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Lázaro Ramos: “Estamos em movimento, não somos estátua. Essa é a beleza”

Ator, diretor, escritor, dramaturgo e empresário, ele vive Mário Fofoca em Elas por elas e volta aos cinemas este mês na comédia musical Ó Paí, Ó 2

Por Melina Dalboni
16 nov 2023, 20h00

Como na canção de Elis Regina, os ídolos de Lázaro Ramos ainda são os mesmos. Ator, diretor, escritor, dramaturgo e empresário, ele retorna aos cinemas neste mês ao lado de um de seus primeiros alvos de admiração, os integrantes do Bando de Teatro Olodum, grupo teatral negro mais longevo da América Latina. A comédia musical Ó Paí, Ó 2, sequência do filme de sucesso dos anos 2000 que virou série de TV, estreia no dia 23. “O Bando é meu lugar de formação, onde fiquei dos 15 até ser emprestado para o mundo, como costumo dizer”, conta Lázaro, no ar com o remake global de Elas por Elas. O ator, que tem contrato exclusivo com a Amazon Prime Video, onde lança dia 8 de dezembro o filme O Primeiro Natal do Mundo, foi cedido para a Globo especialmente para viver o papel do personagem Mário Fofoca, interpretado por Luís Gustavo na versão original. A rotina de gravar seis dias por semana tem reduzido o tempo para outros projetos, mas não impede a efervescente criação de conteúdo para suas redes. No mês passado, Lázaro compartilhou um vídeo emocionante, com a filha Maria Antônia, em que fala sobre a aceitação de seus cabelos e traços. Teve mais de 11 milhões de visualizações. “É um tema que ainda mobiliza as pessoas. A gente acha que está resolvido, que já avançou, mas não, temos que continuar passando nossas mensagens”, enfatiza. Lázaro também falou a VEJA RIO sobre as crises de ansiedade que enfrentou nos últimos três anos, a importância da terapia no equilíbrio entre vida profissional e pessoal e o longevo casamento com a atriz Taís Araújo: “Conversamos muito. Somos falastrões e fofoqueiros”, brinca.

Com o pé em tantas áreas, o que lhe traz mais satisfação, atuar ou dirigir? A atuação é meu maior prazer na vida, mas entendi que, na direção, tenho uma voz, um ponto de vista, um olhar. Vou dirigir sempre que houver espaço para contribuir, como aconteceu com Medida Provisória. Gosto de me envolver com obras que geram debate.

Sua versão do célebre personagem Mário Fofoca, agora no remake de Elas por Elas, está sendo bem aceita pelo público? O meu Mário tem um tom mais lúdico, menos mulherengo, mais apaixonado. Por ser uma novela das 6, os autores fizeram algumas adaptações. Era um risco, mas, felizmente, o personagem foi abraçado, inclusive pelo público infantil.

Com o batente de gravação da novela, está conseguindo dar conta de suas outras vertentes artísticas? Não, só tenho feito a novela e ficado com as crianças. Estou exausto, porque esse personagem requer um trabalho físico intenso. Começa a segunda-feira e eu já estou cansado.

Qual a expectativa para regressar aos cinemas com o Ó Paí, Ó 2? É a primeira vez que faço a sequência de um filme. Foi muito bom poder voltar a um personagem que traz vários temas consistentes e ver que o assunto avançou. Ainda encontrei meus primeiros grandes ídolos de novo. Mas, como em qualquer continuidade, você lida com o desafio de produzir momentos com a mesma força do primeiro filme.

A sequência é dirigida por Viviane Ferreira e fotografada por Lílis Soares. Como o olhar dessas duas artistas negras se reflete na obra? Em alguns projetos, há uma padronização da filmagem da pele negra, sem valorizar todas as nuances. A diretora de fotografia falava muito sobre isso: é um elenco negro, mas cada pele tem uma intensidade, uma textura. Então, elas preparavam a luz de acordo com quem estava em cena.

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Você produz conteúdo para mais de 5 milhões de seguidores nas redes. Como enxerga o uso dessa ferramenta? No início, me parecia lugar para postar foto bonita, de comida etc. Depois entendi que poderia estar presente ali com a minha identidade, promovendo discussões e dando visibilidade para pessoas e assuntos interessantes.

“Atuar é meu maior prazer na vida, mas entendi que, na direção, tenho uma voz, um ponto de vista, um olhar”

É como um segundo trabalho? Sim, estou no Instagram, no TikTok, no LinkedIn, no Facebook. Tento ocupar esses espaços da melhor maneira possível. É como num veículo de comunicação. Há criação de conteúdo constante. Tenho uma equipe que trabalha comigo, mas sou excessivamente centralizador e autoral, então fico mais cansado do que deveria.

Já enfrentou algum quadro de ansiedade? Claro. Na pandemia, quem não viveu? Ansiedade profunda, sensação de solidão, de aprisionamento, falta de ar. E quando retornei à vida foi estranho, porque eu não sabia mais me relacionar com as pessoas. Fiquei com a sensação de que tinha ficado parado muito tempo, e me enchi de trabalho. Tive quase uma exaustão, um burnout.

Como cuida da saúde mental? Converso com os amigos e faço terapia, que é essencial. Entendi na terapia que, se por um lado, é gratificante ter reconhecimento profissional e ser respeitado, por outro percebi que todo o meu prazer estava ligado ao trabalho. Aí fui descobrindo do que eu gosto de verdade, para além dele.

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Já passou por situações de assédio moral ou racismo no trabalho? Várias vezes. E, como muitas pessoas, só fui entender que tinha sido assédio, racismo, muito tempo depois. Cheguei a contar algumas dessas histórias de forma bem-­humorada, mas o tempo foi passando e me dei conta que não era engraçado, nem era piada, isso me fez mal.

Pode relembrar alguma situação dessas? Já disseram que meu cabelo era inadequado para um trabalho, mas de forma rasteira, agressiva e desvalorizando meus traços. Também ignoraram minhas opiniões ao debater textos que reforçavam um determinado estereótipo. Os argumentos nem eram ouvidos. Acho, inclusive, que a minha transição para a direção e a escrita se deu por isso, para que eu tivesse uma voz.

Você e Taís já abriram ao público crises que enfrentaram. Passou? A gente se separou uma vez e teve o momento da pandemia, que foi tenso para todos os casais. Não houve muitas crises, mas, como somos conhecidos, isso gera curiosidade, e o assunto vira e mexe volta.

Como manter uma boa e longeva relação? A gente se fala muito. Não sei de onde tiramos tanto assunto. Conversar faz parte da nossa rotina, assim como o humor. Somos falastrões. Até brinquei outro dia que somos dois fofoqueiros. Isso é algo positivo da nossa relação. Citando o Paulinho Moska, que a gente gosta muito de ouvir, somos um móbile. Estamos em movimento, não somos estátua. E essa é a beleza.

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