Com método de ensino inovador, Yvonne Bezerra de Mello é Carioca Nota 10
Metodologia para alfabetização de crianças vulneráveis já foi exportada para cerca de quinze países e chegou à França recentemente

Depois de uma temporada na Europa e na África, onde estudou por anos os problemas cognitivos em crianças vivendo em países em guerra, Yvonne Bezerra de Mello voltou para o rio de Janeiro e começou a lecionar para jovens em situação de rua – projeto batizado como Escola Sem Portas nem Janelas, nascido no início dos anos 1980. Atuando em bairros como copacabana, Madureira e Méier, ela constatou os mesmos gargalos de aprendizagem que observou em ambientes de conflito.
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Até que, em 1993, um episódio mudou tudo – as oito vítimas da chacina da candelária, assassinadas por policiais militares em frente à famosa igreja no centro, eram seus alunos: “Ali no chão com eles, veio uma responsabilidade muito grande em não abandoná-los e dar continuidade ao trabalho”. Foi então que pensou em abrir uma escola, o que concretizou em 1998 no complexo da Maré, na Zona norte, conjunto de favelas conhecido pelos sangrentos embates entre polícia e facções criminosas. Batizado como Uerê (“crianças de luz”), o projeto já atendeu mais de 150 000 estudantes e sua metodologia foi exportada para cerca de quinze países, como Índia e ruanda.
A filosofia de ensino desenvolvida ao longo de todas essas décadas leva em consideração o ritmo biológico dos alunos. “Entendi como fazer funcionar o cérebro desses jovens que supostamente não aprendem”, conta. As aulas são mais curtas, no intuito de respeitar o tempo médio de concentração, fazendo com que eles não desfoquem do conteúdo passado em sala. E os mesmos assuntos são abordados de formas diferentes – através de jogos, exercícios orais e escritos, trabalhos em grupo.
“Assim a escola se torna um ambiente mais acolhedor, onde eles se sentem felizes e mais motivados”, explica. Em 2015, a Unicef reconheceu a pedagogia Uerê como uma das seis melhores do mundo para crianças em ambientes de vulnerabilidade, principalmente as refugiadas, daí o sucesso internacional. Em janeiro, Yvonne viajou para a periferia de Paris com o objetivo de transmitir seus conhecimentos para quase uma centena de educadores de rua – em sua maioria, jovens negros que atuam junto a crianças expostas a situações complexas de violência e traumas. Suas lições fazem com que muitas delas possam voltar a sonhar.