Receita de Dani Calabresa: “Piada combina com liberdade”
Prestes a comandar reality gastronômico do GNT, comediante fala de tudo, inclusive da denúncia de assédio contra o ex-diretor da TV Globo Marcius Melhem
Sem nenhuma experiência na cozinha, Dani Calabresa foi parar no comando do novo reality gastronômico do GNT, Que Bela Pizza, no ar a partir de setembro. “Eu não sei quebrar um ovo. Como eles ficaram tranquilos comigo perto de facas e fornos?”, brinca. Se as receitas não são seu forte, comer pizza e fast food, isso sim, é sua especialidade. “Meu paladar é infantil, não sou dos legumes”, explica. Dani Giusti virou Tia Calabresa (incontornável motivo de piada no programa) muito antes de se tornar uma famosa comediante — quando ganhou o apelido de um colega na época em que trabalhou como recreadora infantil em um resort. Agora que acabou de gravar o reality, Dani se prepara para estrear na versão brasileira do musical Jovem Frankenstein, dirigida por Charles Möeller e Claudio Botelho, que chega em agosto ao Teatro Multiplan, na Barra. Às vésperas de breves férias na França com o marido, o publicitário e hoje seu empresário Richard Neuman, a humorista concedeu a VEJA RIO uma entrevista em que falou de tudo — inclusive da denúncia de assédio feita contra o ex-diretor da TV Globo Marcius Melhem.
Com tantos realities e programas de culinária na TV, como inovar em mais uma atração do gênero? Acho muito ousado terem me colocado para comandar um reality de comida. Não sei nem quebrar um ovo. Fora isso, é o primeiro reality de pizza, e com uma apresentadora mulher e comediante.
Sua relação com a comida é boa? Olha, tenho um paladar quase infantil. Gosto de pizza, hambúrguer, batata frita, nugget, e não sou dos legumes, não. Também funciono na base da compensação. Se tiver um dia ruim, eu como uma coisa gostosa para me fazer um carinho. Quando estou feliz, quero comer para comemorar.
Sente-se agraciada pela sorte por comer sem culpa? Quase. Estou sempre com rinite, sinusite, alergia, imunidade baixa, prisão de ventre e já tive pedra no rim. Estou entendendo mais do que nunca que a alimentação é importante para a saúde. Já comecei a beber mais água e jogo umas folhinhas verdes em cima do polpetone.
Como é ter o marido como empresário? Está dando certo. O Richard é publicitário, muito criativo, produtivo, gosta de planejamento, de resolver problemas. Tenho muito amor pela arte, mas também tenho muitas inseguranças, e ele me incentiva bastante.
Foi difícil lidar com as críticas que recebeu pela internet durante a sua participação no BBB23? No começo, sofri mais, mas, depois, entendi que a internet é onde as pessoas expressam suas insatisfações. Não dá pra achar que o Twitter é o nosso termômetro. Somos avaliados em tantas camadas — pesquisa, Ibope, direção — para, do nada, aparecerem trinta tuítes falando: “Chata, sem graça, prefiro o Portugal”. Isso não é uma crítica. Esse chororô do Twitter não muda nada.
“Existe um preconceito contra os comediantes, como se não fossem atores de verdade. Fazer rir é até mais difícil”
Acha que os humoristas ainda são vistos como artistas de segunda classe na TV brasileira? Existe, sim, um preconceito contra os comediantes, como se não fossem atores de verdade. Nós somos, sim. A minha geração — da Tatá Werneck, do Fábio Porchat, do Marcelo Adnet — é toda de atores. Todos se formaram e se destacaram pela comédia. Fazer rir é até mais difícil.
Qual o limite de uma piada? Respeito, essa talvez seja a palavra certa. É o que dói no outro. E isso é muito pessoal. Porém, não podemos viver nos policiando. Piada combina com liberdade criativa, com um jeito espontâneo, com energia, com empolgação, com rapidez de raciocínio. Continuo disparando coisinhas que me dão vontade. Se eu sentir que magoei alguém, não tenho problema em pedir desculpas.
A denúncia de assédio contra o ex-diretor Marcius Melhem foi um divisor de águas na TV Globo? Nunca foi a minha intenção, mas acho que foi, sim. A denúncia foi acatada, analisada pelo setor artístico e pelo setor de compliance. Eles comprovaram o comportamento inadequado e a quebra do código de ética por parte dele (Marcius Melhem), que foi demitido, e a vida seguiu. Agora, é essa guerra dele lutando sozinho, jogando bala de canhão para o céu.
Como assim? Ele quer confundir as pessoas, provar algo que não é verdade. Mas a verdade já apareceu. É uma tática de abusador tentar descredibilizar as mulheres.
De que forma isso está sendo feito? É aquele papo que estamos cansadas de ouvir de abusadores: “Ah, mas ela riu, mas ela não reclamou, mas ela estava de saia, mas ela bebeu, mas ela foi lá em casa”. Porém, nada justifica o assédio. É uma tristeza e um desgaste para as pessoas que sofreram isso ainda terem que vir a público falar e mostrar provas. Por parte dele, o que se vê são mensagens fora de contexto, várias inverdades, ameaças a pessoas, vítimas com medo de denunciar, gente que não quer tocar no assunto com medo que chegue à imprensa. É uma segunda onda de violência.
A terapia ajuda? Para mim, terapia é tudo, faço desde 2017. Quando eu não fazia, soltava os cachorros com meus amigos e minha família. Mas, quando você tem esse lugar seguro para despejar o que está te angustiando, você sai com o pensamento mais organizado. Aí acaba aquela enquete da vida: “Mãe, o que você acha?”, “Amiga, o que você acha?”. Em muitos casos, quanto mais opinião, pior.