“O entretenimento é o novo turismo”, diz Duda Magalhães, da Dream Factory
Com recorde de 60 000 inscritos na Maratona do Rio, o presidente da Dream Factory reforça a vocação carioca para grandes eventos

No final de novembro do ano passado, quase meio milhão de pessoas entraram em uma fila virtual para comprar ingressos. Não se tratava do show de um grande nome internacional, como aconteceu com a cantora Taylor Swift e a banda RBD — estavam abertas as inscrições para a Maratona do Rio, que bateu recorde e terá 60 000 corredores no próximo mês. A empresa por trás do maior festival de corridas da América Latina é a Dream Factory, que também cuida do Carnaval de rua e promove cerca de quinze grandes eventos na cidade anualmente.
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Um deles é a ArtRio, do qual tornou-se integralmente responsável com a saída da idealizadora Brenda Valansi. Desde 2008, quem está à frente de toda a operação é Duda Magalhães, 46 anos, um grande apaixonado pelo entretenimento ao vivo. “É como uma sessão de terapia em grupo, deixou de ser apenas lazer e virou um remédio”, acredita. Em entrevista à VEJA RIO, o empresário deu pistas do que podemos esperar nos próximos meses no Rio.
O que explica o tamanho atingido pela Maratona do Rio em 2025? A pandemia causou uma mudança de hábitos, evidenciando as atividades ao ar livre, e fazendo o mercado de corrida de rua crescer. Em 2023, tivemos uma demanda muito maior do que a oferta de vagas, que se confirmou no ano seguinte, até chegar em 420 000 interessados nas 60 000 inscrições este ano. Em 2008, quando entramos na sociedade, estabelecemos o plano de estar entre as principais provas do mundo e estamos caminhando para isso.
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Por que correr no Rio se tornou tão disputado? A gente tem o maior pano de fundo do mundo para uma corrida de rua. Percorrer 42 quilômetros passando por pontos turísticos que são ícones globais, em uma época muito favorável, durante um feriado prolongado, é o motivo perfeito para vir para cá com a família. Não por acaso, 85% dos inscritos não são do Rio.
Projetos como a Maratona e o Todo Mundo no Rio têm movimentado a economia da cidade. Este é o caminho? O entretenimento é o novo turismo. Antes, o turismo se restringia a divulgar nossas belezas naturais. Existe esse outro caminho que é setorizar a pluralidade carioca: esporte, gastronomia, aventura e entretenimento, desde uma final da Libertadores no Maracanã até um show internacional na Praia de Copacabana.
É uma tendência que os eventos esportivos se expandam, com várias atrações? Tem alguns anos que começamos a fortalecer as experiências nos nossos eventos. Na Maratona do Rio, colocamos shows, feiras, lojinhas com produtos oficiais e DJ depois da linha de chegada. Também ampliamos as provas para acontecerem de quinta a domingo. E assim nos tornamos o maior festival de corridas de rua do mundo.
O futuro do mercado de eventos é seguir essa grandiosidade ou a tendência é voltar para algo mais intimista? Não podemos ter uma linguagem única. É muito positivo ter grandes produções, mas é necessário investir em coisas mais sensoriais e exclusivas. A beleza da economia criativa é que ela não se empacota em um único modelo.
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Como ainda emocionar pessoas em tempos tão digitalizados? Escolhi trabalhar com isso aos 18 anos quando entendi o poder do estímulo ao vivo, daquela fagulha que faz o queixo tremer. Sou filhote da terapia, que infelizmente não é um instrumento acessível para todos, e acredito que um grande evento é como uma sessão em grupo. Deixou de ser apenas lazer e virou um remédio. Somos veículo para esses sentimentos.
Quais os maiores desafios para produzir eventos de grande escala no Rio? A obtenção de licenças e autorizações. Depois de doze anos estamos trazendo de volta a Corrida da Ponte Rio-Niterói, uma das mais aguardadas. Vai acontecer às vésperas da candidatura das duas cidades para os Jogos Pan–Americanos. Ainda não divulgamos datas porque estamos nesse longo processo burocrático, que é necessário, mas poderia ser mais simples.
A ArtRio será toda realizada por vocês. De que forma pretendem manter a essência? Mantivemos o time que está lá desde a fundação. A Brenda Valansi é insubstituível, não temos intenção de colocar uma pessoa no lugar dela. Foi criado um modelo de gestão muito profissional, ancorado na expressão artística, no encontro da sociedade para contemplação da arte que estimula o colecionismo. E que agrada também as galerias, que precisam comercializar. Estamos agora em diálogo com a prefeitura para criar um circuito maior de artes durante esse período, com outros eventos que se retroalimentam na mesma semana.
Qual projeto da sua trajetória te marcou mais até hoje? A Jornada Mundial da Juventude, que foi o maior evento organizado no Rio até então. A relação com um cliente tão peculiar como a igreja me desafiou muito. Foi uma megaoperação que envolveu todos os níveis de governo e eu tinha só 33 anos, um orçamento muito relevante e um desafio operacional e logístico gigantesco. Isso sem falar na chuva histórica que caiu e nos fez mudar a missa fnal de Guaratiba para Copacabana em 36 horas.
Você já viveu muitos desafios nesse sentido? Vários. Eu participei da vinda do Lenny Kravitz em 2005, mas, anos antes disso, fiz um evento corporativo em que ele participaria. Meu trabalho era buscá-lo no aeroporto. O cara me fez ir lá três vezes, de madrugada, sem nunca chegar. Mas tudo ficou perdoado depois do show histórico que ele fez na Praia de Copacabana (risos).