Giovanna Nader: “A agricultura brasileira não alimenta o mundo”
Em nova temporada do podcast O Veneno Mora ao Lado, apresentadora voltou na história para descontruir falácias e propor caminhos para produção de orgânicos
Estreou nesta terça (16), a segunda temporada do podcast O Veneno Mora ao Lado, apresentado pela atriz e comunicadora socioambiental Giovanna Nader. Na nova fase da produção, ela voltou na história para tentar descontruir um pensamento que perdura por décadas: o Brasil é, mesmo, o celeiro do mundo?
Ao entrevistar especialistas, pesquisadores, produtores rurais, ambientalistas e ativistas da gastronomia, Giovanna coletou respostas e ponderações e, assim, consegue propor soluções e caminhos para que o país consiga se livrar dos agrotóxicos. O resultado são quatro episódios do podcast, e dois deles já estão disponíveis nas principais plataformas de streaming.
A apresentadora conversou com VEJA Rio sobre o processo de pesquisa e produção da nova temporada. Confira abaixo:
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Nesta temporada, você buscou descontruir ideias sobre agricultura e alimentação que estão por aqui desde os tempos da ditadura. qual descoberta mais te chocou?
A investigação começa com a ideia muito popularizada de que o Brasil é um celeiro que alimenta o mundo. Apesar do país ser um grande produtor de alimento, isso é mais uma força de expressão. Esse slogan nasceu durante a Era Vargas, marcada por um salto de desenvolvimento econômico, pela criação da nossa querida CLT… Mas não podemos nos esquecer que foram tempos de autoritarismo. E que todo governo autoritário tem essa estratégia de apostar na construção de uma “identidade nacional brasileira”. Dessa época surgiram expressões conhecidas até hoje, como “Brasil, o país do samba”, ou “Brasil, a terra do Carnaval”… E, no meio dessas, tinha uma que servia pra destacar a importância do setor agrícola brasileiro. Sabe qual? “Brasil, o celeiro do mundo”. Só que isso é uma mentira, o agro brasileiro não alimenta o mundo. E esse modelo de agricultura depende muito do agrotóxico, e é bastante destrutivo para o país, tanto em desmatamento, contaminação ambiental e adoecimento dos trabalhadores e populações.
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Como você dividiu os episódios e qual foi o mais desafiador de pesquisar ou gravar?
A gente pede para o ouvinte imaginar uma árvore, na qual o tronco é a reforma agrária e cada galho representa uma solução para uma alimentação mais saudável. Todas as soluções apontadas já existem, já estão acontecendo, mas precisam se fortalecer pra sobrepor ao modelo da monocultura. O mais desafiador foi o primeiro episódio, quando afiamos o tom, a linguagem e como a gente prende a atenção do ouvinte até o fim da temporada. Esse é um desafio grande, pois falar de agrotóxico, assim como qualquer outro tema apocalíptico naturalmente já afasta os ouvintes, mas a nossa sacada foi ser didático, informativo, numa linguagem acessível e sempre captando pela curiosidade, como vídeos, entrevistas.
Por que o Brasil segue sendo refém dos agrotóxicos? Existe uma luz no fim do túnel em relação a isso?
Somos reféns da estrutura na qual o Brasil foi construído ao longo dos anos, com a Revolução Verde que ocorreu na Ditadura Militar, a ideia de desenvolvimentismo que vem junto com destruição ambiental. E também somos reféns por conta do lobby dos setores ruralistas e do colonialismo no âmbito internacional. Diversos países do Norte Global já proibiram uma série de agrotóxicos e têm leis muito rígidas em relação a isso, porém continuam a comercializar esses produtos aqui, no Sul Global.
Qual é a grande dificuldade dos alimentos orgânicos passarem a ser produzidos em larga escala?
O mais interessante é que já temos saídas, soluções e inclusive capacidade em produzir alimentos saudáveis em uma escala maior, porém falta vontade política para implementá-las, falta apoio financeiro, fiscal e criação de políticas específicas voltadas pro incentivo da produção sem veneno.
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Qual dica você dá para quem deseja ter atitudes mais sustentáveis no dia a dia mas não sabe como começar?
Olha, a alimentação pode ser um ótimo início. Se a gente se organizar, consegue comprar diretamente de pequenos produtores locais, que estão por toda parte nesse país. Já existem opções de cestas orgânicas que são entregues em casa, além de feiras que te conectam diretamente com produtores de alimento. O empecilho para a sustentabilidade é que, na maioria das vezes, acabamos indo pelo caminho mais prático, o dos supermercados. A mudança precisa de planejamento, força de vontade, mas quando conseguimos incluir esses novos passos no dia a dia, cria-se uma rotina e tudo fica mais fácil. Alimentar-se de maneira saudável é um bem que você faz para o meio ambiente, para a sua saúde, para a cadeia de agricultores que queremos ver crescer….