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Quais são os artistas que Zé Ricardo sonha em trazer para o Rock in Rio

Promovido a vice-presidente artístico do festival, ele é responsável por quase toda a curadoria

Por Kamille Viola
Atualizado em 22 set 2024, 19h25 - Publicado em 19 set 2024, 23h50
Zé Ricardo sentado, sorrindo, de blusa preta
Zé Ricardo: trazer Adele é um sonho do vice-presidente artístico do festival (./Divulgação)
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Responsável pela curadoria e do Espaço Favela nas edições anteriores do Rock in Rio, Zé Ricardo foi promovido a vice-presidente do Rock in Rio em 2024. Ou seja: agora a curadoria de quase todos os palcos passa por ele.

Em entrevista exclusiva a VEJA Rio, o artista e produtor musical revelou que artistas sonha em trazer para as próximas edições do evento e falou sobre a grande responsabilidade que passou a ter, entre outros assuntos.

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Este ano você virou vice-presidente artístico do festival, o que muda para você?

Aumenta muito a minha responsabilidade, porque eu acho que um diretor artístico, um curador propõe coisas. Eu virei vice-presidente artístico festival para propor coisas para todos os palcos, eu fazer isso no Espaço Favela e no Sunset, agora eu estou fazendo propostas artísticas para todos os palcos. Eu faço o Palco Mundo em parceria com o Luis Justo, que é o nosso CEO, e com o Roberto Medina. O Claudinho [Claudio Rocha Miranda) faz o palco de eletrônica a partir de um conceito que eu proponho para ele também, ele cria um line-up brilhante, mas o resto todo sou eu fazendo sozinho, então a responsabilidade é muito grande e a necessidade de me reiventar enquanto o homem é muito importante porque, eu tenho que ter 20 anos para programar uma noite de trap, e tenho que ter 83 anos para trazer uma conversa com Ney Matogrosso que possa ser interessante para ele a ponto de ele querer fazer um show diferente para o Rock in Rio. Se você ficar numa cadeira da sua idade, se eu não descer fora lá sentar com o Matuê, com o Orochi sair para almoçar com eles, entender a realidade deles, qual é a conversa, qual é a narrativa dessa comunidade trap, por que ela é tão forte, tão avassaladora na juventude…

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Na edição passada, você falou que você sonhava em trazer a Marisa Monte e a Lady Gaga para o festival. Tem algum outro artista que você adoraria ver no evento?

Nossa, são muitos, né?

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Mas um que que você vá tentar primeiro.

Adele. E o Caetano, é um artista que eu sonho demais em ter no Rock in Rio, e eu acho que a relação dos artistas nacionais com Rock in Rio vai ficando mais sólida a cada ano, ela vai ficando cada vez mais poderosa, e eu acho que a gente está fazendo com que todos os artistas nacionais percebam que o Rock in Rio é uma plataforma que pode catapultar até artistas consagrados, né? Você pega um artista super consagrado como a Ludmilla, ela faz um show daquele que ela fez na Sunset no ano passado e a carreira dela voa internacionalmente. Então a minha ideia é tentar cada vez mais propor essas coisas, é trazer shows exclusivos, fazer com que os artistas aproveitem dessa plataforma que é o Rock in Rio e entreguem shows espetaculares.

Você tinha falado que o Palco Sunset ia ganhar mais protagonismo, até teve uma certa polêmica quando vocês anunciaram uma Mariah [Carey], porque os fãs acostumadas com a ideia de o Sunset ser secundário. Você acha que realmente a ideia pegou, deu certo?

Quando a pessoa fala que tal artista tinha que estar no Palco Mundo, eu acho ótimo, ela está valorizando demais o conteúdo de um palco. Um festival não é sobre um palco, é sobre vários palcos e uma narrativa, uma proposta completa, para que a pessoa tenha várias opções. Nenhum show de arena único de um artista um dia vai conseguir superar a experiência de um festival, porque um festival é sobre o que você não sabe que quer festival, você entra ele e sai com coisas que não tinha antes. Eu acredito muito que um o Palco Sunset que tem entregado alguns dos shows mais icônicos da história da música dos últimos anos, e ele tem um crescimento que é natural, ele foi ficando gigante pelo conteúdo. Agora, fã é fã, e rede social é rede social. Você bota Pedro, o cara quer Paulo; você bota Paulo, e o cara fala ‘esperava mais’. Você anuncia a Ivete, o cara fala ‘cadê o hip hop, cadê o rock?’, você divulga Metallica, e o cara: ‘Ah, esse festival não sabe programar, como é que não tem Ivete?”. Curadoria é isso. O Rock in Rio não é do Roberto Medina nem da família Medina, ele é do povo, o cara quer fazer um Rock in Rio para ele, quer montar um line-up com todas as pessoas que ele quer ver.

Nesta edição, até agora, teve algo que te surpreendeu positivamente, que foi melhor do que você esperava?

Tive algumas confirmações. Uma foi essa, que o line-up ia lotar às três e meia da tarde. Outra foi que o Espaço Favela ia ser um grande estouro, uma grande explosão, por conta da diversidade, da pluralidade, das propostas, das misturas.

Que inclusive foi polêmico quando surgiu e que, passadas algumas edições, se estabeleceu?

A polêmica acontece porque é muito difícil você mudar um paradigma de olhar da sociedade sobre alguma coisa. O Espaço Favela está no Rock in Rio para ampliar o olhar da sociedade sobre o que é a favela, para que as pessoas parem de pensar que favela é só um negócio errado em cima do morro, né? Favela é potência, criatividade, existem artistas incríveis nasceram da favela, o espaço dela está ali pra potencializar a cultura e a arte dela, para fazer com que as pessoas pensem. E outra: você vai olhar, tem artista de favela espalhado em todos os palcos. O Espaço Favela é só um chamariz para reforçar a atenção que a sociedade precisa ter aos talentos que vêm da comunidade.

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A gente teve duas polêmicas nesta edição: o sertanejo e a questãos dos artistas da região Norte, que reclamaram de não estar nas primeiras escalações do festival divulgadas. Como você lidou com isso?

A gente vive no mundo onde qualquer pessoa renomada, se fizer um post, aquilo vira verdade. Se você olhar, no line-up está cheio de artista do Norte, eles só não foram anunciados naquele dia. Em 2019, eu fiz um show chamado Pará Pop, quando eu trouxe Fafá de Belém. Naquele show, a gente hasteou uma maneira do Pará de 3 metros de altura, eu fiz uma coletiva de imprensa só para isso no Bar da Dona Onça, em São Paulo, levei imprensa de todo o Brasil para falar sobre o Pará, nós fomos capa de jornal. E eu sempre tive a Gaby Amarantos e outros artistas do Norte na minha programação. Aí na última edição do Rock in Rio, a gente fez uma arena olímpica da Amazônia, com aparelhagem, com tudo, por que não teria, então? E por que a polêmica é lançada sem um telefonema, ‘vem cá, Zé, vi uns anúncios aí. É isso mesmo, não vai ter nenhum artista do Norte?’. Eu ia dizer: ‘Não porra, claro que tem, eu só não anunciei aqui. Liga lá para os Suraras do Tapajós, para o Victor Xamã, para a Gaby Amaranto. Então eu achei uma discussão vazia.

Você ficou chateado com as pessoas envolvidas?

Não é que eu fiquei chateado: fiquei surpreso, entendeu? Porque não faz sentido, é a mesma coisa que eu anunciar o line-up e a pessoa falar: “Um absurdo, o Zé Ricardo não bota artista de favela!”. Todos nós erramos acertamos e tal, mas porra, faz uma crítica em cima de uma coisa que é verdade. Eu falei numa coletiva na Cidade das Artes, para 120 jornalistas, não sei se você estava lá…

Não.

Eu falei: “Olha, só estamos lançando alguns nomes do Dia Brasil. Esse é só o começo. Vem muito mais surpresa por aí.” Eu acho que tem tanta coisa com para criticar, mas vem com base, não com uma coisa vazia.

E o sertanejo?

Foi assim: o Roberto Medina teve a ideia de fazer um Dia Brasil, homenageando a música brasileira. E coube a mim conceituá-lo, então eu aproveitei a nossa campanha de “40 anos e para sempre” e peguei ritmos que são predominantes, importantes, porque não daria para homenagear a todos. Fazendo uma autocrítica, pensei: estão quase todos aí, falta a música sertaneja, que é predominante para 50% do Brasil, no mínimo, né? E como trazer a música sertaneja com os ícones, os as pessoas que criaram isso, num encontro geracional? São gerações diferentes sendo recebidas pelos mestres é uma maneira do Rock in Rio fazer uma homenagem a um estilo que é predominante na música e que nunca teve presente no festival. A minha expectativa desse show é grande, porque montei o repertório com o Xororó, conversamos muito sobre isso, vai ser um show muito emocionante. Essa construção trazer Orquestra de Heliópolis também foi uma provocação. Então é aquilo que eu te falei: curadoria,  proposta, muita gente vai gostar, muita gente não vai gostar. O importante é você fazer uma coisa com uma ideia, os meus projetos têm uma alma, uma ideia, uma narrativa.

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Falando no Dia Brasil, esse formato de encontros foi uma coisa que não vou dizer que você inventou, mas você trouxe muito no Sunset, os encontros inusitados. Particularmente, vejo você como uma pessoa que ajudou, por exemplo, a reposicionar a imagem da Alcione, que era uma muito criticada desde que foi para a música romântica, e você começou a aproximar ela da juventude. Esse modelo dos feats no palco foi algo em que você insistiu e isso estourou, hoje é quase que obrigatório nos festivais aqui no Brasil. Como vê o fato de ter apostado em algo que influenciou tantos outros projetos?

Os encontros sempre existiram, mas eu acho que o que aconteceu aqui foi uma uma proposta de um formato que é acabou se tornando muito forte, porque ele era muito provocativo, ele alcançava as pessoas em lugares diferentes . Não são, nunca foram encontros vazios. Alguns piores, outros melhores, mas todos os encontros tinham uma história, uma narrativa, foi isso que levou o Sunset ao sucesso. Não tem nada mais gratificante para um profissional do que quando você percebe que o seu trabalho inspira outros trabalhos de alguma forma. Saber que os festivais estão adotando isso como um formato também é… Não é que eu tenha inventado os encontros, mas a coragem que eu tive na hora de propor aqui ajudou a levar a gente para outros lugares.

Você recebe muito pedido para tocar no Rock in Rio, muito material de artista? Como é isso?

O difícil para mim é quando um ídolo meu, que eu amo, que eu escuto no meu carro, que eu escutei minha vida toda me liga para tocar no Rock in, Rio e às vezes eu não posso convidar, não por pelo talento, mas porque não cabe no line. Eu não sou uma pessoa que recebe muito material, porque eu não quero nunca receber o material de um artista e não escutar, mas seria impossível receber todos os materiais e estudar. Então eu faço minha curadoria pesquisando, olhando, ouvindo conversando com o menino da limpeza, com o presidente do banco, um menino de 10 anos, um menino de 20, com um cara de 80. Eu faço minha curadoria ouvindo e quando nomes começam a chegar até mim através da imprensa, que é uma grande parceira na construção dos meus line-ups, e através de pessoas de perto de mim. Eu fico mais seguro para para trazer um artista, porque é uma responsabilidade muito grande, porque eu posso consagrar ou acabar com a carreira dele.

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