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Manuela Dias: ‘Sou mulher, mãe solteira e me sustento desde os 19 anos’

Autora da novela 'Amor de mãe' fala sobre os três abortos que sofreu e como transforma tristezas e decepções em material de trabalho

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 6 mar 2020, 12h00 - Publicado em 6 mar 2020, 12h00

Indicada ao Emmy pelo seriado Justiça, de 2016, Manuela Dias, 42 anos, assina sua primeira novela das 9 na Globo, Amor de Mãe, acompanhada por uma média de 40 milhões de pessoas por capítulo. A trama vem arrebanhando elogios pela abordagem arrojada de assuntos espinhosos como barriga solidária, abuso sexual, sequestro de crianças e violência obstétrica. Manuela falou a VEJA RIO sobre suas inspirações para o roteiro.

Você já disse que o amor de mãe é um superpoder que nasce junto com os filhos. Foi assim contigo? O fato de ter sofrido três abortos espontâneos antes do nascimento de sua filha, Helena, te tornou ainda mais forte e poderosa? Acho que todas as experiências ruins podem e precisam ser digeridas e transformadas em algo que te alimente. É o famoso “tudo que me fere, me fortalece”. Sofri dois abortos com 2 meses, mas um foi com 5 meses e essa foi uma experiência intensa. O bom de ser escritora é que tudo vira material de trabalho. Ser feliz não é excluir a tristeza, é aproveitá-la. A chegada de Helena, minha filha, ampliou e aprofundou todas as experiências na minha vida.

Assuntos que comovem e emocionam as mulheres, como violência obstétrica e  barriga solidária, vêm sendo abordados na novela. Acha que é uma novela feminina? Feminista? Que outros assuntos relacionados ao universo feminino vc ainda pretende abordar? Gosto de pensar que não existem “assuntos femininos”. Porque todos os assuntos são femininos.

Acha que no caso da novela, o fato de ter “lugar de fala” em relação aos altos e baixos da maternidade faz com que a novela fique mais realista, mais verdadeira? É claro que eu sou uma autora mulher, mas, como autora, meu maior desejo é a apropriação dos pontos de vista de todos os personagens. Quando escrevo não posso nem quero julgar o Álvaro, o Tales, a Estela… não posso julgar a Vitória quando ela deu o filho para Kátia vender, aos 17 anos, nem julgar a Lurdes por ter matado o pai de seus filhos. Eu preciso ser cada um deles de coração, não na cabeça. Ou vou fazer tipo caricatos e superficiais. Minha empatia pelo Álvaro e por todos os personagens da novela é real, não só os bons ou as mulheres. Sou tão autora dos personagens masculinos quanto dos femininos. Não quero ser uma autora mulher, quero ser uma autora-tudo.

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A personagem de Jessica Ellen fez um dos discursos de maior impacto da novela, quando disse que cansou de ser forte, porque todo dia ela precisa ser, já que é negra, pobre, professora, representa várias minorias. Essa personagem foi inspirada em alguém que você conhece?  Não e sim. Eu diria que Camila é meu alter ego ou, parafraseando Gertrude Stein, o alter ego de todo mundo (que é mulher). Ela é o melhor que existe em mim, aquele pedaço que acorda todo dia disposto a mudar o mundo, mas sabendo que isso não é feito para reviravolta, é trabalho de formiguinha. Apesar de não ser negra, sou mulher, mãe solteira, não herdei um real e me sustento desde os 19 anos. E a gente luta, ri, canta, se junta, protesta, dança… mas a gente também cansa. Existe uma perversidade na sociedade desassistida em que vivemos: sobreviver se torna um ato de heroísmo. Mas às vezes não queremos ser heróis, queremos apenas fazer nossa parte, ficar com os nossos e, quem sabe, descansar um pouco. Acho que por isso a repercussão dessa cena foi tão forte. Até eu fiquei impressionada… Estamos cansadas. E podemos estar.

Um dos comentários mais frequentes sobre a novela é sobre a estupenda interpretação da Regina. “Só podia ser ela neste papel”, dizem. Você concorda? O que mais te impressiona na atuação dela? A Regina é uma das maiores atrizes do Brasil. Eu estava numa festa da Globo quando ela entrou. Todos sumiram e só ficou ela, linda, vestida de azul. Na hora eu pensei: Lurdes! Só podia ser ela. Tudo me impressiona na Regina: a inteligência com que ela absorve o texto, a leveza misturada com a imensa profundidade, e aquele chafariz de carisma que seduz a gente e leva pelo nariz pra onde ela quiser.

Alguma cena ou diálogo te deixou especialmente orgulhosa? É difícil escolher… Pensei em uma e logo me vem outra! Mas, vamos lá! A cena da formatura, a cena do encontro de Lurdes e Sandro do presídio, toda a sequência do Raul com Vinícius morrendo, Thelma descobrindo o aneurisma, Camila falando sobre o direito a ser frágil, Vitória pedindo desculpas a Sandro… São muitas! Os atores estão brilhando. O Zé (José Luiz Villamarim, diretor) é um parceiro dos sonhos e ele faz tudo numa perfeição tão linda…

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