Cissa Guimarães: “A vida é uma novela”
A atriz e apresentadora voltou a atuar na série A Divisão e comanda a bancada da nova temporada do "Sem Censura", que completa quatro décadas em 2025

Em 18 de abril, Cissa Guimarães completou 68 anos e festejou com milhares de pessoas. É que a atriz e apresentadora passou a tarde do seu aniversário ao vivo, como faz de segunda a sexta, mediando as conversas do Sem Censura – atração da TV Brasil que completa 40 anos em 2025. Em seu segundo ano como âncora da atração, Cissa segue mantendo a descontração pela qual ficou conhecida nos tempos de Video Show, que apresentou por 13 anos na TV Globo, e mesmo com a rotina apertada, que quase lhe rendeu um burnout no final do ano passado, arrumou tempo para voltar a atuar na quarta temporada de A Divisão, que acaba de estrear no Globoplay.
E ela não vai parar por aí: Cissa se prepara para gravar a continuação da série do Disney+ Amor da Minha Vida, na qual viverá a mãe da personagem de Bruna Marquezine, e já tem data para voltar aos palcos com a peça Doidas e Santas, em cartaz há 15 anos. “Quero saborear meus aprendizados, com todas as minhas marcas. Ainda não me sinto uma velha, mas não quero brigar contra o tempo”, revelou a VEJA RIO, emocionando-se ao tratar de assuntos mais delicados, como a morte prematura de seu filho Rafael Mascarenhas, vítima de um atropelamento criminoso em 2010.
De que forma buscou imprimir seu estilo em um programa tradicional como o Sem Censura? Sem nenhuma falsa modéstia digo que não fz nada. O programa já está construído; o que fiz foi levar o meu jeito mais irreverente. Eu sou maluca, né? Isso talvez aproxime mais o público, entro na casa das pessoas de um jeito mais íntimo.
O ritmo das gravações é puxado? O programa me exige porque preciso estudar muito para fazer as entrevistas, e às vezes gravamos dois programas por dia. No final do ano, precisei tirar férias porque tangenciei um burnout.
Você deu um depoimento muito emocionante sobre a morte do seu filho no programa, no qual disse que nunca vai superar essa perda. Como mantém viva a memória do Rafael? Celebro a vida dele todos os dias. A elaboração que fz dentro do luto é que ele só trocou de lugar: em vez de estar aqui fora, está dentro de mim. De alguma maneira, somos ainda mais próximos. Se ele tivesse hoje com 34 anos, talvez fosse casado e com a vida dele. O Rafa me manda sinais e eu mantenho a memória dele de várias formas: colocando toda semana fores no túnel (onde ocorreu o atropelamento), tendo um altar na minha casa ou olhando a foto linda que tenho ao lado da minha cama.
Isso ajuda a aliviar a raiva e a indignação pela morte precoce dele? Nunca senti raiva. Tive – e tenho – uma dor imensa e muito profunda. Rezo para que a minha compaixão seja maior porque sinto muita pena dessa gente. Não só do rapaz, mas da família que nunca me procurou para pedir desculpas. Agora nem quero mais saber, mas gostaria de ter ganhado um abraço dessa mãe.
Na entrevista com a Renata Sorrah, vocês falaram sobre ser injusta a comparação entre as duas versões de Vale Tudo. Não é adepta dos remakes? A vida é uma novela. Temos tanta coisa ainda para contar que sou do time que prefere histórias novas. Até para não cair nessa comparação.
Falando nisso, tem vontade de voltar às novelas? Claro, é uma linguagem que adoro. Mas tudo depende do personagem. Para fazer A Divisão, no Globoplay, depois de um tempo sem atuar, fui convencida pelo meu papel (uma juíza inspirada em Patrícia Acioli, assassinada em 2011).
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Quem ainda sonha em entrevistar? Minha Fernandona, que já prometeu ir quando tiver um tempinho. Nós conversamos muito, ela é minha amiga, muito engraçada, com um humor genial e uma sabedoria ímpar. Adoraria bater um papo com ela para que todos pudessem ver.
Acredita que está no auge da sua carreira? Da minha carreira e da minha vida. O ser humano tem noção e consciência da sua fnitude, e começo a lidar com a minha velhice, mas é um processo muito enriquecedor. É como se eu estivesse começando a colher tudo o que plantei. Ainda não me sinto uma velha (risos), mas não quero brigar contra o tempo. Como diz Gilberto Gil, “o tempo é rei” – é ele que amansa as minhas dores. A propósito, assuntos como envelhecimento e menopausa ainda são tabu.
Como abrir esse debate para que as mulheres não se sintam tão sozinhas nessa fase? Falamos muito sobre etarismo no Sem Censura, abordando como a pressão social sempre é menor para os homens. A saúde mental das mulheres está sofrendo muito com isso. Como assim não podemos envelhecer? Quero saborear meus aprendizados, com todas as minhas marcas. Com o meu corpo – que não é mais tão lindo quanto aquele que posei para a revista Playboy, mas é o de uma mulher madura e experiente, que sabe muita coisa da vida.
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Recentemente, o seu relacionamento com o cantor baiano Denny Denan virou notícia. Sente que ainda existe preconceito com mulheres que namoram homens mais jovens? Isso foi uma paixão de verão maravilhosa, agora somos grandes amigos. Esse preconceito existe, mas não dou bola porque quem tem que saber disso sou eu e ele. É engraçado que homens mais velhos com meninas mais moças não passam por isso…
Doidas e Santas vai completar 15 anos em cartaz. O que a peça tem para durar tanto tempo, ainda lotando as plateias? Pode acontecer qualquer coisa, qualquer governo, e o teatro não vai morrer nunca. As plateias estão lotadas. No meu caso, o texto do espetáculo adaptado do livro de Martha Medeiros poetisa o cotidiano e isso aproxima as pessoas. Chico Buarque que me perdoe, mas “todo dia ela faz tudo sempre igual” é uma falácia. A gente banaliza a nossa rotina, mas cada dia tem a sua beleza.