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Esporte ou não, a questão é como transformar o Rio em capital dos e-sports

Cidade quer abocanhar uma fatia do profícuo (e divertido) universo dos jogos eletrônicos; prefeitura inova criando coordenadoria voltada à ambiciosa meta

Por Paula Autran
24 mar 2023, 06h00
De volta ao Rio: um dos maiores campeonatos mundiais de Counter-Strike será em abril
De volta ao Rio: um dos maiores campeonatos mundiais de Counter-Strike será em abril (Lucas Garcia/Divulgação)
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No início do ano, a recém-­empossada ministra do Esporte, Ana Moser, levantou uma bola que acabou cortada pelo prefeito Eduardo Paes do lado oposto da quadra. A ex-jogadora de vôlei é do time que defende o que pretende estabelecer a Lei Geral do Esporte, em tramitação no Senado desde 2017: o texto define como esporte “toda forma de atividade predominantemente física que tenha por objetivo atividades recreativas, a promoção da saúde, o alto rendimento ou o entretenimento”. Tal classificação deixa de fora os jogos eletrônicos, por serem de natureza mais intelectual, tese que a ministra encampou ao comparar o treino de atletas dos chamados e-sports com o da cantora Ivete Sangalo. Mas Paes, ciente de que está em jogo um mercado nacional que movimenta 13,2 bilhões de reais, puxou a bola para si e anunciou a criação de uma coordenadoria voltada para uma ambiciosa meta: transformar o Rio na capital dos e-sports no Brasil.

AfroGames: primeira equipe profissional do mundo de e-sports dentro de uma favela
AfroGames: primeira equipe profissional do mundo de e-sports dentro de uma favela (AfroGames/Divulgação)

Não será um duelo fácil. Quinto no ranking global em número de e-­jogadores, o país ainda detém outra marca que dimensiona o potencial dos games por aqui: três em cada quatro brasileiros que usam a internet são adeptos dos jogos eletrônicos. Não há dados por estado, mas sabe-se que São Paulo abocanha quase todo o mercado. “Os games brasileiros se criaram ali, onde estão as desenvolvedoras e donas dos jogos. Agora, o Rio está dando um passo inicial nessa direção”, avalia o jornalista especializado no tema Chandy Teixeira, escalado pelo prefeito para ser o coordenador de Games e E-sports do Rio. “A cidade tem a tradição dos jogos eletrônicos, que surgiram por aqui quando jovens cariocas formaram a Organização Made in Brazil (MIBR), numa lan house do Leblon, a Challenger, no início dos anos 2000”, lembra.

Chandy Teixeira: escalado pelo prefeito para captar eventos e investidores
Chandy Teixeira: escalado pelo prefeito para captar eventos e investidores (Marcos de Paula/Prefeitura do Rio de Janeiro)

O trabalho de emplacar o Rio no topo de tão profícuo nicho exige planejamento. Há um mês no cargo, Chandy já está traçando estratégias. Três pilares vão guiar a investida, a começar pela atração de grandes eventos, que não sejam apenas competições, mas feiras ligadas aos games. Em outra frente, o esforço será para universalizar a prática dos e-sports, promovendo inclusão digital, e oferecer vantagens para que empresas do setor se instalem nestas praias. O primeiro objetivo já foi abraçado pelo Rio Convention & Visitors Bureau, empenhado em captar novos eventos, como o Intel Extreme Masters Rio Major, tido como um dos maiores campeonatos mundiais de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), que no ano passado levou cerca de 3 500 fãs para acompanhar as primeiras etapas no Riocentro e 14 000 para a reta final, na Jeunesse Arena. “Em abril, o Rio será palco novamente da competição, uma das mais relevantes no calendário dos games, o que mostra que a receptividade foi altamente positiva”, diz a diretora-exe­cutiva do Rio CVB/VisitRio, Roberta Werner.

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Os jogos eletrônicos andam tão em alta por aqui que o “Game+”, que nasceu como uma conferência de um único dia na edição do ano passado do Rio2C, em 2023 ganhará um palco exclusivo, justamente pelo imenso sucesso do tema no megaevento dedicado a negócios na indústria criativa, que movimenta anualmente centenas de milhões de reais nos setores de audiovisual, inovação e música. Em seis dias, o palco reunirá publishers, criadores, influencers, streamers, organizadores de ligas, times, artistas, grandes marcas e ainda a legião de fãs que gira em torno desse ascendente universo. “O Rio já traz no DNA a cultura do esporte e um vigor nos mercados audiovisual e de música. E os e-sports estão se revelando uma parte importante dessa engrenagem”, afirma o criador e CEO do Rio2C, Rafael Lazarini. Como ele, mais gente aposta que a cidade reúne as condições para se converter na capital brasileira dos jogos eletrônicos. “O Rio parece ser a primeira cidade a compreender o potencial dessa indústria ao criar uma coordenadoria específica”, enfatiza Leandro Valentim, curador de games e e-sports do Rio2C.

e-sports
(./Divulgação)

Numa trilha de superação de desafios, os games também deram um bom empurrão ao esforço de inclusão social de jovens de comunidades cariocas de baixa renda. Em 2019, o Grupo Cultural AfroReggae e a Chantilly Produções criaram o AfroGames, primeira equipe profissional de e-sports no mundo dentro de uma favela, que conta com um centro de formação de e-atletas com alto potencial competitivo em diferentes segmentos. Hoje, já há núcleos do projeto em outras quatro comunidades, como Vigário Geral e Nova Holanda, no Complexo da Maré, atendendo um total de 500 jovens a partir de 12 anos. Os e-atletas recebem acompanhamento psicológico, treinamento físico e bolsa atleta mensal de um salário mínimo. “A gente ensina não apenas a jogar, mas a programar, criar trilhas sonoras, e oferecemos aulas de inglês, que também abre portas para os que queiram seguir outras carreiras”, conta o coor­denador-executivo William Reis. Esporte ou não, investir nessa pujante indústria só pode levar o Rio a ganhar.

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Muito além dos games
Outros temas em alta na programação do Rio2C

Jantje Friese e Baran bo Odar
Jantje Friese e Baran bo Odar (Netflix/Divulgação)

Não só os jogos on-line vão marcar presença no que é considerado o maior encontro de criatividade da América Latina. Retornando à Cidade das Artes, de 11 a 16 de abril, o Rio2C contará com palestrantes como os criadores da série Dark, o casal alemão Jantje Friese e Baran bo Odar, o cineasta Fernando Meirelles, o escritor futurista Brett King, o CEO e presidente para mercados internacionais da Paramount, Pam Kaufman, e a cantora Ludmilla. Em seis dias, 35 000 pessoas devem se reunir em torno de 500 painéis. Nos palcos, outro tema novo em destaque é o do Arts & Crafts, dedicado a design, moda e arquitetura. Há ainda espaços voltados para transformar ciência em entretenimento (o Brains­pace) e para conectar o show business da música com assuntos atuais e urgentes, como streaming e direitos autorais (o Soundbeats). É criatividade na veia.

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