três meses. Perdi o apetite, mas também o tesão e a vontade de viver. Parava o remédio e engordava 30 quilos e mais um pouco. Não existe fórmula mágica: é regular a alimentação e encarar o exercício como um medicamento.

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O que sente ao se olhar no espelho? Eu me sinto um vitorioso. Mas, ao mesmo tempo, existe uma dismorfa: ainda me enxergo com 160 quilos quase 11 anos depois de operado. É isso que leva as pessoas a fazerem procedimentos no rosto até fcarem deformadas e daí a importância do acompanhamento psicológico.

A comédia foi um caminho de escape ou um destino? Um escape, para fugir do bullying na infância. Primeiro criei um personagem agressivo, que arrumava porrada com o cara mais forte, ganhando ou perdendo. Quando vi Uma Cilada Para Roger Rabbit, primeiro live action com animação de Hollywood, percebi que podia chamar atenção para essa habilidade. Fui estudar Costinha, Chico Anysio, Jô Soares, Jerry Lewis – e usei o humor ao extremo, a ponto de ser expulso de três colégios. Até uma psicóloga me indicar o teatro.

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Ser engraçado é um dom? Sei matematicamente o que preciso fazer para os outros rirem. Quando falam que sou um ótimo ator dramático, discordo. Sou um comediante tão raiz que conseguem ver a tragédia através dos meus olhos. A Fernanda Torres ser indicada ao Oscar é uma prova viva que uma boa atriz de comédia é brilhante enquanto dramática. Pede para um ator de drama fazer o que o Leandro Hassum faz: aquele humor estridente, que arranca gargalhada de 3 000 pessoas em um teatro. Não consegue. Mas me pede para fazer O Rei Lear que eu faço.

Esse gênero ainda é subestimado nos meios tradicionais, ao mesmo tempo em que espetáculos de stand-up comedy estão lotados e comediantes atraem milhares de pessoas nas redes. Não é um contrassenso? É um total contrassenso, mas essa é uma luta perdida. Os conservadores da arte veem o que faço e chamam de “pastelão”, colocam um estigma porque não alcançam.

Você já tomou vaia? Em teatro, nunca. Já fui cancelado em rede social e no cinema, quando fiz Amor Sem Medida, em que interpretava um homem pequeno e fui muito criticado por pessoas com nanismo. As pessoas sequer viram o flme antes de me crucifcar. Mas preciso respeitar a dor do próximo. Hoje não me fantasiaria de gordo, nem para interpretar o Hassum de antes.

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Mas você acaba de lançar Uma Advogada Brilhante, em que se veste de mulher… Fiquei com muito medo. Quando me chamaram, fiz questão de nos cercar de representatividade na equipe (há atrizes trans e a diretora Ale McHaddo também é uma mulher trans) e que o motivo do personagem se passar por mulher fosse nobre, para manter o emprego e continuar provendo para a família. Sou contratado, não
produzo os meus filmes. As pessoas não entendem isso, mas na hora de odiar é tudo direcionado a mim. Não ligo mais para cancelamentos, estou calejado.

Tem vontade de voltar a morar no Brasil? Não tenho planos, mas não descarto a hipótese. Não tenho interesse em atuar nos Estados Unidos. Viemos em busca de oportunidades para minha esposa e minha flha, e tudo mudou com a chegada da Aurora, minha neta. Durante muito tempo, pelas minhas questões familiares que todos sabem, deixamos de ligar para celebrações. Quando minha filha nasceu, estava tão mal de grana que me fantasiava de Papai Noel no shopping. Agora me visto para a Aurora. E se um dia tiver que me aposentar, vou fazer stand-up para ela.

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